Mais de sete anos de inquérito independente à participação britânica na guerra do Iraque produziram 2,6 milhões de palavras em 12 volumes - resumidos em 150 páginas - a apresentar esta quarta-feira. O seu coordenador, sir John Chilcot, já revelou que critica tanto indivíduos como instituições.
Hussein sempre negou tê-las e estas nunca foram encontradas. Blair tem estado debaixo de fogo para pedir desculpa às famílias dos 179 britânicos que morreram entre 2003 e 2009 no Iraque e aos milhões de concidadãos que se opuseram à entrada na guerra.
"Mentiram-nos. Aos media, à imprensa, às famílias, ao Parlamento, mentiram-nos a todos", afirma Reg Keys, rival de Blair para o Parlamento nas eleições de 2005 e que perdeu um filho na guerra.
Um inquérito minucioso
O inquérito às razões e argumentos que levaram ao conflito, assim como à forma como este foi conduzido e às consequências, só foi lançado após o fim da participação britânica na guerra - demorou mais tempo a ser investigado e produzido do que esta durou.
Inclui detalhes das conversas entre Tony Blair e o então Presidente norte-americano George W.Bush, que liderou a invasão do Iraque em 2003.
O objetivo oficial é ajudar futuros governos britânicos a tirar ilações e lições de toda a operação e ocupação.
O próprio coordenador do inquérito, sir John Chilcot, que dá o nome ao relatório, afirmou já à BBC esperar que futuras operações militares em tal escala se baseiem em análises anteriores mais cuidadas e juízo político mais ponderado.
Chilcot afasta ainda receios expressos pelos opositores à guerra de que algumas conclusões poderão branquear algumas decisões ou respnsáveis.
"Fui muito claro desde o princípio do inquérito que se encontrassemos decisões ou comportamentos que merecessem crítica, não deixaríamos de a fazer", garantiu.
Tony Blair sob os holofotes
Os opositores da guerra - incluindo o atual líder trabalhista Jeremy Corbyn como proponente do movimento Stop The War, iniciado contra a guerra no Afeganistão em 2001 - deverão esmiuçar em detalhe o relatório para atacar Tony Blair quanto às razões invocadas para levar o Reino Unido a entrar na guerra, que muitos consideraram ilegal.
Corbyn poderá mesmo vir a acusar Blair de crimes de guerra e já prometeu pedir desculpas em nome do Partido Trabalhista.
Os críticos acreditam que Blair prometeu a Bush uma promessa incondicional de apoio britânico ao esforço de guerra e, depois, distorceu as informações recebidas para justificar a promessa e pressionar os juristas do Governo a autorizar legalmente a invasão.
O que vai suceder
O relatório foi entregue ao atual primeiro-ministro David Cameron na terça-feira e a algumas personalidades políticas, jornalistas e famílias esta quarta-feira, pelas 8h00 (hora britânica - 7h00 GMT).
Às 10h00, sir John Chilcot apresenta o relatório no Centro de Convenções Elizabeth II (QE2) em Westminster e uma hora depois irá responder a questões dos deputados.
Para as 11h30 estão previstas as conferências de imprensa de David Cameron e de Jeremy Corbyn sobre o relatório.
O movimento Stop The War marcou entretanto uma manifestação coincidente com a apresentação do relatório.
10am Today | Outside QE2 Centre | Protest: #Chilcot - Time for Truth & Justice - https://t.co/1AbyNUijlI pic.twitter.com/uP9Y2vBOqx
— Stop the War (@STWuk) July 6, 2016
"É tempo para a Verdade e Justiça", afirma a convocatória. No seu auge, o movimento mobilizou dois milhões de pessoas contra a guerra.