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Relação de Bill Gates com Jeffrey Epstein ajudou Melinda a iniciar divórcio em 2019

por RTP
O casal Bill e Melinda Gates em Bruxelas, a 22 janeiro de 2015, durante o Fórum de debate sobre Objetivos de Desenvolvimento Sustentável 2013 Reuters

Um antigo funcionário da Fundação Bill & Melinda Gates confirmou ao Wall Street Journal que a mulher do fundador da Microsoft iniciou o seu processo de divórcio em 2019, quando vieram a público detalhes sobre a relação entre Bill Gates e Jeffrey Epstein, o financeiro condenado por abusos sexuais que se suicidou na prisão nesse mesmo ano.

As informações, corroboradas por documentos a que o jornal teve acesso, provaram que em outubro desse ano Melinda Gates já estava em contactos com diversas firmas de advocacia especializadas em divórcios.

Na mesma altura, o New York Times divulgou detalhes de vários encontros entre Bill Gates e Epstein, revelando que Gates chegou a ficar até muito tarde na casa de Epstein, em Manhattan, Nova Iorque.

Na altura, porta-vozes de Bill Gates explicaram que os encontros visavam projetos de filantropia e que o magnata fundador da Microsoft lamentava ter alguma vez tido contactos com Epstein. O WSJ referiu que, ao solicitar um comentário à notícia deste domingo, um representante de Bill Gates manteve as explicações. Há uma semana, o casal anunciou o fim do seu casamento de mais de 25 anos, sem divulgar as razões por detrás da separação. Melinda, de 56 anos, e Bill, de 65, referiram somente numa publicação de ambos na rede social Twitter, que "já não acreditamos que podemos crescer juntos enquanto casal na próxima fase das nossas vidas".

O antigo empregado da Fundação Bill & Melinda Gates confirmou ao WSJ que o desagrado de Melinda com a relação vinha de longe e que ela já tinha dito que se sentia desconfortável junto de Epstein quando o encontrou, com Bill, em 2013.

O New York Times revelou que Bill Gates começou a relacionar-se com Epstein já depois deste ter sido condenado por crimes sexuais.

A relação começou em 2011 e Gates encontrou-se "várias vezes" com Epstein, incluindo pelo menos três vezes na casa palaciana deste em Manhattan.
"Roubar um pãozinho"
De acordo com entrevistas a mais de uma dezena de pessoas familiares com a relação e com documentação revista pelo jornal, em pelo menos uma das visitas, Bill Gates ficou até muito tarde em casa de Epstein.

O próprio o admitiu, referindo em e-mails enviados no dia seguinte que apareceram para o serão "uma senhora sueca muito atraente e a sua filha, e acabei por ficar até bastante tarde". Tratavam-se da doutora Eva Andersson-Dubin, ex Miss Suécia e ex-namorada de Epstein, e a sua filha de 15 anos.

Vários funcionários da Fundação Bill & Melinda Gates também visitaram a mansão de Epstein e este falou tanto com a Fundação como com o JP Morgan Chase sobre a formação de um fundo caritativo multibilionário.

Numa dessas ocasiões, relataram os funcionários da Fundação, Epstein referiu-se às acusações e condenação enquanto intermediário na prostituição de raparigas menores como um crime "tão gave como roubar um pãozinho", o que os preocupou devido ao impacto de uma relação com o financeiro no trabalho da Fundação Gates junto de raparigas africanas desfavorecidas.

Epstein tinha relações com algumas das pessoas mais ricas e influentes do mundo - incluindo o ex-Presidente Bill Clinton e o Príncipe André de Inglaterra. De acordo com o NYT, a relação com Bill Gates começou a esfriar em 2014 e a ideia do fundo multibilionário esfumou-se.
Mais de um ano para chegar a acordo
O Wall Street Journal revelou agora que o divórcio anunciado dia 3 de maio foi o desenlace de algo que Melinda Gates preparava há muito.

