Queimada com gasolina. Atleta olímpica morre após ter sido atacada pelo companheiro

por Cristina Santos - RTP
Rebecca Cheptegei (ao centro), durante a maratona feminina dos Mundiais de Atletismo, Budapeste, Hungria, em agosto de 2023. Reuters

Rebecca Cheptegei, maratonista ugandesa que representou o país nos Jogos Olímpicos em Paris, não resistiu às queimaduras em 80 por cento do corpo depois de ter sido regada com gasolina pelo namorado no último domingo, segundo as autoridades.

De acordo com um relatório da polícia, citado pela agência France Presse, o suspeito é Dickson Ndiema Marangach, um atleta queniano, que invadiu a casa de Rebecca Cheptegei, no domingo, enquanto ela estava na igreja com as filhas. A maratonista vivia com a irmã e as duas filhas nesta casa que construiu num terreno adquirido em Endebess, localidade onde treinou e a 25 quilómetros da fronteira com o Uganda, conta o pai da atleta. O jornal queniano The Standard adianta que quando Rebecca regressou da igreja, Dickson atacou-a, encharcando-a com gasolina e incendiou-a diante das filhas da atleta, duas meninas de 9 e 11 anos.

Não há informações sobre as crianças. O que se sabe é que foram os vizinhos a socorrer os dois atletas (uma vez que o atacante também foi atingido pelo fogo), ambos foram transportados para o hospital em Kitale (cidade no noroeste do Quénia)

A polícia ouviu estemunhos de familiares, amigos e vizinhos do casal, e conclui que as discussões entre Rebecca e Dickson eram constantes, algo que dá força a um quadro de violência doméstica. O comandante da polícia conta ao jornal The Standard que “o casal estava a discutir do lado de fora de casa. Durante a discussão, o namorado foi visto a despejar um líquido na mulher antes de a queimar”.

A polícia confirma que o atacante, Dickson Ndiema, comprou um garrafão de gasolina. “O suspeito também foi atingido pelo fogo, sofreu queimaduras graves” e tem estado internado no mesmo hospital que Rebecca Cheptegei.

Rebecca Cheptegei tinha 33 anos, nos Jogos Olímpicos de Paris, ficou em 44.º lugar na maratona, foi 14.º no campeonato mundial de 2023 em Budapeste. Em 2022, ela venceu a corrida de montanha no Campeonato Mundial de Montanha e Trail Running na Tailândia.
As reações e a luta contra o femicídio e violência dioméstica
A morte da atleta foi anunciada pelo presidente do Comité Olímpico do Uganda, Donald Rukare. “Tomamos conhecimento do triste falecimento de nossa atleta olímpica Rebecca Cheptegei após um ataque violento do seu namorado. Que sua alma descanse em paz e condenamos veementemente a violência contra as mulheres”. Na mensagem que partilhou na rede social X, Donald Rukare sublinha que “este é ato cobarde e sem sentido que levou à perda de uma grande atleta, o seu legado continuará vivo".

A Federação de Atletismo do Uganda disse estar “profundamente entristecida” pela morte da sua atleta, uma “trágica vítima de violência doméstica”.

Também a Federação de Atletismo do Quénia considerou “a morte prematura e trágica, é uma perda profunda, apelando ao “fim da violência baseada no género”.

Numa mensagem no X pode ler-se: “condenamos tais atos e apelamos à justiça”.

"Rebecca Cheptegei está morta. Pronunciamos seu nome na terra dos vivos. Descanse em paz. Sim, é feminicídio. Devemos acabar com os femicídios", reagiu no X a associação "Usikimye" ("Não fique calado" em suaíli), uma associação-abrigo para vítimas de violência sexual e de género.

Nos últimos anos, o mundo do atletismo no Quénia tem registado vários femicídios. Em abril de 2022, o corpo de uma atleta do Bahrein de origem queniana, Damaris Mutua, foi encontrado num recinto de treino, o principal suspeito é o marido.

Em outubro de 2021, a promissora atleta Agnes Tirop, de 25 anos, dupla medalhista mundial de bronze nos 10.000 metros (2017, 2019) e 4.ª nas Olimpíadas de Tóquio nos 5.000 metros, foi encontrada morta à facada em casa em Iten. O marido está a ser julgado por homicídio.
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