No Reino Unido são cada vez mais as crianças e jovens aliciados por gangues para venderem droga em troca de dinheiro ou sob ameaça. As autoridades britânicas acreditam que esta exploração criminosa é mais elevada do que nunca na era moderna e que uma das razões para tal é a falta de apoio estatal aos menores.
“Estas crianças estão à procura de uma família e de segurança e pensam que o conseguem ao participar nestes esquemas”, explicou ao Guardian Shaun Sawyer, líder da polícia britânica no combate à escravatura moderna e tráfico humano.
O responsável considera que o número de crianças exploradas se encontra agora “semelhante ao da era vitoriana” e referiu que o reforço no corpo policial, prometido pelo Governo de Boris Johnson, é bem-vindo, mas alertou para a necessidade de mais medidas que protejam as crianças. A maioria dos jovens sujeitos à escravatura e tráfico humano no Reino Unido são de nacionalidade britânica.
“Estamos a ver mais exploração do que antes dos tempos modernos. Mais agentes na polícia serão um reforço positivo, mas não farão parar as causas deste problema”, defendeu.
“Uma das causas é o hiato entre os estabelecimentos de ensino e as casas disfuncionais”, explicou Sawyer. “Por razões compreensíveis trazidas pela austeridade, os serviços do Estado de apoio aos jovens foram reduzidos. É este hiato entre a escola e a família que os criminosos tentam ocupar”.
De acordo com Sawyer, estes jovens são, muitas vezes, treinados pelos gangues para operarem linhas telefónicas ilegais de venda de droga e para viajarem pelo país para venderem os narcóticos aos clientes.
Aumento de 94,5 por cento
Sawyer considera ainda que a atitude para com rapazes que são explorados por gangues deve ser alterada. “Raparigas que sejam exploradas sexualmente serão vistas como vítimas, mas é menos provável que as autoridades vejam como vítimas e não como criminosos os rapazes que são pressionados a trabalhar para gangues de droga”.
“Aceitamos que uma rapariga de 14 anos não tome a escolha de dormir com homens adultos. Eu não acredito que vender ou roubar drogas e entregar os lucros a adultos seja uma escolha informada”, defendeu.
De acordo com os dados da polícia, num período de três meses foram 638 as crianças e jovens com menos de 18 anos que relataram terem sido explorados por grupos criminosos, o que representa um aumento de 94,5 por cento em relação ao mesmo período do ano anterior.
Já os adultos alvo deste tipo de exploração no mesmo período foram 376, mais 142 por cento do que no período homólogo.