O Reino Unido reconheceu hoje oficialmente que o grupo jihadista Estado Islâmico (EI) cometeu "atos de genocídio" contra a minoria curda yazidi no Iraque em 2014, anunciou o Ministério dos Negócios Estrangeiros.
O reconhecimento, que antecede o nono aniversário das atrocidades cometidas pelo grupo extremista contra a minoria étnico-religiosa, surge na sequência de uma decisão de um tribunal alemão, informou a diplomacia britânica.
"A população yazidi sofreu imenso às mãos do Daesh [acrónimo árabe do EI] há nove anos e as repercussões ainda hoje se fazem sentir", declarou o secretário de Estado para Médio Oriente, Norte de África, Sul da Ásia e Nações Unidas, Tariq Ahmad, em comunicado citado pela agência francesa AFP.
O reconhecimento reforça o compromisso do Reino Unido em garantir que as vítimas "recebem a indemnização que lhes é devida e têm acesso a uma justiça significativa", acrescentou.
Em agosto de 2014, o EI tomou de assalto o Monte Sinjar, o lar histórico da minoria yazidi no norte do Iraque, "numa tentativa sistemática de a apagar da existência", segundo a Organização Internacional para a Migração (OIM).
"Milhares de pessoas foram mortas, centenas de milhares foram deslocadas e mais de 6.000 mulheres e crianças foram escravizadas", de acordo com a agência especializada das Nações Unidas.
Os jihadistas consideram como hereges os yazidis e a sua religião monoteísta esotérica.
O Iraque declarou vitória sobre o EI em 2017, antes de o grupo extremista perder o último reduto na Síria em 2019.
Em 30 de novembro de 2021, os tribunais alemães foram os primeiros a reconhecer os crimes contra a comunidade yazidi como genocídio, numa decisão considerada histórica por organizações de direitos humanos.
Desde então, este reconhecimento tem sido feito por vários parlamentos e organizações internacionais.
Em 17 de janeiro, a justiça alemã confirmou a condenação a prisão perpétua de um antigo combatente do EI por "genocídio, crimes contra a humanidade com morte, crimes de guerra e cumplicidade em crimes de guerra".
Taha Al-Jumailly foi considerado culpado de ter deixado morrer de sede, no verão de 2015, em Fallujah, no Iraque, uma menina yazidi de 5 anos, que ele e a mãe tinham escravizado.
Em 1998, a ativista yazidi Nadia Murad recebeu o prémio Nobel da Paz juntamente com o médico congolês Denis Mukwege.
Murad escapou ao EI após vários meses de cativeiro, durante o qual foi espancada, vendida como escrava sexual e repetidamente violada.
Foi nomeada pela ONU embaixadora da Boa Vontade para a Dignidade dos Sobreviventes de Tráfico de Seres Humanos.
Em 2018, criou a Iniciativa Nadia, que luta pelo "fim da utilização de mulheres e raparigas como armas de guerra e na garantia de que as vozes dos sobreviventes são ouvidas", segundo o `site da organização (www.nadiasinitiative.org/).
"Atualmente, estamos a concentrar os nossos esforços na reconstrução da terra natal ancestral de Nadia Murad em Sinjar, no Iraque, que foi sistematicamente destruída pelo EI em 2014", de acordo com a mesma fonte.
O genocídio da minoria yazidi é o quinto reconhecido pelo Reino Unido, depois do Holocausto, do Ruanda, de Srebrenica e do Camboja.
No âmbito do direito internacional, o genocídio é reconhecido desde 1948 pela Convenção das Nações Unidas.
A convenção enumera uma série de crimes que constituem genocídio, incluindo o homicídio cometido "com a intenção de destruir, no todo ou em parte, um grupo nacional, étnico, racial ou religioso".