Resposta às críticas. Procurador-geral francês assegura que condenação de Le Pen "não é política"

por Inês Moreira Santos - RTP
Abdul Saboor - Reuters

Marine Le Pen, condenada por desvio de fundos do Parlamento Europeu, afirma ser vítima de uma sentença "política" que visa impedir "a favorita para as eleições presidenciais de poder candidatar-se" em 2027. Em resposta às críticas da condenação da líder da extrema-direita francesa, um dos mais altos magistrados em França Rémy Heitz declarou que "a justiça não é política" e que a decisão foi tomada por juízes "independentes e imparciais".

Assumindo-se como “inocente”, Le Pen disse em entrevista televisiva ao canal TF1 que considera que este processo foi movido “por adversários políticos” e “se baseia em argumentos que não são válidos”.

“Trata-se de um desacordo administrativo com o Parlamento Europeu. Não há enriquecimento pessoal, não há corrupção, não há nada disso”
, disse a ex-líder do União Nacional. "Não me vou deixar eliminar facilmente. Vou apresentar um recurso que permita que me apresente como candidata”.

No mesmo sentido, o atual presidente do partido francês de extrema-direita denunciou "a tirania dos juízes", além das "ameaças, insultos e abusos" contra os membros do União Nacional.

"Será feito tudo para nos impedir de chegar ao poder", afirmou Jordan Bardella, esta terça-feira, na Cnews/Europe 1, lamentando a “chocante” proibição de Le Pen se candidatar.

"Somos completamente inocentes nesta questão e, além disso, milhões de franceses estão a ser privados de ter um candidato natural e legítimo nas Eleições Presidenciais", continuou Bardella.
"Justiça não é política"

Mas a decisão de condenar Le Pen, na segunda-feira, "foi tomada de acordo com a lei, em aplicação dos textos votados pela representação nacional". O esclarecimento é do procurador-geral do Tribunal de Cassação à rádio RTL, que qualificou como inadmissíveis os "ataques altamente personalizados contra magistrados e as ameaças", lembrando que "podem ser objeto de processo criminal".

"A justiça não é política, esta decisão não é política, mas judicial, proferida por três juízes independentes e imparciais", declarou Rémy Heitz em resposta às críticas à condenação, admitindo estar "chocado" pela necessidade de o presidente do tribunal que emitiu a decisão ter sido colocado sob proteção.

"É completamente anormal que um magistrado esteja a ser atacado", disse Heitz, apelando ao "alívio das tensões", à "moderação e calma": "vamos permitir que a Justiça faça o seu trabalho com total independência".

O procurador acrescentou ainda que a “decisão foi proferida no final de um julgamento que teve todas as características de um julgamento justo, após um debate contencioso que durou dois meses e uma investigação que durou anos".

Marine Le Pen, líder do grupo parlamentar da União Nacional (RN, na sigla em francês), de extrema-direita, foi condenada na segunda-feira pelo Tribunal de Paris a quatro anos de prisão, dois dos quais não suspensos e sujeitos a um sistema de vigilância eletrónica, a uma multa de 100.000 euros e a cinco anos de inelegibilidade, a cumprir imediatamente e aplicados mesmo em caso de recurso. A potencial candidata presidencial e oito eurodeputados franceses da União Nacional foram considerados culpados de terem desviado fundos públicos do Parlamento Europeu.

Dos Países Baixos à Hungria e Espanha, várias vozes da extrema-direita europeia criticaram a condenação de Marine Le Pen, que fica afastada da corrida presidencial.
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