Queixa formalizada. Trump acusa Kamala de violar leis de financiamento da campanha

por Cristina Sambado - RTP
Jim Watson - AFP

A campanha de Donald Trump apresentou na terça-feira uma queixa à Comissão Eleitoral Federal contra a vice-presidente Kamala Harris, acusando a sua campanha de 2024 de violar as leis federais de financiamento, ao substituir o nome de Joe Biden pelo seu próprio nome para assumir o controlo de fundos.

A queixa, apresentada pelo conselheiro geral da campanha de Trump, David Warrington, argumenta que a campanha de Biden não podia mudar o nome do seu comité de “Biden para Presidente” para “Harris para Presidente”, depois de Biden ter abandonado a corrida no domingo, e transferir 91 milhões de dólares.

“Isto é pouco mais do que uma contribuição excessiva e velada de 91,5 milhões de dólares de um candidato presidencial para outro, ou seja, da antiga campanha de Joe Biden para a nova campanha de Kamala Harris. Este esforço ridiculariza as nossas leis de financiamento de campanhas”, diz a queixa de oito páginas.

“Os candidatos federais estão proibidos de manter contribuições para eleições em que não participam”, acrescentou. “Biden for President 2024 não mostrou nenhuma intenção de reembolsar ou redesignar adequadamente os fundos das eleições gerais que já recebeu. Isto faz com que todas as contribuições sejam excessivas”.

Se a queixa gera tração com a Comissão Eleitoral Federal (FEC) ainda não está claro, mas a campanha de Trump tem procurado qualquer maneira de desacelerar o ímpeto que Harris foi capaz de gerar com eleitores e doadores depois da atual vice-presidente se tornar rapidamente a candidata democrata.

A campanha de Harris angariou mais de 100 milhões de dólares nas 36 horas que se seguiram à saída de Biden da corrida à Casa Branca no passado domingo.
A estratégia, segundo especialistas, incluiu a abertura de novas batalhas legais para tentar impedir Harris de aceder aos fundos de Biden, embora a queixa de terça-feira não tenha chegado a uma ação judicial.

Warrington fez esse pedido explícito à FEC na queixa, solicitando à agência que impeça a transferência. E se a Comissão Eleitoral Federal considerasse a transferência ilegal, dizia a queixa, pediria à FEC que considerasse a possibilidade de emitir uma coima ou de fazer um encaminhamento criminal para o departamento de justiça dos EUA.

A campanha de Harris encarou a queixa da FEC como um esforço legal espúrio para atirar areia para as suas engrenagens, observando que os comités Biden-Harris sempre foram comités autorizados tanto para Biden como para Harris, de acordo com uma pessoa familiarizada com o pensamento.
Kamala antevê “medo e ódio” se Trump vencer
A vice-presidente dos EUA, Kamala Harris, passou à ofensiva contra Donald Trump no primeiro comício da sua campanha para a Casa Branca, retratando as eleições de novembro como uma escolha entre uma antiga procuradora e um criminoso condenado.

Falando para uma multidão de cerca de três mil pessoas no Wisconsin - um dos Estados-chave nas eleições presidenciais -, Harris comparou o oponente republicano a autores de fraudes que processou. A aumentar o ímpeto, uma nova sondagem nacional da Reuters e da Ipsos mostra-a com uma vantagem de dois pontos sobre Trump, 44 por cento a 42 por cento.

Na terça-feira, ao subir ao palco para ser aplaudida numa escola secundária num subúrbio de Milwaukee, Kamala Harris destacou a sua experiência como procuradora-geral da Califórnia.

Enfrentei criminosos de todos os tipos”, disse. “Predadores que abusavam de mulheres. Fraudadores que enganavam os consumidores. Impostores que quebraram as regras para seu próprio ganho.”

Por isso, oiçam-me quando digo que conheço o tipo de Donald Trump”, acrescentou Harris. “Nesta campanha, prometo-vos que, em qualquer dia da semana, vou comparar orgulhosamente o meu currículo com o dele”.

Em resposta, a multidão gritou “Kamala! Kamala!” Alguns observadores notaram que o entusiasmo do público contrastava com o visto nos eventos de Biden neste ciclo eleitoral.

Quando o nome do seu oponente republicano foi mencionado, muitos participantes gritaram lock him up (prendam-no), fazendo eco de um refrão semelhante em eventos de Trump quando este concorria contra Hillary Clinton em 2016.
Harris desafiada a deixar a própria marca

Lançada para a ribalta depois de anos na sombra de Joe Biden, Kamala Harris tem apenas algumas semanas para deixar a sua marca contra um Donald Trump que tem o forte apoio do seu partido.

Harris que está a substituir o presidente democrata em cima da hora, após a sua retirada abrupta da corrida, enfrenta uma equação extremamente delicada. 
Nos dois primeiros eventos de campanha, na segunda-feira no Delaware e na terça-feira no Wisconsin, a vice-presidente procurou realizar este delicado ato de equilíbrio.

Depois de homenagear por duas vezes o legado “incrível” de Joe Biden, a candidata de 59 anos revelou o fio condutor da sua campanha, colocando a questão do direito ao aborto no centro da sua ação.
Chegada tardia na corrida à Casa Branca

No entanto, a atual vice-presidente e ex-senadora da Califórnia deve primeiro superar uma grande desvantagem: a chegada tardia à corrida.

Donald Trump, que se candidata à Casa Branca desde 2022, teve muitos meses para reunir a sua equipa de campanha, que está a funcionar muito bem, como o demonstrou a convenção republicana de Milwaukee.

Kamala Harris, pelo contrário, teve menos de quatro meses para desenvolver a sua imagem de candidata e compensar o atraso de Joe Biden nas sondagens.

Provavelmente por uma questão de eficiência, manteve, por enquanto, a mesma equipa de campanha de Joe Biden, baseada nas mesmas premissas, com praticamente o mesmo logótipo.

Ao contrário de Joe Biden, que foi acusado pelos republicanos de ser um velho em declínio, Kamala Harris já está a tirar o máximo partido do facto de ser quase 20 anos mais nova do que Donald Trump.Biden prepara-se para falar
Joe Biden vai explicar esta quarta-feira à noite (madrugada em Lisboa) as razões que o levaram a retirar-se da corrida e a passar o testemunho a Kamala Harris num discurso à nação esta quarta-feira.

O presidente democrata escolheu o horário nobre, às 20h00 (0h00 em Lisboa), para se dirigir aos americanos sobre uma das maiores convulsões políticas da história moderna do país.Este discurso, proferido a partir da Sala Oval da Casa Branca, será um dos mais importantes quando chegar o momento de fazer o balanço.

O líder octogenário explicará porque é que, no domingo, numa simples carta publicada no X, decidiu atirar a toalha ao chão e não se candidatar a um segundo mandato, apesar de ter dito várias vezes que queria levar a corrida até ao fim.

Tendo acabado de sair de quase uma semana de confinamento na sua casa à beira-mar devido à covid, Joe Biden parecia enfraquecido na terça-feira ao sair do avião que o levava de volta à Casa Branca.

A saúde do democrata de 81 anos está obviamente na mente de todos, uma vez que foram as preocupações com a sua saúde que levaram o seu campo a pedir-lhe que se retirasse da corrida.
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