Resoluções dos Estados Unidos e da Rússia sobre a Síria implodem

por Carlos Santos Neves - RTP
O momento da votação do projeto de resolução dos Estados Unidos no Conselho de Segurança da ONU Justin Lane - EPA

O veto da Rússia inviabilizou esta terça-feira, no Conselho de Segurança das Nações Unidas, um projeto de resolução dos Estados Unidos que visava a criação de um mecanismo internacional de investigação sobre armas químicas na Síria. Caiu, em simultâneo, um projeto russo para um inquérito análogo.

Na sequência do presumível ataque com armas químicas em Douma, no passado sábado, a frente diplomática norte-americana nas Nações Unidas avançou com um projeto para a constituição de um “mecanismo independente de investigação” do recurso àquele tipo de armamento em solo sírio.

O projeto de resolução, que previa um mandato de um ano para o mecanismo internacional, recolheu esta terça-feira 12 votos a favor, dois votos contra, da Rússia e da Bolívia, e uma abstenção, por parte da representação chinesa.Desde o início da guerra na Síria, em 2011, a Rússia vetou 12 resoluções. Para passar, um texto precisa de pelo menos nove votos a favor e da aprovação dos países com poder de veto: Rússia, China, França,Grã-Bretanha e EUA.


As Nações Unidas deixaram de dispor de um organismo dedicado à investigação de ataques químicos na Síria por via de uma sequência de vetos russos, no final do ano passado.

O extinto mecanismo de investigação conjunta, ou JIM – Joint Investigation Mechanism, na designação inglesa, agregava especialistas da ONU e da OPAQ – Organização para a Proibição de Armas Químicas.

O presumível ataque com armas químicas no bastião rebelde de Douma, largamente atribuído pelo Ocidente às forças do Presidente sírio, terá feito 60 vítimas mortais e mais de mil feridos.

Na rede social Twitter, o ministro britânico dos Negócios Estrangeiros, Boris Johnson, apressou-se a acusar a Rússia “apoiar um regime responsável por pelo menos quatro odiosos ataques químicos contra o seu povo”.

“A História vai registar que, neste dia, a Rússia optou por proteger um monstro em detrimento das vidas do povo sírio”, acusou, na mesma linha, a embaixadora dos Estados Unidos na ONU, Nikki Haley.

Também a Rússia havia submetido um projeto tendo em vista um outro inquérito sobre armas químicas. Caberia, ao abrigo desta resolução, ao Conselho de Segurança das Nações Unidas atribuir responsabilidades.

O texto acabou igualmente rejeitado, tendo recolhido apenas seis votos a favor. Sete dos membros votaram contra e outros dois abstiveram-se.
“Mais um passo para a confrontação”

O Presidente dos Estados Unidos e parte dos seus aliados ocidentais estão a ponderar eventuais ações militares contra o Governo de Bashar al-Assad, em retaliação pelo ataque sobre Douma. Donald Trump prometia, na segunda-feira, anunciar a sua decisão em 24 a 48 horas.A Organização para a Proibição de Armas Químicas deverá enviar “em breve” uma equipa à Síria para investigar os recentes acontecimentos em Douma.

O 45.º Presidente norte-americano cancelou mesmo uma deslocação à América Latina, prevista para esta semana, num gesto que a Casa Branca justificou com a necessidade de manter o foco na resposta ao ataque do fim de semana na Síria.

No momento de contraditar os argumentos vertidos no texto da Administração Trump, o embaixador russo nas Nações Unidas, Vassily Nebenzia, descreveu a posição da diplomacia norte-americana como o prólogo de um ataque ocidental à Síria de Assad.

“Os Estados Unidos estão, uma vez mais, a tentar iludir a comunidade internacional e a dar mais um passo para a confrontação”, afirmou o diplomata russo diante dos demais membros do Conselho de Segurança.

“É óbvio que este passo de provocação não tem nada a ver com um desejo de investigar o que aconteceu”, reforçou Nebenzia.
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