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Relatório. UNICEF e OMS alertam para persistência de risco de morte em crianças privadas de vacinação

por Rachel Mestre Mesquita - RTP
Ramadhona, de 3 anos, recebe as vacinas infantis em dia em Tanjung Pinang, na província das Ilhas Riau, na Indonésia, durante o lançamento do Mês Nacional da Imunização Infantil (BIAN). © UNICEF/UN0647179/Clark | Brian Clark - UNICEF

Apesar de os serviços de vacinação infantil começarem a recuperar em alguns países, após o retrocesso causado pela pandemia da covid-19, os países de baixo rendimento estão aquém dos níveis pré-pandemia, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS) e a UNICEF. Em 2022, foram 14,3 milhões as crianças que não receberam nenhuma dose, o largo grupo das "Dose Zero".

Mais de quatro milhões em 2022 é o número de crianças que alcançou os serviços globais de imunização, graças aos esforços feitos pelos países para colmatar o retrocesso histórico na imunização causado pela covid-19, avança um comunicado conjunto da OMS e da UNICEF. Ainda assim, em 2022 houve uma melhoria com o registo de 20,5 milhões de crianças sem uma ou mais doses de vacinas, quando no ano anterior este número era de 24,4 milhões.

"Estes dados são encorajadores e representam uma homenagem àqueles que trabalharam arduamente para restaurar os serviços de imunização, após dois anos de declínio sustentado na cobertura de imunização", disse Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da OMS.

Apesar da melhoria da cobertura, o número de crianças que ficaram sem vacinação continua a ser superior aos valores registados em 2019. Não tinham sido vacinadas 18,4 milhões de crianças antes das interrupções causadas pela pandemia e também o número de crianças com “Dose Zero” - 14,3 milhões em 2022 - continua a ser superior aos 12,9 milhões de crianças em 2019.
Uma recuperação a duas velocidades
“Mas as médias globais e regionais não contam a história completa e mascaram desigualdades graves e persistentes. Quando os países e regiões ficam para trás, as crianças é que pagam o preço", conclui o responsável da agência da ONU para a saúde.

De acordo com a OMS e a UNICEF, as primeiras fases da recuperação de imunização global ocorreram de forma desequilibrada, verificando-se a melhoria apenas em alguns países. Os sinais promissores de recuperação dos serviços de imunização infantil verificaram-se particularmente em países que mantiveram uma cobertura estável e sustentada na pré-pandemia e conseguiram estabilizar os serviços de vacinação desde então, como é o caso do Sul da Ásia, nomeadamente na Índia ou na Indonésia, onde se verificou uma recuperação mais rápida e robusta. A região da América Latina e Caraíbas sofreu um declínio prolongado com a pandemia e encontra-se a atravessar uma recuperação mais lenta.

Já em países de baixo rendimento, como a região africana, a recuperação está totalmente atrasada e ficou muito aquém das necessidades, estando milhões de crianças expostas ao risco elevado de surtos de doenças, devido ao facto de muitos países não conseguirem garantir os serviços de imunização de rotina todos os anos, um “pilar fundamental dos cuidados de saúde primários”.
"Alerta grave"

A diretora executiva da UNICEF, Catherine Russell, alerta para o perigo grave de vida que milhões de crianças continuam a correr. "Até que mais países corrijam as lacunas na cobertura da imunização de rotina, crianças em todo o mundo continuarão em risco de contrair e morrer de doenças que podemos prevenir”, sublinha Russell.“Dos 73 países que registaram diminuições substanciais na cobertura durante a pandemia, 15 recuperaram os níveis pré-pandemia, 24 estão a recuperar e o mais preocupante, 34 estagnaram ou continuaram a diminuir”, lê-se no comunicado da OMS e UNICEF.


Um total de 35,2 milhões de crianças correm o risco de infeção por sarampo, segundo a OMS e a UNICEF, e a recuperação da vacinação contra um dos vírus mais infeciosos não foi tão positiva como aconteceu contra outras vacinas. No ano passado 21,9 milhões não receberam vacinação de rotina contra o sarampo no seu primeiro ano de vida, mais três milhões do que em 2019, somando a outras 13,3 milhões que não receberam a segunda dose.

Contrariamente à vacinação contra o Vírus do Papiloma Humano (HPV), cuja cobertura vacinal ultrapassou pela primeira vez os níveis atingidos nos anos anteriores à pandemia, apesar de ter ficado nos últimos anos sempre aquém da meta de 90%, com coberturas médias nos programas de HPV de 67% em países de alto rendimento e 55% em países de baixo e médio rendimento.

De modo a acelerar a recuperação em todas as regiões do mundo e em todas as plataformas de imunização, no início de 2023, a OMS e a UNICEF juntaram-se à Gavi, Aliança Global para Vacinas e Imunização, Fundação Bill & Melinda Gates e a outros parceiros da Agenda Global de Imunização 2030 (IA2030) para lançarem ”The Big Catch-Up", uma campanha global de promoção da imunização que pretende apelar aos governos para vacinarem crianças que não foram vacinadas durante a Covid-19, para restabelecer os níveis pré-pandemia dos serviços de imunização e apontar ao fortalecimento dos mesmos no futuro.
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