Redução das emissões de CO2. Duas décadas depois, aviação comercial britânica falha 49 objectivos em 50
A acusação emerge de um estudo encomendado no Reino Unido pela organização Possible, uma organização com sede em Londres que aborda as alterações climáticas deixando propostas para uma abordagem quotidiana para solucionar o problema. O relatório conclui que, das 50 propostas da indústria da aviação, em duas décadas 49 ficaram pelo caminho, esquecidas ou sujeitas a reajustamentos. Conclusões que a Possible diz serem a prova de que as companhias são incapazes de se auto-regularem nas questões verdes, como parece acreditar o governo britânico.
Na análise proposta pelo relatório, os investigadores constatam que definições de metas pouco claras, monitorização opaca e relatórios inconsistentes dificultaram a avaliação de muitos objectivos, com muitos desses objectivos a serem também subitamente alterados, substituídos ou abandonados durante o período de estudo. Apesar de tudo, ainda que as metas tivessem sido cumpridas, assinalaram os investigadores, muitas delas eram insuficientemente ambiciosas para conseguirem uma redução no impacto climático da aviação.
Por outro lado, os resultados do estudo são claros: em 50 objectivos traçados pela indústria da aviação, 49 ficaram pelo caminho, sustentando a crítica dos activistas que esses planos não passam de uma cortina de fumo para práticas comerciais agressivas. A definição desses objectivos destina-se, refere o relatório agora conhecido, a travar a implementação de medidas governamentais que coloquem uma barreira ao crescimento do sector.
“Esta investigação mostra o quão implausível e crédula é a estratégia do governo das emissões zero da aviação. Como podemos esperar que a indústria venha a mostrar uma redução de emissões, quando nunca atingiu nenhum dos seus objetivos climáticos anteriores?”, questionou Leo Murry, director para a Inovação da Possible.
Voos com 2,1% das emissões de dióxido de carbono
De acordo com o Air Transport Action Group, um colectivo de especialistas do sector da aviação com sede em Genève que aborda as questões do desenvolvimento sustentável, as viagens aéreas representaram 2,1% das emissões de dióxido de carbono produzidas pelo homem em 2019, o equivalente a cerca de 915 milhões de toneladas. Estima-se que 15% das pessoas sejam responsáveis por 70% de todos os voos, diz a Possible.
Será nesse sentido que Leo Murry deixa uma proposta: “É evidente que temos de exigir a redução das emissões através da implementação de uma taxa para os passageiros frequentes, o que desencorajaria o voo frequente de um pequeno grupo de pessoas que origina a maior parte das emissões dos aviões”.
O caso da Virgin Atlantic
A Virgin Atlantic é uma empresa particular no negócio da aviação comercial. Fundada por Richard Branson, antes de tudo um empresário do mundo da música, teve uma implementação muito fundada na etiqueta de música Virgin. Foi assim que, em 2007, a companhia fixou como meta uma redução de 30% no CO2 por tonelada de receitas (CO2/RTK) até 2020.
“Um grande objectivo e estamos a mantê-lo”, nas palavras da própria Virgin Atlantic.
No entanto, num relatório interno de 2014, com uma redução de CO2/RTK de apenas 8%, a companhia já admitia estar “quase a meio do nosso período de meta e sabemos que temos de acelerar o ritmo”. E, sustentando as conclusões dos investigadores, o relatório anual para 2020 já não mencionava essa meta para 2020. No ano seguinte, um comunicado da Virgin anunciou o corte para metade do objectivo inicial: uma redução de 15% de CO2/RTK até 2026.
Cimentando a conclusão de que a definição de metas pelas transportadoras é muitas das vezes uma mera cortina de fumo para as suas práticas agressivas, os investigadores citam no relatório uma declaração do CEO da Virgin: “É importante que a indústria da aviação seja vista a fazer qualquer coisa”, afirmava Steve Ridgway em 2007.