Quem são os mercenários do Grupo Wagner que estão na Ucrânia?

por Inês Moreira Santos - RTP
EPA

Conhecido como o "exército particular de Putin", o Grupo Wagner estará a combater no leste da Ucrânia. Segundo a inteligência militar britânica, pelo menos mil mercenários pertencentes a esta organização paramilitar russa foram enviados, desde fevereiro, para território ucraniano.

As forças russas continuam a consolidar-se e a organizar-se à medida que intensificam a ofensiva na região do Donbass, no leste da Ucrânia”, declarou o Ministério da Defesa do Reino Unido, numa publicação no Twitter.

“Tropas russas, incluindo mercenários da organização militar privada Wagner, ligada ao Estado russo, estão a ser transferidas para a região", acrescenta.


No início de fevereiro, ainda antes da invasão russa à Ucrânia, a inteligência militar britânica alertou que Moscovo teria retirado parte dos mercenários do Grupo Wagner que estavam na República Central Africana e os estaria a enviar para a Ucrânia.

Na altura, a notícia avançada pela imprensa citava dois oficiais do exército da RCA que garantiam que um número sem precedentes de mercenários russos, pertencentes a esta organização, tinha deixado o país rumo à Europa Oriental em janeiro. Segundo as mesmas fontes, mais soldados russos estavam a preparar-se para partir de África, nas semanas seguintes.

Mais recentemente, a 29 de março, a Newsweek divulgou informação de que o grupo Wagner estava a enviar pelo menos mil mercenários para o leste da Ucrânia. E já no início de março, os militares ucranianos tinham relatado confrontos perto de Kiev com membros do grupo militar privado.

Também no mês passado, a Defesa britânica divulgou relatórios que indicavam que os mercenários do Grupo Wagner tinham sido enviados para a Ucrânia, pelo presidente russo, com a missão de assassinar o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, depois deste ter assumido ser o "alvo número um" do Kremlin.

Jeremy Fleming, chefe da agência de inteligência britânica GCHQ, disse que o grupo de mercenários provavelmente está a ser usado para minimizar as perdas militares oficiais russas. Além disso, Moscovo pode, assim, negar as violações de direitos humanos cometidas pelos combatentes Wagner.
O que é o Grupo Wagner?

O Grupo Wagner, que ganhou notoriedade internacional pela primeira vez na Ucrânia no auge da incursão de 2014, enviou mais de 1.100 russos para a RCA. No continente africano, os seus combatentes também tem estado envolvidos na Líbia, Sudão, Moçambique e Mali.

Embora o Kremlin sempre tenha negado as alegadas ligações do Governo russo ao Grupo Wagner, a verdade é que já foram enviadas forças especiais para várias zonas de combate, inclusive em África, de acordo com a própria política externa de Vladimir Putin. Há quem apelide estes combatentes de “exército privado” do presidente russo.

A organização foi fundada por Dmitry Utkin, antigo membro das Forças Especiais russas e atualmente está sob sanções dos Estados Unidos e a União Europeia por ajudar separatistas apoiados pela Rússia no leste da Ucrânia. Estes mercenários são acusados por países ocidentais, como França, Reino Unido e Alemanha, de realizar operações clandestinas desestabilizadoras ao serviço de Moscovo em países em conflito, como a Ucrânia ou em nações africanas.

O criador desta organização é um veterano das guerras da Chechénia, ex-oficial das forças especiais e tenente-coronel do GRU, o serviço de inteligência militar da Rússia.

Como explicou à BBC Tracey German, o Grupo Wagner entrou em ação pela primeira vez durante a anexação da Crimeia pela Rússia em 2014.

"Acredita-se que este mercenários sejam alguns dos 'homenzinhos verdes' que ocuparam a região"
, detalhou a professora de Conflito e Segurança do King's College London. "Cerca de mil dos seus mercenários apoiaram as milícias pró-russas que lutavam pelo controlo das regiões de Luhansk e Donetsk".

"Gerir um exército mercenário é contra a constituição russa", acrescentou. "No entanto, o Grupo Wagner fornece ao Governo uma força que é inegável. Pode envolver-se no exterior e o Kremlin pode dizer que 'não tem nada a ver connosco'".

De acordo com as informações da inteligência militar britânica, Utkin já terá sido chefe de segurança de Yevgeny Prigozhin, um oligarca russo com laços estreitos ao Kremlin e que se tornou famoso como dono de um restaurante frequentado pelo presidente russo, sendo conhecido por “chef de Putin”. E os dados levam a crer que Progozhin financie o Grupo Wagner, embora o mesmo o negue.

Sabe-se, no entanto, que a organização recrutou muitos militares da agência de inteligência militar russa conhecida como GRU.

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