Quatro mulheres detidas por violência doméstica no centro de Moçambique
Um total de 50 homens foram vítimas de violência doméstica até outubro, na província de Sofala, centro de Moçambique, menos 25 casos num ano, mas que levaram à detenção de quatro mulheres, disse hoje à Lusa fonte oficial.
"Temos queixas apresentadas por homens, pese embora em número menor. Só neste ano já registámos 50 casos [de violência] que envolvem homens vítimas", disse em declarações à Lusa Celeste Inchaga, chefe do Departamento de Atendimento à Família e Menor Vítima de Violência em Sofala.
Entre os casos denunciados às autoridades até outubro, 13 diziam respeito a violência psicológica, sete a violência física grave e dois a violência patrimonial, tendo resultado na detenção de quatro mulheres.
A responsável apontou desentendimentos conjugais, ciúmes e questões económicas como as principais causas de violência contra os homens e que, segundo Celeste Inchaga, apresentam menos queixas.
"Após o atendimento inicial, fazemos o acompanhamento e monitoria dos casos em coordenação com as instituições locais como forma de ultrapassar problemas, através do diálogo", referiu Inchaga.
A chefe do departamento de atendimento à família avançou ainda que os casos resultaram, maioritariamente, em reconciliação familiar segura, mudança de comportamento dos agressores e melhoria das relações, havendo também abrigo temporário ou assistência judicial às vítimas.
"A nossa rede de apoio inclui o Serviço Nacional de Investigação Criminal, Ministério Público, tribunais, hospitais, serviços sociais e organizações não-governamentais, garantindo um atendimento completo, bem como o acolhimento das vítimas", acrescentou.
O ativista social e defensor de direitos humanos, Neolitene Gento, defendeu a promoção do diálogo "aberto e honesto" com os homens sobre os "riscos e vulnerabilidades associados às expetativas sociais de masculinidade", além da criação de espaços seguros onde possam "expressar as suas emoções e vulnerabilidades sem medo de julgamento".
"As masculinidades ensinam que `homem de verdade não se queixa`, e é justamente essa crença que aprisiona muitos deles num ciclo de dor, isolamento e autoagressão. Combater a violência implica, portanto, transformar as normas sociais que sustentam a desigualdade e isso só é possível quando homens e mulheres são chamados a repensar junto o significado de dignidade, respeito e humanidade", disse o ativista.
Já a secretária da Associação Mulher, Lei e Desenvolvimento (Muleide) em Sofala, Júlia Garrine, defendeu a inclusão dos homens nos programas de prevenção a violência doméstica na província, apelando para que denunciem situações que afetam a sua integridade física e moral.
"É preciso haver comunicação e diálogo numa relação. Os casais precisam sentar e conversar para resolver os problemas, em vez de recorrer à violência", referiu Garrine.
De acordo com o Departamento de Atendimento à Família e Menor Vítima de Violência, a província de Sofala registou um cumulativo de 383 casos de violência doméstica em 10 meses de 2025, contra 415 notificados no ano passado.
Os distritos da Beira, Dondo, Nhamatanda, Gorongosa, Chemba e Caia registaram o maior número de casos este ano, apontando-se o "consumo excessivo de álcool, pobreza, desemprego, baixa escolaridade e falta de instituições de apoio" como os fatores que contribuíram para a incidência da violência doméstica naquelas regiões.
"Continuaremos a trabalhar com as comunidades para erradicar esse problema que afeta famílias em toda a província", concluiu Celeste Inchaga.