O ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal, Paulo Rangel, sublinhou hoje que, "apesar de tudo", os moldavos disseram sim à integração na União Europeia no referendo de domingo, o que é motivo de "alguma tranquilidade e de alguma esperança".
"O resultado, apesar de tudo, foi um sim, independentemente de ter havido ou não alguma interferência. Isso é positivo", disse Rangel, que reconheceu que a influência da Rússia numa parte do território da Moldova causa "profunda perturbação" na "vida democrática normal" do país.
Moscovo tem cerca de 1.500 soldados estacionados na Transnístria, uma região governada por separatistas pró-Rússia que se libertaram do controlo do Governo da Moldova numa breve guerra na década de 1990.
Rangel, que falava com jornalistas portugueses hoje em Madrid, disse que o Governo português olha com preocupação os alertas da Presidente da Moldova sobre as interferências da Rússia, mas insistiu em que ter havido uma vitória do sim à integração na União Europeia (UE) no referendo, apesar de tudo, significa que "as coisas podem seguir em frente".
"E, portanto, penso que isso é motivo de alguma tranquilidade e de alguma esperança, porque o horizonte europeu da Moldova é fundamental para o país, é importante para a União Europeia e penso que é importante também para a região e, em particular, para a Ucrânia", um país vizinho e atacado militarmente pela Rússia, acrescentou o chefe da diplomacia portuguesa.
O "sim" à inclusão da adesão à UE como um objetivo nacional na Constituição da Moldova obteve 50,39% dos votos no referendo de domingo, segundo os resultados preliminares apresentados hoje pela Comissão Eleitoral Central (CEC).
A CEC indicou tratar-se de resultados que correspondem a 99,41% dos votos, faltando ainda concluir a contagem dos votos do estrangeiro.
A Moldova candidatou-se à adesão à UE em março de 2022, tendo-lhe sido concedido o estatuto de país candidato em junho do mesmo ano. Em dezembro de 2023, os dirigentes da UE decidiram iniciar as negociações de adesão.
Após o início do escrutínio de domingo, que dava inicialmente uma clara vitória aos adversários da entrada da Moldova na UE, a Presidente do país, Maia Sandu (pró-ocidental), denunciou a existência de uma fraude e da interferência russa no processo.
"Temos provas e informações de que um grupo criminoso pretendia comprar 300 mil votos. Esta é uma fraude sem precedentes cujo objetivo é comprometer a democracia. O seu objetivo é semear o medo e o pânico na sociedade", afirmou a Presidente, numa declaração aos meios de comunicação social.
Sandu sublinhou na mesma ocasião que "hoje, tal como nos últimos meses, a liberdade e a democracia na Moldova estão sob ataques sem precedentes".
Também a Comissão Europeia denunciou hoje uma "interferência e intimidação sem precedentes", por parte da Rússia, no referendo.
Em simultâneo com o referendo, decorreram as votações da primeira volta das eleições presidenciais, que Sandu venceu com cerca de 42% dos votos, enfrentando agora uma segunda volta, em 03 de novembro, com o candidato pró-russo Alexander Stoianoglo (26% dos votos).
"Estivemos a acompanhar de muito perto as votações [de domingo], o referendo e as eleições presidenciais na Moldova. A Moldova é um parceiro muito importante da UE e é de assinalar que esta votação teve lugar sob uma interferência e intimidação sem precedentes por parte da Rússia e dos seus representantes, com o objetivo de desestabilizar os processos democráticos na República da Moldova", reagiu o porta-voz do executivo comunitário para os Negócios Estrangeiros, Peter Stano.
"Estamos agora a aguardar o anúncio final dos resultados oficiais de ambas as votações e o anúncio dos observadores eleitorais da Comissão Central de Eleições, o que deverá acontecer hoje à tarde, e, depois disso, apresentaremos a nossa reação oficial", acrescentou, falando na conferência de imprensa da Comissão Europeia, em Bruxelas.
"Obviamente que, no que toca à adesão da Moldova [à UE], continuamos a apoiar plenamente as suas ambições, as suas aspirações e os seus esforços", garantiu Peter Stano.