Reino Unido. Britânicos decidem futuro do país em eleições históricas

por Rachel Mestre Mesquita - RTP
Maciek Musialek - NurPhoto via AFP

Milhões de eleitores britânicos têm esta quinta-feira a oportunidade de participar nas eleições gerais antecipadas e ajudar a escolher o Governo dos próximos cinco anos. Uma página histórica pode estar prestes a virar-se no Reino Unido, com a principal força política da oposição, o Partido Trabalhista, a caminho de derrotar os conservadores, no poder há 14 anos. Estes podem vir também a ser ultrapassados, pela primeira vez, pelo populista e conservador Partido Reformista.

O Reino Unido atravessou "o período mais difícil" desde a II Guerra Mundial nos últimos cinco anos, começou por dizer o primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak, no final de maio, quando anunciou a dissolução do Parlamento e a realização de eleições gerais antecipadas para esta quinta-feira, 4 de julho. 

Após anos de dificuldades, durante os quais os britânicos suportaram a pandemia da covid-19, o Brexit, as crises económicas e sociais, a invasão da Ucrânia pela Rússia, mas também vários escândalos e instabilidade política no país, os eleitores anseiam por um futuro melhor.

"Chegou o momento de o Reino Unido escolher o seu futuro, de decidir se quer aproveitar os progressos alcançados ou arriscar-se a voltar à estaca zero, sem um plano e sem certezas", anunciou o chefe do Governo britânico a 22 de maio.

Numa declaração à nação, em frente ao Número 10 de Downing Street, Rishi Sunak disse aos britânicos que "terão agora de escolher quem tem esse plano, quem está preparado para tomar as medidas corajosas".

Desde o anúncio surpresa e durante seis semanas de campanha eleitoral que os vários partidos políticos têm tentado convencer os eleitores das suas propostas para resolver as principais preocupações dos britânicos, nomeadamente o poder de compra, a degradação do serviço de saúde pública e a imigração.
Combate à imigração


O primeiro-ministro e líder do Partido Conservador, Rishi Sunak, fez do combate à imigração uma das suas principais bandeiras durante os 20 meses de mandato através da controversa política "Stop the boats", em português "Parar os Barcos", que chegam ao Reino Unido através do Canal da Mancha.

O programa do partido promete salvaguardar as fronteiras através de várias "medidas ousadas", entre as quais, o início de voos regulares para levar os requerentes de asilo para o Ruanda a partir deste mês, até que cessem as travessias do Canal da Mancha em pequenas embarcações, a implementação de um limite legal para a migração que diminuirá todos os anos ou a eliminação dos pedidos de asilo em atraso e processamento de todos os pedidos futuros no prazo de seis meses, com o objetivo de pôr termo à utilização de hotéis para alojar migrantes que chegam ao Reino Unido.


O Partido Trabalhista, liderado por Keir Starmer, apresenta-se como favorito nestas eleições gerais, com uma clara liderança nas sondagens. Com vontade de pôr fim "ao caos interminável do Partido Conservador" e iniciar "uma reconstrução do país", no campo da imigração os trabalhistas pretendem cancelar o plano de deportações para o Ruanda do Governo de Rishi Sunak, eliminar os pedidos de asilo em atraso, acabar com os hotéis de asilo e lançar um Comando de Segurança das Fronteiras para combater os grupos de tráfico de migrantes no Canal da Mancha.


O Partido Liberal Democrata, liderado por Ed Davey, responsabiliza os Conservadores pelos danos ao sistema de imigração britânico, ao "fecharem vias seguras e legais  de refúgio", e promete lutar por "um sistema de imigração justo e eficaz que trate toda a gente com dignidade e respeito", pode ler-se no programa. 

Os Liberais Democratas pretendem retirar ao Ministério britânico do Interior o poder de conceder vistos de trabalho e de estudante e de supervisionar as decisões em matéria de asilo, transferindo-o para outros organismos governamentais e acabar com o plano de deportação de requerentes de asilo para o Ruanda. Propõe ainda criar uma unidade específica para acelerar as decisões pendentes de asilo e resolver os casos que estão em atraso.


O partido de direita radical e anti-imigração Reform UK, de Nigel Farage, promete ser a alternativa que funciona para os britânicos, com "políticas de senso comum", nomeadamente no combate à imigração legal e ilegal que pretendem levar a cabo no Reino Unido. "Vamos congelar a imigração e parar os barcos", prometem no "contrato" eleitoral apresentado aos britânicos.

O Partido Reformista quer congelar a imigração "não essencial", abrindo uma exceção para pessoas com competências essenciais, principalmente no setor da saúde, devolver a França os migrantes que chegam ao território britânico através do Canal da Mancha e a saída do Reino Unido da Convenção Europeia de Direitos Humanos.


O partido ambientalista de esquerda acredita que "um mundo mais justo e mais verde é possível" e promete ser capaz de criar um país em que "todos estejamos mais seguros, mais felizes e mais realizados".

