A rede social Parler, popular entre os apoiantes de Donald Trump e conotada pelos seus detratores com movimentos extremistas de direita nos Estados Unidos, voltou a estar parcialmente ativa, através de uma empresa tecnológica de propriedade russa, depois de ter sido expulsa da Amazon Web Services (AWS) dia 10 de janeiro e de a Apple e a Google a terem removido das suas lojas de aplicações.
O site da Parler, Parler.com, reativou-se domingo, com uma mensagem do seu presidente executivo, John Matze. "Olá, mundo, isto está ligado?", perguntava. O site está dominado por uma mensagem titulada "problemas técnicos", dirigida aos subscritores, na qual Matze relembra os objetivos da rede e explica que está a fazer o possível para restaurar as funcionalidades perdidas.
Segunda-feira foi publicado um link para uma entrevista de Matze à Fox News, na qual o CEO da Parler afirmou "confiar" no regresso da plataforma até ao final do mês.
"O nosso regresso é inevitável devido ao trabalho duro e persistência contra tudo. Apesar das ameaças e perseguição, nenhum funcionário da Parler se demitiu. Estamos mais próximos e mais fortes enquanto equipa", garantiu Matze.
Outros usuários manifestaram igualmente o propósito de continuar "a lutar".
"Se forem autorizados a silenciar-nos, poderão calar qualquer pessoa. Isso termina agora. Por favor alinhem connosco nesta luta pela liberdade, verdade e liberdade", escreveu Dan Bongino, um dos alegados donos da Parler.
Ronald Guilmete, um especialista em infraestruturas de comunicação digital, revelou à agência de notícias Reuters que o novo endereço de internet utilizado (IP) por Matze e pela Parler é propriedade da DDoS-Guard, uma empresa que fornece serviços tecnológicos de proteção a ataques e por recusa de distribuição de sinal.
Ironia à russa
A DDoS-Guard é propriedade de dois russos, Aleksei Likhachev e Evgeniy Marchenko. Foi criada através de uma parceria limitada, uma estrutura financeira da Escócia que permite a não-residentes criarem empresas, denominada Cognitive Cloud, com endereço em Edinburgo.
Entre estes está o Ministério da Defesa russo e organizações de media de Moscovo. Um pormenor que está a ser considerado irónico para uma rede de "patriotas" norte-americanos, como é também apelidada a Parler. Outros críticos apontam riscos de segurança devido às ligações à Rússia.A reativação do site da Parler irá permitir aos seus membros ler e publicar comentários e conteúdos através de computadores. A aplicação telemóvel, contudo, foi banida das lojas Apple e Google, pelo que não poderá ser utilizada pela maioria dos telemóveis no mercado.
A expulsão da Parler seguiu-se à invasão do Capitólio nos Estados Unidos dia 6 de janeiro, que muitos suspeitam terá sido coordenada através dos subscritores da rede. A razão oficial foi a falta de moderação dos usuários, devido aos seus apelos à violência e publicação de vídeos em celebração do ataque ao edifício que aloja o Congresso e o Senado norte-americanos.
Quarta-feira passada, Matze disse à Reuters que a sua rede estava em contactos com diversos fornecedores de serviços de internet, sem acrescentar detalhes. A Parler apresentou entretanto queixa contra a Amazon pelo corte do fornecimento de serviços.
Além do CEO John Matzer, a Parler não divulgou as identidades dos seus outros proprietários. Rebekah Mercer, investidora conhecida pelas contribuições a indivíduos e organizações de cariz conservador, é uma das co-fundadoras e Dan Bongino, conservador e comentador político, diz ser um dos donos da empresa.
De acordo com dados fornecidos pela Parler, em janeiro de 2021 o seu serviço tinha cerca de 15 milhões de subscritores, dos quais 2.3 milhões usuários ativos em dezembro de 2020.