O primeiro-ministro francês anunciou a mobilização de mais de 89 mil polícias em todo o país, dos quais oito mil em Paris. Édouard Philippe afirmou ainda que esta força será apoiada por veículos blindados.
"Estamos a enfrentar pessoas que não estão aqui para protestar, mas para estragar e queremos ter os meios para não lhes dar rédea livre", explicou Edouard Philippe no jornal da noite da televisão TF1 esta quinta-feira.
Philippe anunciou também a mobilização de uma dezena de veículos
blindados policiais, o que sucede pela primeira vez desde os tumultos
nos arredores de Paris em 2005.
Em 15 áreas em torno de Paris, as autoridades locais foram solicitadas a remover tudo o que nas ruas possa ser usado como projeteis.
A torre Eiffel e vários museus, incluindo o Louvre, as duas Óperas e o Grand Palais anunciaram por seu lado que ficarão encerrados. Pelo menos cinco jogos de futebol da primeira divisão foram cancelados.Os primeiros números tinham dado conta da mobilização de 65 mil forças e a utilização de tropas atualmente adstritas a patrulhas anti-terroristas, para a proteção de edifícios públicos.
Outras cidades, como Bordéus, ordenaram igualmente medidas preventivas, preocupadas com a possibilidade de que os manifestantes optem por protestos regionais em vez de enfrentarem a apertada segurança em Paris.
Apesar do anúncio do abandono dos novos impostos sobre os combustíveis, os protestos contra o Governo do Presidente Emmanuel Macron não mostram sinais de abrandar.
Act IV
Os "coletes amarelos" apelam nas redes sociais à "Act IV", ou seja a quarta semana de protestos. "A França está farta! Vamos comparecer em número maior, mais fortes, de pé em defesa do povo francês", apelava um dos grupos.
Os organizadores da marcha anunciam também que alteraram o percurso previsto anteriormente para o próximo sábado.
Vários grupos do movimento contra novos impostos nos combustíveis denominado "coletes amarelos", estão ainda a unir-se para organizar melhor os vários pontos de bloqueio previstos.
O Governo de Macron diz recear que grupos da extrema-direita e anarquistas de grupos anti-capitalistas como o Black Bloc, se aproveitem dos protestos dos "coletes amarelos" para causar problemas e destruição.
O certo é que a revolta está a alastrar a outros setores da sociedade francesa, complicando ainda mais a situação e apesar das promessas governamentais.
Protestos estudantis
De acordo com números do Ministério do Interior, cinco dias depois da pior violência registada em Paris desde 1968, mais de 280 liceus em toda a França registaram perturbações e 45 foram bloqueados, com mais de 700 estudantes a serem interpelados pelas forças da ordem na zona parisiense.
Os alunos começaram a aderir segunda-feira aos protestos, como os "coletes amarelos", mas para recusar várias reformas do ensino decididas pelo Governo, incluindo a reforma dos liceus, do acesso à universidade e das vias profissionais.
A revolta estudantil tem estado a ser reprimida também com violência. Nos últimos dias, dezenas de estudantes ficaram feridos em confrontos com as forças de segurança, sobretudo pelas novas armas não-letais de fabrico francês, denominadas flash-ball.
Vários deputados da oposição denunciaram "o uso sem restrições da força" contra os estudantes de liceu, considerando-a "um grave erro" e considerando que o Governo está "desesperado".
Críticas da oposição
"Face a esta contestação legítima, o Governo escolheu responder com o uso sem restrições da força", denunciou o grupo do partido França Insubmissa em comunicado.
"A banalização do uso das flash ball e os golpes dados aos jovens estendidos por terra são tanto derivas intoleráveis de um poder que já não existe como pela sua política de repressão em que vale tudo", acusaram os deputados do LFI, La France Insoumise.
"Ao querer amordaçar a juventude, o Governo cometeu um grave erro. A repressão nunca será uma boa resposta à inquietação com o futuro", consideraram.
O Partido Comunista Francês foi igualmente crítico e lembrou que "numerosos estudantes estão feridos ou detidos após as mobilizações estudantis de hoje". "A resposta ao profundo movimento popular que se exprime não pode ser uma escalada securitária", referiu ainda.
Já para o NPA, partido anti-capitalista, o poder "está desesperado e procura de todas as formas apagar a contestação". "Para o conseguir, as ordens dadas as forças de segurança são explícitas: as violências cometidas por estas últimas não são incidentes isolados, mas a consequência de uma estratégia deliberada de tensão e repressão", acusa.
O primeiro-ministro prometeu por seu lado fazer tudo para manter a ordem.