Relatório mede o impacto económico da deterioração da biodiversidade

por Carla Quirino - RTP
Mar de Aral, no Cazaquistão. Chegou a ser o quarto maior lago do mundo. A agricultura intensiva de algodão provocou uma redução de 90% de água, no fim do século XX Shamil Zhumatov - Reuters

Cerca de 55 por cento do PIB global depende da harmonia entre a biodiversidade e o funcionamento de ecossistemas. Um quinto dos países tem esse equilíbrio comprometido, podendo mesmo entrar em colapso, revela um estudo apresentado por uma das maiores seguradoras do mundo.

A qualidade do ar que se respira depende da excelência dos oceanos. Por sua vez, os recursos alimentares dependem da água e ar limpos. E neste ciclo dos elementos essenciais à vida opera a biodiversidade.

Os ecossistemas com maior biodiversidade tendem a ser mais estáveis e resistentes perante um evento disruptivo.

Indonésia, campo seco | Foto: Willy Kurniawan - Reuters

O estudo da Swiss Reinsurance traça um retrato preocupante face ao declínio da diversidade biológica no planeta. Os sistemas naturais de suporte de vida do planeta estão a esgotar-se, colocando os ecossistemas de 20 por cento dos países com alta probabilidade de colapso.

Entre o ranking das economias do G20, África do Sul, Israel e Austrália lideram os países em risco de desequilíbrio. A China ocupa o sétimo lugar, em nono estão os EUA e o Reino Unido em 16º. 

A destruição da vida selvagem e dos habitats também está identificada na Índia, Espanha e Bélgica.

Paquistão, Vietname, Indonésia e Nigéria estão sinalizados por serem países com grandes sectores agrícolas.

Brasil e a Indonésia tem ainda grandes áreas de ecossistemas intactos, mas são países que dependem economicamente desses recursos naturais, tornando essas riquezas apetecíveis e vulneráveis.

Brasil, desflorestação na Amazónia | Foto: Nacho Doce - Reuters

Os países em desenvolvimento, ricos em recursos, devem diversificar as economias combinando com esforços de preservação do meio ambiente, sob pena de esgotamento desses recursos, defende o relatório. “É importante ter consciência que os impactos económicos da degradação da natureza começaram bem antes do colapso do ecossistema. Identificar um problema pode muito bem ser metade da solução, [mas] a outra metade é agir”, relembra Alexander Pfaff, professor de políticas públicas, economia e meio ambiente na Duke University nos Estados Unidos, citado pelo jornal The Guardian.

Partindo do exemplo da quase extinção do mar de Aral, devido à plantação intensiva de algodão na Ásia Central, e as consequências biológicas e sociais das populações que dele dependiam, Swiss Reinsurance estabeleceu um índice que mede o impacto da deterioração dos ecossistemas.

São dez as categorias  que este relatório abordou: “Segurança hídrica, fornecimento de madeira, fornecimento de alimentos, integridade de habitat, polinização, fertilidade do solo, qualidade da água, regulação da qualidade do ar e clima local, controlo da erosão e proteção costeira”.

Austrália, barreira de coral | Foto: David Gray - Reuters

Em termos práticos, a empresa de seguros faz as contas e dá mais exemplos. Custa menos dinheiro aplicar medidas de proteção ao bom funcionamento dos recifes de coral do que pagar os danos provocados por enchentes devido às barreiras de coral já não garantirem a função de defesa da costa.

Ou seja, é mais caro correr atrás do prejuízo do que investir previamente na preservação da vida natural do planeta.
“Este é o primeiro índice, de que temos conhecimento, que reúne indicadores de biodiversidade e ecossistemas onde é possível a comparação cruzada em todo o mundo e, em seguida, vinculá-los especificamente com as economias desses locais”, explica Jeffrey Bohn, diretor da investigação da seguradora, citado na publicação britânica.

A interpretação deste conjunto de dados permite quantificar riscos dos danos colaterais associando-os à “importância da conservação da natureza para uma economia funcional”, por exemplo, face a perdas de colheitas e inundações.

Este relatório sustenta os seus argumentos, também, no relatório da ONU de setembro deste ano que alerta para a falha global em cumprir os objetivos do acordo de Aichi, no Japão, assinado em 2010 entre quase 200 Governos.

É a segunda década consecutiva em que os governos perdem a oportunidade de reverter o impacto da atividade humana na destruição dos ecossistemas e o património da diversidade de vida no planeta, de acordo com a Organização.

As Nações Unidas apelam a ações urgentes a favor de um desenvolvimento sustentável."Há uma necessidade clara de avaliar o estado dos ecossistemas para que a comunidade global possa minimizar ainda mais o impacto negativo nas economias em todo o mundo”, afirma Christian Mumenthaler, CEO do Grupo Swiss Re., citado no relatório.

Este documento de investigação pretende ser uma ferramenta de traballho, tanto para ajudar nas decisões governamentais, como para apoiar empresas e investidores perante um choque ambiental.

É urgente “compreender os riscos económicos perante a deterioração da biodiversidade e dos ecossistemas
”, alerta Mumenthaler.
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