Em direto
Ataques de Israel matam líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, no Líbano. A evolução da guerra no Médio Oriente ao minuto

Reforço nas fronteiras alemãs. Vizinhos europeus irritados com extrema-direita a aplaudir

por Carla Quirino - RTP
Veículos da polícia alemã estão na fronteira em Kehl, Alemanha, com a França. Joachim Herrmann - Reuters

Arrancaram esta segunda-feira os controlos mais rígidos da fronteira terrestre alemã. As novas regras vão ficar implementadas durante pelo menos seis meses para combater a imigração ilegal, o que implica que Berlim pode rejeitar a entrada de pessoas. As críticas dos países vizinhos têm vindo a crescer enquanto a extrema-direita aplaude.

De acordo como o Ministério do Interior, entraram em vigor esta segunda-feira controlos terrestres mais rígidos nas fronteiras com a Áustria, Suíça, República Checa, Polónia, França, Luxemburgo, Holanda, Bélgica e Dinamarca.

O objetivo das autoridades alemãs - garante Berlim - é proteger a segurança interna e reduzir a migração ilegal.

Esta decisão faz parte de uma série de medidas que a Alemanha tomou para endurecer as políticas dirigidas à imigração ilegal após vários ataques mortais com facas, nos quais os suspeitos apontados eram requerentes de asilo.

Para além do aumento das chegadas, em particular de pessoas que fogem da guerra e da pobreza no Médio Oriente, pesa na equação o crescimento da extrema-direita alemã com o partido anti-imigração Alternative für Deutschland (AfD) a ganhar nas recentes eleições regionais na Thuringia.
Pressão da Europa de Schengen
Na Europa, a zona Schengen permite a livre circulação sem passaporte entre 25 países e mais quatro onde estão incluídas a Suíça e a Noruega. Este bloco já foi considerado uma das maiores conquistas europeias.

Apenas em situações excecionais - para evitar ameaças específicas à segurança interna ou à política pública - é que está previsto o reforço do controlo fronteiriço.

Mas, perante a pressão interna relacionada com as falhas para a resolução do problema da imigração descontrolada, o governo alemão liderado pelo chanceler Olaf Scholz decidiu endurecer a atitude em relação a migrantes e requerentes de asilo.

A ministra do Interior, Nancy Faeser, defendeu a medida acentuando que a Alemanha está a “fortalecer a segurança interna através de ações concretas”, insistindo também assim em manter uma “posição firme contra a migração ilegal”.

Este plano, que já está em curso, visa travar a entrada de um número significativo de migrantes que procuram asilo, sobretudo dos que chegam sem documentação fiável.

Faeser acrescentou, no domingo, que a medida visa limitar a migração ilegal e "acabar com os criminosos e identificar e deter os [radicais] islâmicos num primeiro momento".

A Polónia e a Áustria expressaram preocupação com ministro austríaco do Interior, Gerhard Karner, a alertar que o seu país "não aceitará pessoas rejeitadas pela Alemanha". Já o primeiro-ministro polaco, Donald Tusk, classificou a decisão da Alemanha de "inaceitável", acrescentando que Varsóvia solicitará conversações urgentes com todos os países afetados.

A Comissão Europeia lembrou que os membros do bloco de 27 países só devem impor tais medidas em circunstâncias excecionais.

Controlo em Boeglum, fronteira da Alemanha com a Dinamarca |Fabian Bimmer - Reuters

A Grécia e a Áustria já alertaram que não aceitarão migrantes rejeitados pela Alemanha.

O primeiro-ministro grego, Kyriakos Mitsotakis, argumentou que o endurecimento das fronteiras na Alemanha significa que “as situações de asilo vão passar essencialmente para a responsabilidade dos países localizados nas fronteiras externas da Europa".

Mitsotakis afirma ainda que a Alemanha “não pode eliminar Schengen unilateralmente”.

O ministro checo do Interior, Vit Rakusan, espera que “não haja grande mudança, isto porque as verificações apontam ser, na maioria, aleatórias”.

O Conselho de Migração da Alemanha já alertou que os planos do Governo correm o risco de violar as leis da UE.

“O atual objetivo político de fazer recuar (migrantes) que procuram proteção nas fronteiras da Alemanha representa uma forma perigosa de populismo no debate sobre política de migração”, sublinhou uma declaração, que pedia um “debate sobre política de migração na Europa baseado em factos”.

Já em casa, o partido da Alternativa para a Alemanha (AfD), conhecido pela agenda explicitamente anti-imigrante e anti-islâmica, regozija-se com a medida.
Nacionalistas europeus: “Bem vindos ao clube”
Cresce a tendência ideológica do fecho das fronteiras com a extrema-direita a exaltar as notícias vindas de Berlim. O primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbàn, já fez chacota do chanceler alemão na rede social X, onde escreveu: "Bundeskanzler Scholz, bem-vindo ao clube! #StopMigration".

O chefe de gabinete de Orbàn, Gergely Gulyás, disse que a fragilidade nas fronteiras externas da UE combinada com verificações mais rigorosas nas fronteiras internas estão a alinhar-se para “destruir a livre circulação”.

A Polícia Federal Alemã realiza verificações na A1/A30 na fronteira em De Lutte, Países Baixos, com a Alemanha |  Emiel Muijderman - EPA

Nos Países Baixos, o primeiro-ministro Dick Schoof revelou na sexta-feira que defende uma política de migração mais rigorosa para o país, dizendo que vai solicitar em breve uma exclusão da política comum da UE sobre asilos.

A coligação do governo holandês, constituída por quatro partidos e dominada pelo Partido da Liberdade de extrema-direita de Geert Wilders, quer declarar uma "crise de asilo" para conter o fluxo de migrantes. Com este foco, o executivo de Schoof pretende elaborar um conjunto rígido de regras, onde será incluído o controlo de fronteiras.
Wilders deixou claro que a decisão de Berlim foi uma “ótima ideia”.

O partido de extrema-direita Irmãos da Itália, de Giorgia Meloni, também elogiou a decisão de Berlim.

Da França, Marine Le Pen, declarou que o seu partido Rassemblement National propôs um “sistema duplo de fronteira externa e interna” mas fui informada de que essa medida não era possível. Agora a Alemanha está a aplicá-la”. Por isso Le Pen deixa o desafio: “Quando é que a França seguirá esse caminho?”.
Tópicos
PUB