Retaliação. Pequim encerra consulado dos EUA em Chengdu

por RTP
Um funcionário retira a placa que assinalava o consulado dos EUA na cidade chinesa de Chengdu, a 26 de julho de 2020 Reuters

Face à decisão de Washington, de encerrar o consulado chinês em Houston, Estados Unidos, por suspeitas de espionagem, Pequim retaliou e fechou o consulado norte-americano na cidade de Chengdu, capital da província chinesa de Sichuan.

O encerramento efetuou-se durante a madrugada, quando a bandeira dos Estados Unidos foi arriada, e levou à interdição das ruas nas imediações.

De acordo com um comunicado do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, o consulado dos EUA em Chengdu fechou às 10h00 da manhã, ao fim de 72 horas dadas aos norte-americanos, exatamente o mesmo período antes concedido por Washington.

"As autoridades chinesas apropriadas entraram então pela porta principal e tomaram posse do edifício", referiu o texto, publicado pelo Ministério na rede social chinesa Weibo.

O encerramento foi igualmente confirmado por fonte do Departamento de Estado. À CNN, um porta-voz referiu que o consulado fechou às 10h00 locais, devido à "retirada de consentimento operacional", por parte das autoridades chinesas.

Os diplomatas e suas famílias estacionadas no consulado de Chengdu irão deixar a China até 27 de agosto, acrescentou.
Inaugurado por George Bush em 1985
Chengdu era um importante posto diplomático norte-americano e cobria uma grande parte do país, incluindo a região autónoma do Tibete.

O Departamento de Estado norte-americano lamentou a retaliação chinesa.

"O consulado tem estado no centro das nossas relações com os povos da China ocidental, incluindo o Tibete, ao longo de 35 anos", referiu um porta-voz, citado pela CNN.

"Ficámos desapontados com a decisão do Partido Comunista Chinês e continuaremos a fazer todos os esforços para continuar a tentar chegar as pessoas nesta importante região, via os nossos outros postos na China", acrescentou.

Esta segunda-feira, a Missão dos EUA na China publicou na rede Twitter imagens da inauguração do consulado pelo então vice-presidente George Bush em 1985, antes de uma lista das áreas abrangidas pela missão diplomática, incluindo o Tibete.

"Hoje, despedimo-nos oficialmente do consulado geral norte-americano em Chengdu. Iremos sentir a vossa falta para sempre", referia ainda a comunicação oficial da missão dos EUA.

O encerramento desta madrugada culmina uma série de procedimentos adotados durante o fim-de-semana, testemunhados por centenas de habitantes da cidade de 16,5 milhões de pessoas, que, ao longo dos dois dias, se reuniram frente ao edifício para tirar selfies, agitando bandeirinhas chinesas.

No sábado, a insígnia norte-americana foi retirada da fachada e domingo o conteúdo do edifício foi colocado em contentores, enquanto decorriam trabalhos para remover uma placa colocada no exterior do consulado.
Novo capítulo de tensão
A mais recente crise começou terça-feira passada, quando Washington ordenou à China para "cessar todas as operações e eventos" no seu consulado de Houston.

Na base da ordem, acusações de que a missão chinesa seria o posto de coordenação de atividades de espionagem a instituições de investigação norte-americanas.

Sexta-feira, responsáveis norte-americanos referiram à imprensa que o pessoal diplomático chinês em Houston "esteve diretamente envolvido em comunicações com investigadores e guiaram-nos quanto à informação a recolher".

De acordo com a CNN, um alto funcionário do Departamento de Estado referiu que a ideia de encerrar o consulado em Houston surgiu durante a primavera, depois da China ter interferido no regresso de pessoal norte-americano ao consulado de Wuhan para recuperar materiais diplomáticos.

O prazo dado pelos norte-americanos para o encerramento do consulado de Houston expirou sexta-feira. Agentes federais norte-americanos foram depois vistos a entrar no complexo em carrinhas brancas e em SUV negros.

Sábado, Pequim acusou a polícia dos EUA de invasão indevida de consulado. Anunciou entretanto o encerramento da missão diplomática norte-americana em Chengdu.


O encerramento dos respetivos postos diplomáticos é mais um sinal do agravamento nas relações sino-americanas.

O Ministério dos Negócios Estrangeiros da China considerou o encerramento do consulado de Houston como uma "escalada sem precedentes" na tensão que se tem vindo a agravar entre os dois países, e apontou o dedo aos Estados Unidos.

"A atual situação entre a China e os Estados Unidos é algo que a China não quer ver e a responsabilidade é inteiramente dos Estados Unidos", afirmou o Ministério em comunicado.Apelo ao "mundo livre"
As relações entre Pequim e a atual Administração norte-americana têm conhecido momentos de alta tensão, suscitados por uma guerra comercial e tarifária, alegações sobre a responsabilidade chinesa na atual pandemia de Covid-19 e críticas aos abusos de Direitos Humanos tanto em Hong Kong como em Xinjiang, negadas pelo regime comunista chinês.

O encerramento dos consulados marca um novo capítulo, marcado pela admissão de um habitante de Singapura que admitiu ter espiado para Pequim nos Estados Unidos.

Quinta-feira, o atual secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, apontou o dedo ao que chamou décadas de política falhada para com a China.

"Tal como o Presidente Trump tem tornado muito claro, precisamos de uma estratégia que proteja a economia norte-americana e na verdade o nosso modo de vida. O mundo livre tem de triunfar sobre esta nova tirania", afirmou.

"A verdade é que as nossas políticas - e as de outras nações livres - ressuscitaram a fraca economia chinesa, só para ver Pequim morder as mãos internacionais que a alimentavam. Abrimos os nossos braços aos cidadãos chineses, só para ver o Partido Comunista Chinês explorar a nossa sociedade livre e aberta", acusou ainda Pompeo.

Especialistas alertaram para o impacto negativo do encerramento das duas missões diplomáticas, que deixam ambos os países vulneráveis a mal-entendidos que podem agravar ainda mais as tensões.
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