Repórter chinês com acesso privilegiado à linha da frente russa

por RTP
Twitter - Phoenix TV

Chama-se Lu Yuguang, é natural da China e trabalha para a Phoenix TV. É correspondente em Moscovo desde a década de 90 do século passado e acompanhou de perto a guerra da Chechénia, sob proteção dos militares russos. Os laços mantiveram-se e agora está de novo em cenário de guerra, movimentando-se entre as tropas russas de forma privilegiada.

De microfone em punho, Lu Yuguang circula entre os tanques e militares russos, entrevistando uns e outros com naturalidade.

"Estou na linha de frente em Mariupol", diz o jornalista para a reportagem, perguntando a um soldado se está nervoso. O militar responde-lhe que não, porque está "a lutar há oito anos".O repórter chinês parece ser o único jornalista estrangeiro entre o contingente russo e terá conseguido este lugar exclusivo depois de entrevistar o líder da autoproclamada república em Donetsk, Denis Pushilin.

De acordo com o jornal britânico The Guardian, Lu relatou que a milícia de Donetsk não se comparava com as forças ucranianas, "mas com a ajuda das forças russas a milícia do leste da Ucrânia libertou 40 áreas residenciais dentro da linha administrativa", destacando os feitos: "A vitória continua em expansão".

Depois de Vladimir Putin ter feito aprovar a lei que prevê penas de prisão de até 15 anos para o que o Kremlin considera"notícias falsas", o acesso pouco comum de Yuguang às Forças Armadas russas contrastou com a presença dos media, em geral.

Este comportamento está também a levantar dúvidas sobre a extensão do acordo de "parceria ilimitada" assinada entre os governos de Moscovo e Pequim. A China tem preferido manter uma posição neutra perante o conflito, e não identifica qualquer ação russa como agressora.

Pequim também se associou às narrativas russas sobre a existência de alegados laboratórios ucranianos que estavam a produzir armas químicas com dinheiro norte americano.


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Nos relatos jornalísticos, Lu alega que mais de mil pessoas foram mantidas como reféns por militantes ucranianos para servirem de escudos humanos. Mas noutros trabalhos, por dar voz a mulheres ucranianas, foi acusado por internautas chineses de "criminoso", ou de ter falta de objetividade.

Steve Tsang, diretor do Instituto Soas China, afirma que Yuguang pode ter beneficiado de antigas ligações pessoais com o exército russo e deixa em aberto um possível apoio de Pequim a Moscovo, mas deixa uma certeza: "A única coisa que acho que sabemos com certeza é que a Rússia não permitirá que nenhum jornalista estrangeiro seja incorporado nas forças russas, a menos que seja certo que esse jornalista retratará as forças e os esforços russos de maneira positiva".

"O fato de Lu estar incorporado demonstra que as autoridades russas o conhecem bem o suficiente para ter certeza de que ele não escreveria negativamente sobre os esforços de guerra russos", sublinha Tsang.
Percurso de Lu
Lu Yuguang é natural de província de Zhejiang e foi comandante na Marinha chinesa.
Tinha o hobby da escrita e foi autor de vários romances de sucesso que lhe valeram lugar numa redação de notícias.

Depois de se tornar repórter da Phoenix TV, passou a ser correspondente em Moscovo.

Durante a guerra da Chechénia, Lu acompanhou os militares russos na linha da frente. A força especial de Moscovo tinha a missão de o proteger e, durante um incidente em Grozny, Lu foi salvo por um soldado que deu a vida por ele. Lu Yuguang prometeu que se responsabilizaria pelos filhos e esposa russa, então viúva.
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