Quebra de tabu. Direita e extrema-direita na Alemanha unem-se em texto anti-imigração
A poucas semanas das eleições legislativas antecipadas, a Câmara dos Representantes da Alemanha aprovou uma moção, não vinculativa, de endurecimento da política migratória do país.
O texto, proposto pelo líder dos conservadores na oposição, Friedrich Merz, foi aprovado à justa, por 348 votos a favor, 345 contra e 10 abstenções.
Decisivo foi o entendimento entre os deputados conservadores da CDU/CSU e os da AfD, Alternativa para a Alemanha, a extrema-direita, que combinaram os seus votos.
Foi a primeira vez, desde o fim da Segunda Guerra Mundial, que ocorreu uma cooperação legislativa deliberada entre um partido moderado tradicional e a extrema-direita, a nível federal.
A moção exige, nomeadamente, que a Alemanha rejeite na fronteira todos os estrangeiros que não possuam um documento de entrada válido, incluindo os requerentes de asilo.
Não sendo vinculativa, o valor simbólico da moção é contudo inegável e pode indiciar futuras cooperações entre a CDU, democrata-cristã, e a AfD.
Risco para a CDU
O texto é, contudo, um risco para os conservadores e para o seu candidato a primeiro-ministro desde 2022, Friedrich Merz, que procura assumir a liderança no debate sobre a migração e desviar os apoios que a AfD tem estado conseguir no eleitorado com este dossier.
Mesmo sem se saber de forma clara quem apoiou a moção apresentada por Merz, tanto o chanceler alemão, o social-democrata Olaf Scholz, como os Verdes, declararam a sua oposição ao texto.
Decisivo foi o entendimento entre os deputados conservadores da CDU/CSU e os da AfD, Alternativa para a Alemanha, a extrema-direita, que combinaram os seus votos.
Foi a primeira vez, desde o fim da Segunda Guerra Mundial, que ocorreu uma cooperação legislativa deliberada entre um partido moderado tradicional e a extrema-direita, a nível federal.
Até agora mantinham um "cordão sanitário social" de afastamento.
Uma salva de palmas dos deputados de extrema-direita saudou o resultado da votação por parte. "Este é um momento histórico", disse o líder da bancada, Bernd Baumann. "Está a abrir-se uma nova era, aqui e agora" na Alemanha, acrescentou. A ação foi interposta depois de um ataque com faca, atribuído a um afegão ilegal, que fez dois mortos, incluindo uma criança. A opinião pública alemã reagiu em choque.
A moção exige, nomeadamente, que a Alemanha rejeite na fronteira todos os estrangeiros que não possuam um documento de entrada válido, incluindo os requerentes de asilo.
Não sendo vinculativa, o valor simbólico da moção é contudo inegável e pode indiciar futuras cooperações entre a CDU, democrata-cristã, e a AfD.
Risco para a CDU
O texto é, contudo, um risco para os conservadores e para o seu candidato a primeiro-ministro desde 2022, Friedrich Merz, que procura assumir a liderança no debate sobre a migração e desviar os apoios que a AfD tem estado conseguir no eleitorado com este dossier.
Apesar do favoristismo nas sondagens, a cedência de Merz a medidas caras à extrema-direita, mesmo de forma não vinculativa, poderá confundir os eleitores e gerar anti-corpos em apoiantes conservadores tradicionais.
Mesmo sem se saber de forma clara quem apoiou a moção apresentada por Merz, tanto o chanceler alemão, o social-democrata Olaf Scholz, como os Verdes, declararam a sua oposição ao texto.
A quebra do tabu, precisamente na Alemanha, de cooperação com a extrema-direita, assinala a crescente influência política desta em vários países, face aos partidos tradicionais, a reboque da tensão extrema gerada por políticas de imigração entre os europeus, apesar do discurso oficial de tolerância e de abertura.
Europa às voltas com a imigração
Esta quinta-feira, os ministros da Administração Interna da União Europeia vão reunir-se informalmente em Varsóvia, Polónia, precisamente sobre a gestão da imigração, com o eixo Paris-Berlim a exigir a aplicação antecipada do pacto europeu sobre migração e asilo.
O pacto reúne uma dezena de regulamentos para harmonizar e gerir a nível europeu a legislação sobre a imigração clandestina, com calendário de início previsto para junho de 2026.
Atualmente, dos 27 estados-membros, 24 apresentaram o seu plano macional de aplicação do pacto. A realidade poderá contudo correr mais rápido do que previsto por Bruxelas.
O pacto reúne uma dezena de regulamentos para harmonizar e gerir a nível europeu a legislação sobre a imigração clandestina, com calendário de início previsto para junho de 2026.
Atualmente, dos 27 estados-membros, 24 apresentaram o seu plano macional de aplicação do pacto. A realidade poderá contudo correr mais rápido do que previsto por Bruxelas.
Em 2024, registou-se a entrada de quase 240.000 ilegais, uma
quebra de 38 por cento face a 2023. E, se os movimentos anti-imigração se vierem a refletir na composição política dos diversos países, como parece poder suceder na Alemanha, o pacto poderá vir a revelar-se um nado-morto.