A "Super Terça-Feira" deverá trazer poucas surpresas nas eleições primárias do Partido Republicano na Califórnia, com nova vitória para Donald Trump, mas o lugar do lusodescendente David Valadão no Congresso é ameaçado por um candidato da linha do ex-presidente.
A corrida no vale central que envolve o republicano lusodescendente Valadão, atual congressista pelo 22º distrito da Câmara dos Representantes, é desafiado por Chris Mathys, um republicano pró-Trump que pretende tirar-lhe a nomeação pelo partido para as eleições gerais.
Nas eleições de hoje na Califórnia - a par de 14 outros estados e um território no grande dia das primárias antes das presidenciais de novembro - os analistas esperam também que o republicano Steve Garvey avance para a eleição geral no Senado. Mas o sentimento entre muitos eleitores é de que, num estado dominado por democratas, os votos mais à direita não contam tanto.
"Votei por correspondência, porque sempre o fiz e sou demasiado preguiçoso para ir às urnas", disse à Lusa Joseph, um conservador de Hawthorne que preferiu não dizer o apelido. "A preguiça torna-se um fator quando sinto que o meu voto não importa, por me inclinar mais para a direita que para a esquerda", explicou.
Joseph teceu duras críticas ao estado atual da Califórnia e ao seu governo, liderado pelo democrata Gavin Newsom. "A crise da habitação, dos sem-abrigo, a ilegalidade, a inflação", apontou. "Sinto que a administração e Newsom tiveram a sua oportunidade de lidar com estes problemas e estão mal equipados para o fazer", opinou.
No entanto, Joseph não vê soluções fáceis do outro lado. "A palavra do dia é responsabilidade e nenhum dos lados, esquerda ou direita, está preparado para prestar contas", afirmou.
"Ambos os lados do governo são maus", continuou. "No final do dia, quem deixar mais dinheiro nos bolsos dos meus filhos recebe o meu voto". Uma alusão aos elevados impostos que são cobrados na Califórnia e que o partido republicano quer baixar.
A Califórnia tem mais de 10 milhões de eleitores registados como democratas, cerca de 5 milhões registados como republicanos e 5 milhões sem preferência de partido. Só os que estão registados como republicanos podem votar na primária presidencial do partido, que Trump lidera por larga margem -- 73,4% contra 18,6% de Nikki Haley, a última candidata que resiste numa primária que teve mais de uma dúzia de concorrentes.
John Reynolds votaria em Haley se não estivesse registado como democrata, o que o impede de aceder ao boletim de voto da primária presidencial republicana. "Definitivamente votaria nela se tivesse essa possibilidade", referiu à Lusa.
O mesmo não acontece com as primárias para o Senado e Câmara de Representantes, que são eleições abertas: os eleitores podem escolher quem quiserem, independentemente da filiação partidária, e avançam para a eleição geral em novembro os dois candidatos que tiverem mais votos.
Foi por isso que Richard Montoya, um eleitor do partido Peace and Freedom, votou na candidata democrata ao Senado Barbara Lee.
"A liderança nos Estados Unidos está extremamente carente de candidatos que falam honestamente sobre o fim da guerra, um mundo de paz e igualdade racial e que também têm um histórico de trabalhar em prol destas coisas", considerou. "Esta é a corrida mais importante para mim".
Para ele, democratas e republicanos oferecem produtos similares e ambos os candidatos presidenciais que vão ser nomeados merecem críticas. "Trump é um neo-fascista que vai certamente destruir o império dos EUA tal como está", disse. "Biden é um imperialista clássico que espera manter o império em movimento", continuou. "Nenhum oferece muito em termos de paz no mundo e o fim da guerra".
Para a nomeação presidencial, Montoya votou em Cornel West, filósofo e ex-professor de Harvard. "Não espero que ele ganhe", frisou, "e não espero alguma vez votar num neo-fascista na eleição geral".