A Arábia Saudita executou 198 condenados à morte já este ano, número recorde em mais de 30 anos, indica uma contagem da agência de notícias France-Presse (AFP), baseada nos meios de comunicação oficiais sauditas.
No sábado, foram executados mais três presos, noticiou a agência oficial saudita, numa altura em que o país regista um aumento das condenações à morte por crimes relacionados com droga.
Este ano, Riade executou 52 pessoas condenadas por tráfico de droga e 32 por terrorismo, de acordo com a contagem da AFP.
Para as autoridades sauditas, a aplicação da pena de morte é necessária para "manter a ordem pública" e as sentenças só são executadas se "os acusados tiverem esgotado todos os recursos".
No ano passado, a Arábia Saudita executou o maior número de presos do mundo, depois da China e do Irão, de acordo com a organização não-governamental (ONG) de defesa dos direitos humanos Amnistia Internacional (AI), que contabiliza desde 1990 as execuções nesta rica monarquia do Golfo, que segue uma aplicação rigorosa da lei islâmica.
Em 2022, Riade tinha efetuado 196 execuções, indicou a AI.
A secretária-geral da ONG, Agnes Callamard, afirmou que a Arábia Saudita estava a demonstrar "um desrespeito assustador pela vida humana e, ao mesmo tempo, a realizar uma campanha sem sentido para melhorar a imagem".
A AI pediu à Arábia Saudita para "introduzir imediatamente uma moratória sobre as execuções e ordenar que os condenados à morte sejam novamente julgados de acordo com as normas internacionais, sem recurso à pena de morte".
Os dados da ONG confirmaram 198 execuções na monarquia do Golfo desde o início do ano.
O diretor para o Médio Oriente da ONG Reprieve, que luta contra a pena de morte, Jeed Basyouni, considerou que este novo recorde mostra que "a Arábia Saudita desistiu de fingir que vai reformar a aplicação da pena de morte".
Basyouni assinalou que a pressão ocidental sobre a Arábia Saudita "diminuiu significativamente nos últimos anos", com Riade a sentir-se "livre para se comportar como quiser".
Este elevado número de execuções contradiz também as declarações, em 2022, do príncipe herdeiro e governante de facto da Arábia Saudita, Mohammed ben Salmane, à revista norte-americana The Atlantic, quando afirmou que o reino tinha eliminado a pena de morte, exceto para os criminosos ou indivíduos que põem em perigo a vida.
Em setembro, 31 organizações árabes e internacionais de defesa dos direitos humanos denunciaram conjuntamente um "forte aumento" das execuções de delinquentes ligados à droga, enquanto em 2022, as Nações Unidas apelaram às autoridades sauditas para que "ponham termo à aplicação da pena de morte nestes casos".