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Quarenta detidos em protestos contra demissão de ministro israelita

por Cristina Sambado - RTP
Thomas Peter - Reuters

Quarenta pessoas foram detidas em Telavive na sequência dos protestos, na noite de terça-feira, contra a súbita demissão do ministro da Defesa de Israel, avança esta quarta-feira o jornal israelita Haartez.

 

A polícia deteve quatro dezenas de pessoas que protestavam contra a decisão do primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, de demitir Yoav Gallant, e retirou os manifestantes da autoestrada Ayalon, uma das principais vias de Telavive, acrescenta o diário.

A demissão de Gallant levou milhares de israelitas a saírem à rua para protestar contra a decisão, tal como aconteceu no final de março de 2023, quando Netanyahu o demitiu pela primeira vez por se opor a uma reforma judicial. A decisão de Netanyahu provocou manifestações em todo o país, incluindo em cidades do norte, como Haifa, onde se temem ataques da milícia xiita Hezbollah do Líbano.

Os manifestantes opõem-se à decisão, afirmando que esta apenas favorece a sobrevivência política de Netanyahu, mas não o país, desgastado por uma guerra em Gaza há mais de um ano.

Entre as palavras de ordem mais repetidas durante os protestos, em que a polícia por vezes atacou os participantes, os israelitas pediram um acordo para a libertação dos reféns detidos pelo grupo islamita palestiniano Hamas, e que os judeus ultraortodoxos sirvam como os outros jovens no exército, duas exigências defendidas por Gallant, apesar da oposição do primeiro-ministro.

Foram igualmente registadas marchas em Nahariya, Carmiel e Rosh Pina, cidades a norte de Haifa e próximas da fronteira libanesa, noticiaram os meios de comunicação social locais.

Centenas de pessoas manifestaram-se também em Cesareia e nas cidades vizinhas de Karkur e Zichron Yaakov, a sul de Haifa.

Um grupo que representa as famílias das pessoas feitas reféns pelo Hamas no ataque de 7 de outubro também condenou a demissão de Gallant por Netanyahu, considerando-a uma continuação dos esforços para “torpedear” um acordo de libertação.

O Fórum dos Reféns e das Famílias Desaparecidas apelou ao novo ministro da Defesa para que “expresse um compromisso explícito com o fim da guerra e realize um acordo global para o regresso imediato de todos os raptados”.

Cerca de 100 dos 251 reféns sequestrados pelo Hamas em 7 de outubro de 2023 continuam desaparecidos, mais de um ano após o início da guerra.
Relação tensa entre Netanyahu e GallantO primeiro-ministro israelita justificou a demissão do ministro da Defesa com divergências sobre a gestão da guerra na Faixa de Gaza e afirmou que existem "lacunas significativas" com Gallant e que "essas lacunas foram acompanhadas por declarações e ações que contradizem as decisões do Governo e as decisões do Gabinete".

Israël Katz, que tinha a pasta do Ministério dos Negócios Estrangeiros vai substituir Yoav Gallant à frente do Ministério da Defesa. Para a chefia da diplomacia israelita vai Gideon Sa'ar, um aliado de Netanyahu, que não pertencia ao governo.

Gallant afirmou que o seu afastamento se deveu a um desacordo sobre três questões, incluindo a sua convicção de que é possível recuperar os restantes reféns de Gaza se Israel fizer “concessões dolorosas” que “pode suportar”. Netanyahu e Gallant têm tido vários desentendimentos sobre a governação e decisões políticas. Durante o ano passado, houve relatos de discussões entre os dois homens sobre a estratégia de guerra de Israel.

O antigo ministro da Defesa também não gostou dos planos para continuar a permitir que os cidadãos ultraortodoxos de Israel sejam isentos do serviço militar.

Meses antes do início da guerra em Gaza, em outubro de 2023, Netanyahu demitiu Gallant por divergências políticas, antes de o reintegrar na sequência de grandes protestos públicos.

Mas na terça-feira Netanyahu defendeu que, “no meio de uma guerra, mais do que nunca, é necessária uma confiança total entre o primeiro-ministro e o ministro da Defesa”.
A destituição de Gallant entrará em vigor dentro de 48 horas. A nomeação dos novos ministros requer a aprovação do governo e depois do Knesset.
O primeiro-ministro afirmou que, apesar de ter havido confiança e “trabalho frutuoso” nos primeiros meses da guerra, “nos últimos meses essa confiança quebrou”.

Netanyahu sublinhou que “foram descobertas lacunas significativas entre mim e Gallant na gestão da campanha”. Estas foram “acompanhadas de declarações e ações que contradizem as decisões do governo”, acrescentou.

Netanyahu demitiu Gallant pela primeira vez em março de 2023, na sequência do seu desacordo sobre os controversos planos de revisão do sistema judicial. Mas foi forçado a retirar a exoneração na sequência de protestos públicos maciços em várias cidades de Israel - um evento que ficou conhecido como “Noite de Gallant”.


Em maio deste ano, Gallant manifestou abertamente a sua frustração pelo facto de o governo não ter abordado a questão de um plano pós-guerra para Gaza. O ministro da Defesa queria que o primeiro-ministro declarasse publicamente que Israel não tem planos para assumir o controlo civil e militar de Gaza.

Foi um raro sinal público de divisões dentro do gabinete de guerra de Israel sobre a direção da campanha militar.

“Desde outubro, tenho levantado esta questão de forma consistente no gabinete”, afirmou Gallant, ‘e não recebi qualquer resposta’.

Netanyahu respondeu dizendo que “não estava pronto para trocar Hamastan por Fatahstan”, em referência aos grupos palestinianos rivais Hamas e Fatah.

Em reação ao afastamento de Gallant, na terça-feira à noite, os membros dos partidos da oposição israelita apelaram aos protestos do público.A demissão de Gallant ocorre também no dia das eleições presidenciais nos Estados Unidos - o principal apoiante de Israel na sua guerra em Gaza - um momento assinalado por vários meios de comunicação israelitas.

Gallant era visto como tendo uma relação muito melhor com a Casa Branca do que Netanyahu.

Um representante do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca considerou na terça-feira que, “o ministro Gallant tem sido um parceiro importante em todas as questões relacionadas com a defesa de Israel. Como parceiros próximos, continuaremos a trabalhar em colaboração com o próximo ministro da Defesa de Israel”.

Já os observadores referem que o afastamento de Gallant ocorre numa altura em que Netanyahu está a ser pressionado por políticos de extrema-direita para aprovar um projeto de lei que continuaria a permitir que os cidadãos ultraortodoxos de Israel ficassem isentos do serviço militar. Gallant tinha sido um opositor de alto nível do projeto de lei.

c/ agências

 

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