Retaliação. Paquistão lança mísseis contra "grupos armados" em território do Irão

por Carlos Santos Neves - RTP
Operacionais das forças de segurança paquistanesas num posto de controlo em Quetta, a capital provincial do Baluchistão Fayyaz Ahmed - EPA

Um ataque com mísseis desencadeado esta quinta-feira pelo Paquistão fez pelo menos nove mortos no sudeste do Irão, perto da linha de fronteira entre os dois países. A ação da Força Aérea paquistanesa, que, segundo Islamabad, visou "esconderijos terroristas", seguiu-se a um bombardeamento iraniano na província do Baluchistão.

"O Paquistão atacou uma aldeia perto da fronteira com mísseis", avançou a televisão estatal do Irão.

Também a agência iraniana Irna deu conta de explosões, durante a madrugada, no sudeste do Irão: "Várias explosões foram ouvidas em várias zonas em torno da localidade de Saravan".

Por sua vez, o Ministério paquistanês dos Negócios Estrangeiros confirmou que a Força Aérea levou a cabo operações de retaliação contra o Irão.Na terça-feira, um ataque iraniano causou as mortes de duas crianças no Baluchistão, província do sudoeste do Paquistão.

"Posso apenas confirmar que efetuámos ataques contra grupos armados anti-Paquistão e que tinham como alvo o Irão", adiantou fonte dos serviços secretos paquistaneses, a coberto do anonimato, em declarações à agência France Presse.

O ministro iraniano dos Negócios Estrangeiros, Hossein Amir-Abdollahian, havia afirmado na terça-feira, à margem do Fórum Económico Mundial de Davos, na Suíça, que Teerão levara a cabo ataques aéreos, com mísseis e drones, em solo do Paquistão dirigidos a "um grupo terrorista", em concreto o movimento sunita Jaish al-Adl, ou Exército da Justiça.


"Nenhum civil do país amigo e irmão do Paquistão foi visado pelos mísseis e drones iranianos. O designado grupo Jaish al-Adl, que é um grupo terrorista iraniano, foi atingido", insistiu o ministro, para alegar, em seguida, que "este grupo encontrou refúgio em certos locais da província do Baluchistão".O Jaish al-Adl nasceu em 2012. Integra sobretudo membros do grupo sunita Jundullah, que perdeu força com a detenção da maior parte dos seus militantes pelas autoridades iranianas. O grupo aspira à independência do Sistão oriental do Irão e do Baluchistão, no sudoeste do Paquistão. O que o torna um alvo de ambos os países.

A Administração norte-americana veio já repudiar a recente sequência de ataques ataques militares iranianos no Iraque, na Síria e no Paquistão.

"Condenamos esses ataques", reagiu Matthew Miller, porta-voz do Departamento de Estado norte-americano, acusando o Irão de violar "nos últimos dias as fronteiras soberanas dos vizinhos".
Vaga de operações iranianas
Na terça-feira, as estruturas militares do país dos ayatollahs lançaram mísseis sobre alegados quartéis-generais de "espiões" e outros alvos "terroristas" na Síria e no Curdistão iraquiano.

O Irão confirmara já na véspera ter atacado com mísseis alvos associados ao Estado Islâmico e "espiões do regime sionista" - ou seja, Israel - na Síria e no Iraque, onde foi mesmo atingido uma zona próxima do consulado dos Estados Unidos no Curdistão iraquiano.Os bombardeamentos da Guarda Revolucionária iraniana sobre Ebil, a capital da região autónoma do Curdistão iraquiano, provocaram pelo menos quatro mortos.


Esta vaga de ataques do Irão ocorre no contexto da guerra na Faixa de Gaza, que levou também os rebeldes iemenitas Houthis, apoiados por Teerão, a multiplicarem ações no Mar Vermelho contra navios mercantes. Ao longo das últimas semanas, forças norte-americanas efetuaram ataques contra grupos pró-iranianos no Iraque e os Houthis no Iémen, neste caso secundadas pelos aliados britânicos.

O Departamento de Estado norte-americano questiona a afirmação, por parte do Irão, de que "tem de tomar estas medidas para combater o terrorismo" quando Teerão é, na ótica da Administração Biden, "o principal financiador do terrorismo na região, o principal financiador da instabilidade".

c/ AFP e Reuters

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