Relatório da polícia britânica. Violência contra mulheres e meninas atinge níveis "epidémicos"

por Carla Quirino - RTP
Protesto contra a violência. Março de 2024. Londres RaÅŸid Necati Aslım - Anadolu Agency via AFP)

Abuso doméstico, violação, agressão sexual, perseguição e assédio foram responsáveis por 20 por cento do total de crimes registados pela polícia em Inglaterra e no País de Gales, entre 2022 e 2023. É o retrato feito no mais recente relatório, divulgado esta terça-feira, pelo Conselho Nacional de Chefes de Polícia do Reino Unido e pelo Colégio de Policiamento, que refere que os crimes de violência contra mulheres e meninas atingiram "níveis alarmantes".

Mais de um milhão de crimes contra mulheres ou meninas foram registados pela polícia nos dois últimos anos. Um relatório encomendado pelo Conselho Nacional de Chefes de Polícia (NPCC) e pelo Colégio de Policiamento estimou que pelo menos uma em cada 12 mulheres — mais de dois milhões — será vítima de crimes de violência contra mulheres e meninas (Violence Against Women and Girls - VAWG), todos os anos.

O relatório de com 70 páginas diz-nos que um em cada seis assassinatos em Inglaterra e no País de Gales entre 2022 e 2023 está relacionado com violência doméstica.

A investigação aponta para a existência de pelo menos uma em cada 12 mulheres vítima a cada ano de crimes violentos de género, incluindo violação, perseguição, assédio e abuso sexual online, de acordo com o relatório.

O número provavelmente é maior devido aos crimes não relatados, acrescenta a subchefe de polícia Maggie Blyth. "A escala da ameaça às mulheres e meninas neste país é enorme. É o que chamamos de epidemia", disse Blyth à Sky News.
“Emergência nacional”
Esta tendência de aumento de crimes de violência contra mulheres e crianças já tinha sido registada entre 2018 a 2022. Blyth reporta que nesse período os dados são "impressionantes". “Cresceram em escala e complexidade a cada ano, com crimes violentos a atingirem 37 por cento”.

O abuso e a exploração sexual infantil aumentaram 435 por cento entre 2013 e 2022, estimou o relatório, para passarem de pouco mais de 20 mil para quase 107 mil casos.

“A violência contra mulheres e meninas é uma emergência nacional”, sublinhou a subchefe Blyth. “Precisamos evoluir como sociedade para aceitar fazer mudanças e não aceitar mais a violência contra mulheres e meninas como algo inevitável”.
“Uma em cada 20 pessoas é criminosa”
Em 2023, o governo britânico classificou a violência contra mulheres e meninas como uma ameaça nacional à segurança pública e as forças policiais foram instruídas para dar prioridade a estas queixas.

Porém, durante a investigação para este relatório, observou-se que a “escala da violência é tão grande que a aplicação da lei por si só é incapaz de gerir o fenómeno”.

Um dos números registados neste documento são os 41.540 crimes de abuso sexual cometidos contra meninas de 10 a 17 anos, só entre agosto de 2022 e julho de 2023.

“Estima-se que uma em cada 20 pessoas seja perpetradora de violência contra mulheres e meninas por ano, com o número real significativamente maior”, realça o relatório.

O documento refere ainda um aumento de 25% no número de prisões de 2019 a 2022. Mas para Blyth “essa resposta não foi suficiente”, pelo que pede mais apoio governamental para enfrentar um sistema de justiça criminal que está “sobrecarregado e apresenta fraco desempenho para com as vítimas”.

O nosso foco sempre será levar os homens por trás desses crimes perante a justiça”, sublinha a subchefe.

Blyth acredita que, “ao aprimorar a maneira como estão a ser usados os dados e as informações dos serviços de inteligência, melhoraremos a nossa capacidade de identificar, intercetar e prender aqueles que causam mais danos às comunidades”.
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