Cerca de 55 por cento do PIB global depende da harmonia entre a biodiversidade e o funcionamento de ecossistemas. Um quinto dos países tem esse equilíbrio comprometido, podendo mesmo entrar em colapso, revela um estudo apresentado por uma das maiores seguradoras do mundo.
A qualidade do ar que se respira depende da excelência dos oceanos. Por sua vez, os recursos alimentares dependem da água e ar limpos. E neste ciclo dos elementos essenciais à vida opera a biodiversidade.
Os ecossistemas com maior biodiversidade tendem a ser mais estáveis e resistentes perante um evento disruptivo.
Indonésia, campo seco | Foto: Willy Kurniawan - Reuters
Entre o ranking das economias do G20, África do Sul, Israel e Austrália lideram os países em risco de desequilíbrio. A China ocupa o sétimo lugar, em nono estão os EUA e o Reino Unido em 16º.
A destruição da vida selvagem e dos habitats também está identificada na Índia, Espanha e Bélgica.
Brasil e a Indonésia tem ainda grandes áreas de ecossistemas intactos, mas são países que dependem economicamente desses recursos naturais, tornando essas riquezas apetecíveis e vulneráveis.
Brasil, desflorestação na Amazónia | Foto: Nacho Doce - Reuters
Partindo do exemplo da quase extinção do mar de Aral, devido à plantação intensiva de algodão na Ásia Central, e as consequências biológicas e sociais das populações que dele dependiam, Swiss Reinsurance estabeleceu um índice que mede o impacto da deterioração dos ecossistemas.
Austrália, barreira de coral | Foto: David Gray - Reuters
Em termos práticos, a empresa de seguros faz as contas e dá mais exemplos. Custa menos dinheiro aplicar medidas de proteção ao bom funcionamento dos recifes de coral do que pagar os danos provocados por enchentes devido às barreiras de coral já não garantirem a função de defesa da costa.
Ou seja, é mais caro correr atrás do prejuízo do que investir previamente na preservação da vida natural do planeta.
“Este é o primeiro índice, de que temos conhecimento,
que reúne indicadores de biodiversidade e ecossistemas onde é possível a
comparação cruzada em todo o mundo e, em seguida, vinculá-los
especificamente com as economias desses locais”, explica Jeffrey Bohn,
diretor da investigação da seguradora, citado na publicação britânica.
A interpretação deste conjunto de dados permite quantificar riscos dos danos colaterais associando-os à “importância da conservação da natureza para uma economia funcional”, por exemplo,
face a perdas de colheitas e inundações.
Este relatório sustenta os seus argumentos, também, no relatório da ONU de setembro deste ano que alerta para a falha global em cumprir os objetivos do acordo de Aichi, no Japão, assinado em 2010 entre quase 200 Governos.
É a segunda década consecutiva em que os governos perdem a oportunidade de reverter o impacto da atividade humana na destruição dos ecossistemas e o património da diversidade de vida no planeta, de acordo com a Organização.
As Nações Unidas apelam a ações urgentes a favor de um desenvolvimento sustentável."Há uma necessidade clara de avaliar o estado dos ecossistemas para que a comunidade global possa minimizar ainda mais o impacto negativo nas economias em todo o mundo”, afirma Christian Mumenthaler, CEO do Grupo Swiss Re., citado no relatório.
Este documento de investigação pretende ser uma ferramenta de traballho, tanto para ajudar nas decisões governamentais, como para apoiar empresas e investidores perante um choque ambiental.
É urgente “compreender os riscos económicos perante a deterioração da biodiversidade e dos ecossistemas”, alerta Mumenthaler.