Isabel Alexandra Maria, mais conhecida por Rainha Isabel II da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte, celebra esta sexta-feira 80 anos de idade, sem problemas de saúde e com índices de popularidade intocáveis.
Apesar dos escândalos que afectaram a família Real nos últimos 15 anos e da insistência com que a imprensa inglesa discute a possibilidade de a monarca se reformar, todas as sondagens têm mostrado que o povo britânico quer ver Isabel II no trono até ao dia em que morrer.
Grande parte deste afecto popular existe desde o momento em que a princesa nasceu, na madrugada de 21 de Abril de 1926, quando ainda ninguém suspeitava que um dia pudesse ascender ao trono.
Na altura, o rei em funções era Jorge V e o herdeiro ao trono era o seu filho mais velho, Eduardo, tio de Isabel.
Em teoria, Isabel era apenas o terceiro nome na linha da sucessão, depois do tio e do pai, além de que qualquer um deles ainda podia ter um filho varão que se colocaria à frente da jovem no caminho para a chefia do Império britânico.
O escritor e jornalista Ben Pimlott, autor de uma das biografias mais conhecidas da monarca, "A Rainha", explica que, "apesar de as hipóteses serem muito remotas, a imprensa entrou numa espécie de histeria com a infanta, talvez porque numa altura de depressão económica o seu nascimento fosse visto como um sinal de esperança".
A euforia levou a que Isabel começasse a ser chamada o "bebé mais conhecido do mundo" e que a alcunha que ela criou a si própria, "Lilibet", ainda hoje utilizada pela família, percorresse rapidamente o mundo.
Em 1929, com apenas três anos de idade, a febre em redor da "Princesa Lilibet" chegava a quase todos os jornais europeus e à capa da revista Time.
Desta fase de criança, todos os biógrafos realçam a atenção especial que lhe dava o Rei, seu avô, que terá tido mais atenção com a neta do que com os próprios filhos.
Num relato que já foi transcrito por vários autores britânicos, o Arcebispo de Cantuária conta como uma vez encontrou o Rei a brincar com a neta, de gatas, imitando um cavalo, enquanto Isabel lhe puxava as barbas.
Quando Jorge V morreu, em Janeiro de 1936, a viúva Rainha Maria encarregou-se de educar as duas netas, Isabel e Margarida, mas não o pôde fazer por muito tempo, porque a vida das princesas viria a sofrer uma mudança radical.
Por causa de uma relação com uma mulher divorciada, o tio Eduardo, que sucedeu a Jorge V e se tinha tornado Rei Eduardo VII, foi obrigado a abdicar ao trono e dar lugar ao pai de Isabel, que assim se tornou Jorge VI.
Apesar de atribulada, esta sucessão de monarcas não foi tão marcante para a princesa como os dois grandes eventos que marcariam o reinado do seu pai: a revolução na Índia, com a consequente queda do Império britânico, e a segunda Guerra Mundial.
Brian Hoey, outro dos biógrafos da rainha, diz que foi "a maturidade mostrada nesta altura da adolescência, que fez a rainha ganhar a admiração junto da sua própria família".
Em 1945, assim que a paz chegou a Londres e já era claro que Isabel seria a próxima monarca, todo o país começou a especular sobre quem seria o príncipe-consorte.
De acordo com Marion Crawford, a ama que acompanhou a rainha durante toda a sua infância e juventude - e que se tornou na primeira pessoa a trair a confiança da família real britânica publicando as suas confidências em 1950 -, o casamento era visto na própria família real "como obrigatório. Seria impensável que não acontecesse".
A princesa sentia essa pressão e escolheu um dos poucos pretendentes que cumpriam os requisitos familiares, o príncipe Filipe, descendente do trono da Grécia e da Dinamarca, e que com a união à princesa britânica ganhou o título de Duque de Edimburgo.
Um ano depois do casamento, em 1948, nascia o Príncipe Carlos, actual herdeiro do trono, seguido, em 1950, pela Princesa Ana.
Isabel, ainda princesa, quase não teve tempo para gozar a maternidade, porque em 1951 o estado de saúde do pai, debilitado por causa de um cancro de pulmão, obrigou-a a substituir o monarca em viagens de Estado ao estrangeiro.
Numa dessas viagens, quando estava no Quénia, em Fevereiro de 1952, a herdeira do trono foi informada da morte do pai.
Dia 2 de Junho de 1953, a princesa que nunca foi preparada para ser monarca, porque as suas hipóteses eram remotas, tornava-se então Isabel II, Rainha da Grã-Bretanha, Irlanda do Norte e de todas as 16 nações independentes da Commonwealth.
Nos anos seguintes, teve mais dois filhos, o príncipe André e o príncipe Eduardo, e restabeleceu na monarquia britânica a imagem de solidez que só a sua antepassada rainha Vitória tinha conseguido.
Fê-lo com uma enorme discrição pessoal, provada no facto de até hoje, nos 52 anos de reinado, Isabel II nunca ter dado uma entrevista à comunicação social e dessa forma nunca ter divulgado qualquer opinião política.
Apenas os seus gostos pela pintura, pela fotografia e sobretudo pelos animais foram revelados à opinião pública de uma forma aberta, mas controlada.
Um dos poucos momentos em que a monarca britânica mostrou publicamente o seu estado de ânimo foi quando descreveu o terrível ano de 1992, em que os seus dois filhos formalizaram as suas separações conjugais, ambas envoltas em escândalos, e em que ardeu uma parte do castelo de Windsor, a sua "casa favorita".
"Parafraseando um dos meus ajudantes, foi um annus horribilis", resumiu a rainha, que voltou a passar uma época negra quando em 2002, no espaço de dois meses, perdeu a mãe e a irmã.
A idade, no entanto, parece ter dado mais emoção a Isabel II, que nos últimos três anos já se comoveu em público pelo menos duas vezes, na homenagem às vítimas do 11 de Setembro e aos combatentes da II Grande Guerra, e tem sido fotografada a sorrir com muito mais frequência do que em qualquer outra altura da sua vida.