Em março de 2020, seis meses depois dos primeiros telefonemas de Melinda aos advogados, os Gates estavam já a tentar consensos quanto à divisão da sua enorme fortuna.

Foi igualmente nesse mês que Bill Gates deixou o Conselho de Administração da Microsoft. Possuía então apenas cerca de um por cento das ações da companhia, depois de ter doado à Fundação Bill & Melinda Gates ações no valor de 29.44 mil milhões de euros.

De acordo com a revista Forbes, Bill Gates vale 106.75 mil milhões de euros. Apesar de se ter afastado da sua empresa original, o multimilionário investiu em diversas outras companhias, incluindo nos Caminhos de Ferro do Canadá e na AutoNation. É ainda um dos maiores proprietários de terras dos Estados Unidos.

A petição de divórcio divulgada dia três de maio de 2021 revela que o casal concordou em dividir os seus bens com base num contrato de separação que levou mais de um ano a elaborar, em plena pandemia de Covid-19.

Inclui uma propriedade no Estado de Washington avaliada em 107.7 milhões de euros, um álbum de esboços de Leonardo da Vinci e carteiras de ações da Microsoft e da cadeia de Hotéis Four Seasons.

Entre os advogados de Melinda Gates está Robert Stephen Cohen, que representou Michael Bloomberg e Ivana Trump nos seus respectivos divórcios.
A Fundação
Os documentos entregues ao tribunal há uma semana revelaram que Bill e Melinda consideram o seu casamento "irrecuperável" e que a decisão de divórcio "se seguiu a uma profunda reflexão e muito trabalho na nossa relação".

Ambos garantiram que irão manter os seus cargos como co-presidentes e curadores da sua Fundação, para a qual transferiram 20 mil milhões de ações da Microsoft ao longo de duas décadas e a qual beneficiou ainda do legado de grande parte da fortuna do multimilionário Warren Buffet.

Lançada formalmente em 2000, a Fundação Bill & Melinda Gates investiu desde aquela data mais de 44.24 mil milhões de euros em projetos de várias áreas ligadas à Saúde e à Educação, a maioria em África, incluindo campanhas de nutrição infantil, vacinas e combate à poliomielite e à malária, assim como investigações cientificas no Burkina Faso.

A Fundação tem atualmente bens declarados de cerca de 41.94 mil milhões de euros e é uma das maiores organizaçoes caritativas do mundo.
Receios em África
Na última semana, várias instituições em países africanos, grandes beneficiárias da filantropia dos Gates, expressaram receio de que o apoio destes esteja próximo do fim.

A escola primária Inkanini acolhe mais de mil crianças desfavorecidas na Cidade de Cabo, África do Sul, e recebeu doações dos Gates nos últimos dois anos. A sua diretora assumiu à agência Reuters os receios de que as crianças venham a ser a primeira baixa no divórcio multimilionário.

"Eles vão separar-se e dizem que a Fundação nao será afetada. Conhecemos muitas pessoas que dizem estas coisas mas uma vez que o divórcio, como lhe chamam, seja decretado, haverá vítimas certamente no processo e as primeiras serão as crianças de África, onde a família Gates se comprometeu a fazer alguma coisa em termos de escolas, como a nossa", referiu.

Também o diretor-geral do Instituto GRAS, na capital do Burkina Faso, Ouagadougou, receia a próxima resposta a um pedido recente de financiamento para o seu mais recente projeto, a investigação do impacto da Covid-19 em doentes com malária.

"No curto prazo o programa nao será afetado, pois dura pouco", reconheceu à Reuters. "Mas no longo prazo e também em geral, há riscos de vir a ser afetado, pois sei que o Bill e a Melinda Gates contribuíram com somas enormes, direta e indiretamente, para vários projetos que temos em curso", afirmou.

Em causa pode estar um financiamento de 1.233 milhões de euros.
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