Era o líder da al-Qaeda deste a morte de Osama bin Laden em 2011 e um dos terroristas mais procurados do mundo. Ayman Al-Zawahiri foi um dos cérebros que delineou e preparou os ataques do 11 de Setembro de 2001. Foi morto este fim de semana num ataque de drone da CIA, indicaram as autoridades norte-americanas.
Há precisamente um ano, quando as forças norte-americanas saíram do Afeganistão em agosto de 2021, a Administração Biden assegurou que os Estados Unidos manteriam a capacidade de desencadear ataques à distância contra forças terroristas, mesmo com o poder novamente nas mãos dos taliban. Esta foi a primeira incursão contraterrorista desde a retirada.
De acordo com um responsável da administração Biden, o ataque ocorreu pelas 21h48 da noite de sábado (hora em Washington D.C.). Um drone norte-americano disparou dois mísseis Hellfire contra Al-Zawahiri no momento em que saiu para a varanda da casa onde vivia com vários membros da sua família em Cabul.
A casa estava localizada no bairro de Shirpur, no centro de Cabul, uma zona residencial exclusiva na capital afegã, onde a elite política e económica no Afeganistão se tem concentrado nos últimos anos.
De acordo com os serviços secretos norte-americanos, o ataque deste fim de semana vitimou apenas o líder terrorista, depois de vários meses de vigilância e observação dos comportamentos e hábitos de Zawahiri.
Do Egito para o Afeganistão
“Matar americanos e os seus aliados – civis e militares – é um dever individual de qualquer muçulmano que possa fazê-lo em qualquer país que seja possível fazê-lo”. A frase é retirada de um manifesto de Ayman Al-Zawahiri divulgado em 1998.
Três anos depois, as palavras de Zawahiri concretizavam-se. Ajudou a planear os ataques contra o World Trade Center e o Pentágono em 2001. Mas o histórico de ligação a ações terroristas é muito anterior ao 11 de Setembro.
Ayman Al-Zawahiri nasceu a 19 de junho de 1951 no Cairo, Egito, numa família de médicos. Desde muito novo, Zawahri foi influenciado pelo trabalho de Sayyid Qutb, um intelectual egípcio radicalizado, ligado à Irmandade Muçulmana, sendo considerado uma das principais influências na formação da al-Qaeda.
Nos anos 70, Zawahiri formou-se como médico-cirurgião. Mesmo assim nunca deixou de estar ligado a movimentos extremistas, nomeadamente o grupo Jihad Islâmica, que ajudou a fundar. Em 1980, foi convidado a viajar para o Afeganistão para prestar cuidados médicos aos islamitas que então combatiam as forças soviéticas.
Em 1981, após o assassinato do presidente egípcio Anwar Sadat por militantes do grupo terrorista que liderava, Zawahiri foi detido e passou três anos na prisão, onde foi torturado.
Três anos mais tarde, aquando da libertação, Zawahiri voltou ao Afeganistão e tornou-se próximo de Osama Bin Laden, seguindo o futuro líder da al-Qaeda até ao Sudão nos anos seguintes.
Com o dinheiro e o carisma de Bin Laden, Zawahiri trouxe as táticas e o conhecimento do grupo egípcio Jihad Islâmica. Foi ele quem promoveu a execução de ataques com recurso a bombistas suicida, um método que se tornaria na imagem de marca da Al Qaeda.
Expulsos do Sudão em 1996, os dois líderes terroristas regressaram ao Afeganistão sob proteção dos taliban.
É nesta altura que surgem os primeiros grandes ataques coordenados por Bin Laden e al-Zawahiri, nomeadamente o bombardeamento das embaixadas norte-americanas no Quénia e Tanzânia em 1998 ou o atentado contra o destroyer USS Cole em 2000.
Na sequência dos ataques de 11 de Setembro de 2001, as forças norte-americanas invadiram o Afeganistão. Um ataque aéreo norte-americano na cidade afegã de Kandahar matou a mulher e dois filhos de Zawahri, mas os dois líderes da al-Qaeda escaparam para o Paquistão.
Nos últimos anos desde a morte de Osama Bin Laden em 2011, Zawahri liderou a Al Qaeda num contexto de declínio. Com grande parte dos combatentes e líderes mortos ou em esconderijos, o grupo tornou-se irrelevante na região com a emergência de novos movimentos fundamentalistas, nomeadamente o autoproclamado Estado Islâmico.
Um porto seguro para terroristas?
O ataque que matou Zawahri ocorreu na cidade de Cabul um ano após a retirada norte-americana do Afeganistão, em agosto de 2021. Com os taliban no poder, um dos maiores receios em Washington era que o território se voltasse a tornar num porto seguro para terroristas e radicais.
Horas após o anúncio da morte de Ayman Al-Zawahiri, o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, acusou o regime taliban de violar “grosseiramente” os acordos de Doha, ao acolher o líder da Al Qaeda na capital afegã. Segundo esse pacto, assinado em 2020, os talibãs assumiram o compromisso de não oferecerem refúgio a grupos terroristas como no passdo.
"À luz da relutância ou incapacidade dos taliban em honrar os seus compromissos, continuaremos a apoiar o povo afegão com assistência humanitária e a defender a proteção dos seus direitos humanos, especialmente os das mulheres e raparigas", indicou o secretário de Estado.
Na segunda-feira, o presidente norte-americano Joe Biden confirmou a morte do terrorista: “Fez-se justiça, este líder terrorista está morto. Pessoas de todo o mundo já não terão de temer este terrível assassino”.
“Os Estados Unidos continuam a mostrar a sua determinação e a sua capacidade de defender os norte-americanos de todos os que nos querem fazer mal”, acrescentou.
“Demore o tempo que demorar, onde quer que se esconda, se for uma ameaça para o nosso povo, os EUA vão encontrá-lo e eliminá-lo”, vincou Joe Biden.
O presidente norte-americano garantiu ainda que os Estados Unidos não irão permitir “nunca mais” que o Afeganistão “se torne num santuário para terroristas”.