Relatório da ONU aponta para estagnação do crescimento populacional até 2300
Lisboa, 28 out (Lusa) -- O planeta vai atingir os sete mil milhões de habitantes na segunda-feira, mas em 2300 poderá não passar dos 8,97 mil milhões, fruto de um processo de estabilização da população mundial.
O exercício de futurologia é feito por um relatório da Divisão de População do Departamento de Assuntos Económicos e Sociais das Nações Unidas, que prevê também que a população mundial atinja um máximo de 9,22 mil milhões em 2075 para depois conhecer um ligeiro e lento declínio, ressalvados todos os riscos das previsões a muito longo prazo.
No termo de um século de crescimento muito rápido, a população mundial parece caminhar para a "estagnação". No século XX quase quadruplicou, ao passar de 1,6 para seis mil milhões de pessoas, mas neste século apenas deverá crescer menos de metade, e com variações muito importantes segundo as regiões.
A idade média das populações também está a aumentar - 24 anos em 1950, 29 anos em 2010, 38 anos em 2050, ainda segundo a ONU. O aumento da esperança de vida alarga o segmento da terceira idade, e a quebra da taxa de fecundidade reduz os efetivos de jovens, um fenómeno com particular visibilidade nos países mais desenvolvidos.
As pessoas também estão a viver mais tempo. Hoje, a esperança média de vida alcançou os 69 anos, em comparação com os 37 anos em 1900 e os 48 anos em 1950. Assim, os especialistas sugerem que o principal fenómeno do século XXI não será o rápido crescimento populacional, mas antes o seu envelhecimento.
À exceção da África subsaariana, e de algumas regiões asiáticas, todas as regiões do mundo já conhecem aliás uma significativa desaceleração do crescimento demográfico e este fenómeno vai prolongar-se nas próximas décadas, implicando o envelhecimento das populações.
Calcula-se atualmente que existem 893 milhões de pessoas com 60 anos, ou mais. Em meados deste século, esse número poderá quase triplicar segundo diversas projeções, para alcançar 2,4 mil milhões de pessoas. A ONU já apontou 16,2 por cento da população mundial com mais de 65 anos em 2050.
Mas enquanto a Europa e a Rússia vão ser a única região do mundo com acentuado recuo demográfico (740 milhões de habitantes em 2011, 725 milhões em 2050), a África Negra vai confirmar-se como a zona do planeta com mais forte crescimento (de 838 milhões para 1,977 mil milhões no mesmo período e com projeções de 3,6 mil milhões em 2100).
Um estudo da Divisão de População do Departamento de Economia e Assuntos Sociais das Nações Unidas, publicado em maio, precisa que o principal contributo será dos países que mantêm elevadas taxas de fecundidade, dos quais 39 estão em África, nove na Ásia, seis na Oceânia e quatro na América Latina.
Assim, Ásia e África vão permanecer os continentes mais populosos, apesar de os números apontarem para 1,216 mil milhões de pessoas a viverem nas Américas em 2050 (942 milhões em 2011).
Em 2011, 60% da população mundial habita na Ásia e 15% em África. Mas a população africana está a aumentar a uma taxa de 2,3% ao ano, mais do dobro da população asiática (1%). Estima-se que a população asiática, que atualmente é de 4,2 mil milhões, alcance o auge na metade do século (cerca de 5,2 mil milhões em 2050) para começar a declinar progressivamente a partir daí.
O fenómeno da urbanização também vai impor-se à escala planetária. Se, no início deste século, cerca de uma em cada duas pessoas vive numa área urbana, os estudos indiciam que dentro de 35 anos, vão ser duas em cada três.
Perante estas dados, permanece na ordem do dia o espetro da superpopulação, a diminuição das reservas alimentares, a degradação do ambiente.
Num mundo atual com mil milhões de subalimentados no planeta e dois mil milhões de pobres, os receios são justificados. Na primeira metade do século XX, o crescimento da produção de bens pressupunha que a relação população-recursos estava ultrapassada.
A situação agravou-se com o forte aumento demográfico, mas a maioria dos demógrafos continua a assegurar que o planeta tem capacidade para alimentar cerca de 10 mil milhões de habitantes.