Ressurgimento do discurso de ódio ameaça paz nos países da antiga Jugoslávia - Conselho da Europa
Depois de terem contribuído para a criação de mecanismos "revolucionários" para julgar responsáveis pelas atrocidades cometidas durante as guerras da década de 1990, os países da ex-Jugoslávia vivem um ressurgimento do discurso de ódio, alertou o Conselho da Europa.
Este organismo salientou que o ressurgimento do discurso de ódio ameaça não só a reconciliação, mas também a paz.
"Esta incapacidade de realizar reformas mais amplas, tendo em conta o passado, continua a minar o progresso democrático e a paz na região", frisou o Conselho da Europa, de acordo com um relatório publicado esta quinta-feira.
Os conflitos que se seguiram à dissolução da Jugoslávia a partir de 1991 conduziram às piores atrocidades que a Europa tinha sofrido no seu território após a Segunda Guerra Mundial.
O número de vítimas durante as guerras na Eslovénia, Croácia, Bósnia e Kosovo é estimado em cerca de 130.000. Milhares de pessoas continuam sem localização -- 7.502 continuam desaparecidas na Bósnia, o país que pagou o preço mais elevado com 100.000 mortos.
A criação do Tribunal Penal Internacional para a ex-Jugoslávia (TPIJ) - o primeiro desde os de Nuremberga e de Tóquio - permitiu levar à justiça alguns dos protagonistas, recordou o Conselho com sede em Estrasburgo.
Mas em vez de continuarem neste caminho, estes esforços abrandaram ou pararam nos últimos anos, em grande parte devido à falta de vontade política.
No seu relatório, o Conselho destaca "uma tendência alarmante para o discurso etno-nacionalista, a negação das atrocidades cometidas e a glorificação dos criminosos de guerra", e observa que "estas práticas são toleradas e ativamente aproveitadas pelos mais altos líderes políticos, que também fizeram disso uma estratégia para obter votos e permanecer no poder".
A presença de criminosos de guerra -- suspeitos ou condenados -- em determinadas instituições ou serviços públicos "é repleta de consequências".
Na Sérvia, o Partido Progressista Sérvio (SNS) do Presidente Aleksandar Vucic e o Partido Radical Sérvio (SRS) de Vojislav Seselj, condenado por crimes contra a humanidade, podem em algumas regiões fazer uma lista conjunta para as eleições locais em meados de dezembro.
Na Bósnia, o líder dos sérvios, Milorad Dodik, afirma, contra a decisão da justiça internacional -- que "não houve genocídio" em Srebrenica, massacre em que forças sérvias bósnias mataram cerca de 8.000 homens e adolescentes muçulmanos bósnios em 1995.
Entre várias recomendações, o Conselho da Europa considera que é urgente "garantir que todas as vítimas tenham acesso a formas de reparação (...) incluindo o reconhecimento simbólico".
O Conselho da Europa foi criado em 1949 para defender os Direitos Humanos, a Democracia e o Estado de direito e integra atualmente 46 Estados-membros, incluindo todos os países que compõem a União Europeia (UE), depois de ter expulsado a Rússia como membro no ano passado.