Para a imigração, os Verdes propõe substituir o ministério do Interior por um Departamento de Migração, simplificar o processo de pedido de visto e permitir que os requerentes de asilo no Reino Unido possam trabalhar enquanto aguardam o processamento do seu pedido.
Salvar o Serviço Nacional de Saúde (NHS)

A degradação do serviço de saúde pública, que enfrenta atualmente desafios sem precedentes, é uma das principais queixas entre os eleitores britânicos
, como constatou a correspondente da RTP no Reino Unido, Rosário Salgueiro.  

Utentes e profissionais de saúde querem uma mudança urgente pela mão do futuro inquilino do Número 10 de Downing Street.
Rosário Salgueiro, com imagem de Tiago Passos | Jornal da Tarde de 3 de julho de 2024


Os Conservadores pretendem aumentar as despesas do Serviço Nacional de Saúde (NHS) acima da inflação todos os anos e prosseguir com os programas de recrutamento de mais de 28 mil médicos e 92 mil enfermeiros até 2029 e de construção de 40 novos hospitais até 2030.


Os Trabalhistas prometem reduzir os tempos de espera do Serviço Nacional de Saúde com mais 40 mil consultas por semana, através de um complemento salarial para trabalhar aos fins-de-semana e à noite e aumentar os recursos do NHS, prevendo mais milhares de lugares de formação médica, modernização do equipamento e dos edifícios hospitalares.


Os Liberais Democratas pretendem recrutar mais oito mil médicos de clínica geral para que todos os britânicos tenham o direito de consultar o seu médico de clínica geral no prazo máximo de sete dias, ou de 24 horas em casos urgentes, e querem adotar um plano a dez anos de investimento e reparação dos hospitais.

Reformistas

Os Reformistas querem reduzir para zero as listas de espera do Serviço Nacional de Saúde, aumentando o recurso a prestadores de serviço independentes e introduzir um sistema de vouchers que permita aos utentes recorrerem ao setor privado, se os prazos de tratamento não forem cumpridos.  

A nível fiscal, prometem isentar os profissionais de saúde de imposto sobre o rendimento durante três anos e oferecer um desagravamento fiscal de 20 por cento sobre os cuidados de saúde privados e os seguros de saúde, uma forma de incentivar mais utentes a recorrer a alternativas ao serviço público.

Verdes

Os Verdes pretendem aumentar os orçamentos do Serviço Nacional de Saúde em oito mil milhões de libras por ano, mais de nove mil milhões de euros, e investir 20 mil milhões de libras, cerca de 23,5 mil milhões de euros, para a modernização de hospitais e centros de saúde. 

Assim como aumentar os salários dos profissionais de saúde, nomeadamente um aumento de 35 por cento para os médicos em formação, com vista à sua retenção e redução de listas de espera.
Recuperar o poder de compra

O Partido Conservador promete reduzir a contribuição para Segurança Social em mais dois por cento até 2027 e abolir o imposto para trabalhadores independentes. Aos reformados, o partido no poder promete que a pensão de reforma do Estado deixará de ser tributada como rendimento. E às famílias com filhos com idades compreendidas entre os nove meses e os cinco anos, promete 30 horas de cuidados infantis gratuitos por semana, a partir de setembro de 2025.


O Partido Trabalhista compromete-se a aumentar o salário mínimo, que tenha em conta o custo de vista, a não aumentar as taxas de impostos sobre o rendimento, o IVA ou a contribuição para a segurança social. Mas também a proteger o triplo bloqueio das pensões do Estado para que aumente de acordo com a inflação, os salários ou 2,5 por cento, a variável mais elevada.


O Partido Liberal Democrata quer reduzir os impostos para os trabalhadores, apoiar os pensionistas através da proteção do triplo bloqueio das pensões, e introduzir uma estratégia alimentar nacional para facer face ao aumento dos custos dos produtos alimentares.


O Partido Reformista pretende avançar com uma reforma, nos primeiros 100 dias de mandato, para "tornar o trabalho compensador", propondo a isenção de imposto sobre os rendimentos abaixo dos 20 mil libras, cerca de 23,600 mil euros, e a redução do imposto sobre os combustíveis em 20 cêntimos por litros e por fim, a eliminação do IVA e taxas ambientais sobre as faturas de energia. 

Os Reformistas pretendem ainda eliminar o imposto sucessório sobre todas as heranças inferiores a dois milhões de libras, cerca de 2,4 milhões de euros, prevendo um imposto de 20 por cento acima desse valor e a opção de doar para caridade.

O partido Verdes propõe-se introduzir um imposto anual de um por cento sobre a fortuna para os ativos superiores a dez milhões de libras, cerca de 12 milhões de euros, e de dois por cento sobre património acima de mil milhões de libras, aproximadamente 1,2 mil milhões de euros. Assim como aumentar o salário mínimo para 15 libras, cerca de 17,70 euros, para todas as idades, contra as atuais 11,44 libras para os maiores de 21 anos, 8,60 para jovens entre os 18 e os 20 anos e 6,40 para os jovens entre os 16 e os 17 anos.
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