Rafael Grossi no Irão. Espaço para soluções diplomáticas sobre programa nuclear está "a diminuir"
O diretor da Agência Internacional de Energia Nuclear, Rafael Grossi, chegou esta quarta-feira a Teerão para debater o alargamento do acesso ao programa nuclear iraniano. E levou um aviso. Há cada vez menos espaço para encontrar soluções diplomáticas.
Um objetivo que Israel e o Ocidente acusam Teerão de perseguir há vários anos. Apesar de negar tal intenção, o regime dos Ayatolas pretende destruir Israel e, caso adquira a bomba nuclear, o equilíbrio no Médio Oriente será gravemente afetado.
Segunda-feira, o novo ministro israelita da Defesa, Israel Katz, afirmou que a República Islâmica está "mais exposta do que nunca a ataques às suas instalações nucleares". Telavive poderá decidir agir por antecipação, de forma a evitar que Teerão consiga desenvolver uma bomba. E poderá para isso contar com o apoio do presidente eleito norte-americano, Donald Trump.
"As margens de de manobra começam a diminuir", afirmou à Agência France Presse antes da visita a Teerão. " É imperativo conseguir formas de conseguir soluções diplomáticas", acrescentou.
A IAEA está autorizada a realizar inspeções ao programa nuclear iraniano, mas Grossi sublinhou a necessidade de "maior visibilidade", devido à sua escala e ambição.
"Têm muitos materiais nucleares que poderiam usar
eventualmente para fabricar uma arma nuclear", afirmou o diretor da
agência à CNN, esta terça-feira, acrescentando que "neste momento não
têm uma arma nuclear".
A IAEA diz que o Irão aumentou consideravelmente as suas reservas de urânio enriquecido para 60 por cento, perto dos 90 por cento necessários para desenvolver uma bomba atómica.
Esta é a primeira visita de Grossi desde maio. Em comunicado, a agência referiu que irá "reunir-se com o Governo iraniano a alto nível" com quem irá ter "discussões técnicas sob todos os aspectos".
Grossi foi recebido em Teerão por Behrouz Kamalvandi, vice-diretor da OIEA, a Organização Iraniana para a Energia Atómica. Deverá ainda reunir-se com o diretor da Organização, Mohammad Eslami, e com o ministro iraniano dos Negócios estrangeiros, Abbas Araghchi ,que tem sido o grande negociador com as grandes potências mundiais sobre o programa nuclear do país.
Até agora, Teerão tem agido militarmente contra Israel por procuração, através de grupos como o Hamas, na Palestina, o Hezbollah, no Líbano, e, mais recentemente, os Houthi, no Iémen.
Desde o ataque de 7 de outubro de 2023 do Hamas, contra Israel, que levou ao corrente conflito na Faixa de Gaza, a par do envolvimento posterior do Hezbollah e dos Houthi, a tensão no Médio Oriente não cessa de se agravar.
O Irão lançou nos últimos meses dois ataques com mísseis contra Israel. O primeiro em abril, em resposta a um alegado ataque aéreo israelita a Damasco, que vitimou um comandante dos Guardas da Revolução iranianos. O segundo em outubro, depois de Israel ter assassinado líderes do Hezbollah.
Israel retaliou no mês passado com um ataque aéreo a instalações militares e energéticas iranianas.
Alta tensão
A visita de Grossi a Teerão ocorre num clima de tensão crescente. Coincide ainda com a vitória, há uma semana, de Donald Trump nas eleições presidenciais dos Estados Unidos.
O presidente eleito já deu vários sinais de que apoia incondicionalmente o Governo de Telavive e de um ataque israelita a alvos nucleares iranianos é uma estratégia aceitável, algo que o atual presidente americano, Joe Biden, desaconselhou firmemente.
No seu primeiro mandato, entre 2017 e 2021, Donal Trump conduziu igualmente uma política de "pressão máxima" contra o Irão, retirando em 2018 os Estados Unidos do acordo internacional assinado em 2015 pelo antecessor, Barack Obama, que permitira ao regime iraniano regressar à cena internacional em troca do sacrifício de parte do seu programa nuclear.
Trump acusou Teerão de nunca ter cumprido o acordo. Na semana passada, referiu que não pretende prejudicar o Irão mas sim ajudar o seu povo a desenvolver "um país de sucesso", enquanto insistia que "eles", os Ayatolah, "não podem ter uma arma nuclear".
Em 2019, Teerão retomou gradualmente o enriquecimento de urânio, quebrando os termos do acordo, que previa limites de 3.65 de pureza.