O gabinete de Direitos Humanos da ONU revelou esta sexta-feira que quase 70 por cento das mortes verificadas na guerra em Gaza foram mulheres e crianças. As Nações Unidas denunciam que estes números demonstram uma “violação sistemática dos princípios fundamentais do Direito Internacional humanitário”.
A contagem de mortes a cargo da ONU é de 8.119 mortes, muito abaixo dos números fornecidos pelas autoridades palestinianas, que apontam para mais de 43 mil vítimas mortais. No entanto, a organização sublinha que há muitas barreiras para monitorizar o que se passa em Gaza.
“A monitorização e a verificação de violações graves continuaram a ser extremamente difíceis, nomeadamente devido às restrições de acesso, a um elevado nível de insegurança e de ameaças ou ataques diretos também contra pessoal (…) e intervenientes humanitários das Nações Unidas”, lê-se no documento de 32 páginas divulgado esta sexta-feira.
Ainda assim, o Gabinete de Direitos Humanos da ONU dá como confirmadas mais de oito mil mortes até 2 de setembro de 2024. Destas, 2.036 eram mulheres e 3.588 eram crianças. Das vítimas identificadas, 7.607 morreram em prédios residenciais ou construções para habitação.
O relatório sublinha que em comparação com anteriores escaladas de hostilidades, os ataques contra edifícios residenciais em Gaza desde 7 de outubro de 2023 sugerem um “padrão” de investidas “que fazem vítimas uniformemente em proporção a toda a população”, com “um elevado número de bebés e crianças pequenas, mulheres, idosos e famílias mortas juntas em edifícios residenciais”.
“A forma como as partes em conflito em Gaza conduziram as hostilidades causou um sofrimento humano terrível, especialmente como resultado das escolhas de meios e métodos de guerra por parte de Israel, e em muitos casos envolveu violações graves do Direito Internacional dos Direitos Humanos e graves violações do Direito Internacional Humanitário”, conclui o relatório hoje divulgado.
Menores de 18 anos representam 44 por cento das vítimas
De acordo com o responsável pelo Gabinete de Direitos Humanos da ONU para os territórios ocupados da Palestina, Ajith Sunghay, as mortes apresentadas neste relatório foram verificadas individualmente por três diferentes fontes, desde vizinhos, familiares, ONG’s locais, registos hospitalares ou funcionários da ONU no terreno.
Segundo este mesmo responsável, em declarações aos jornalistas a partir de Genebra, 44 por cento das vítimas apuradas na elaboração deste relatório têm menos de 18 anos, sedno que a maior parte tem idades compreendidas entre os cinco e os nove anos ou entre os dez e os 14 anos.
A vítima mais nova verificada foi um rapaz de apenas um dia de idade. Uma mulher de 97 anos foi a vítima mais velha confirmada.
Entretanto, a missão diplomática de Israel na ONU em Genebra rejeitou categoricamente as conclusões do documento. Citada pela agência Reuters, considera que o relatório não reflete “com precisão a realidade no terreno” e que “ignora o extenso papel do Hamas e de outras organizações terroristas, que causam deliberadamente danos civis em Gaza”.