A Rainha Isabel II aprovou esta quarta-feira o pedido do primeiro-ministro britânico para suspender o Parlamento até 14 de outubro. A decisão faz com que os deputados tenham apenas pouco mais de duas semanas para debater o Brexit. O pedido de Boris Johnson está a ser visto na generalidade como uma manobra para impedir que os membros do Parlamento bloqueiem uma saída do Reino Unido da UE sem acordo.
“Posso confirmar que, a 9 de setembro, ambas as Câmaras irão debater as moções sobre os primeiros relatórios relativos à Irlanda do Norte (…). Após estes debates, iremos iniciar as preparações para o fim da sessão parlamentar até ao discurso da Rainha” a 14 de outubro, explicou.
Boris Johnson’s letter to MPs conforming prorogation of Parliament pic.twitter.com/OvtZ7cIwOA
— Jessica Elgot (@jessicaelgot) August 28, 2019
O discurso da Rainha faz parte da tradição que marca a abertura dos trabalhos do Parlamento todos os anos. Na cerimónia anual, a monarca lê um discurso preparado pelo Governo no qual revela a agenda legislativa para o ano seguinte.
O pedido de suspensão do Parlamento mereceu diversas críticas. John Bercow, presidente da Câmara dos Comuns, foi um dos que considerou que “a manobra representa uma falha constitucional”.
“É óbvio que o objetivo de uma prorrogação neste momento seria travar o Parlamento de debater o Brexit e desempenhar o seu dever de moldar um caminho para o país. Neste momento, um dos mais desafiantes na história da nossa nação, é vital que o nosso Parlamento eleito tenha uma palavra a dizer. Afinal de contas, vivemos numa democracia parlamentar”.
Já o líder da oposição, Jeremy Corbyn, disse estar “chocado com a imprudência do Governo de Johnson, que fala de soberania e ainda assim está a tentar suspender o Parlamento para evitar o escrutínio dos seus planos para um Brexit sem acordo e desastroso”.
“Isto é um ultraje e uma ameaça à nossa democracia. É por isto que o Partido Trabalhista tem estado a trabalhar no Parlamento para responsabilizar este Governo inconsciente e para prevenir a desastrosa ausência de acordo que o Parlamento já descartou”.
Algumas horas depois, Jeremy Corbyn anunciou o envio de uma carta à Rainha na qual expressou a sua preocupação sobre o plano do primeiro-ministro, pedindo ainda para se reunir com a monarca.
Em resposta a estas e outras acusações, Boris Johnson negou que esteja a tentar impedir o Parlamento de bloquear o Brexit.
“Se olharem para o que estamos a fazer, estamos apenas a trazer um novo programa legislativo. Haverá tempo de sobra para ambas as partes na crucial cimeira (de líderes europeus) a 17 de outubro, tempo de sobra no Parlamento para que os deputados debatam a UE, o Brexit e todos os outros assuntos”, argumentou.