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Guerra na Ucrânia. A evolução do conflito ao minuto

Putin taxativo. Usar tropas norte-coreanas na Ucrânia é decisão russa

por Cristina Sambado -RTP
Vladimir Putin e Kim Jong-Un no porto espacial russo Vostochny Cosmodrome Kremlin Press Office / Handout / Anadolu Agency via AFP

O presidente russo Vladimir Putin afirmou esta sexta-feira que é uma escolha do Kremlin decidir usar tropas norte-coreanas em território ucraniano e acrescentou que, se a Ucrânia quisesse aderir à NATO, Moscovo poderia fazer o que quisesse para garantir a sua própria segurança.

Quando tivermos de decidir alguma coisa, decidiremos, mas a decisão soberana é nossa, se a vamos aplicar, se não a vamos aplicar, se precisamos dela”, esclareceu Putin à televisão estatal russa. “É um assunto que nos diz respeito”.
Os Estados Unidos já tinham revelado ter provas de que a Coreia do Norte enviou três mil soldados para a Rússia, para possível colocação na Ucrânia.
O presidente russo afirmou que o Ocidente tem dito repetidamente que cabe à Ucrânia garantir a sua segurança - “com ou sem a NATO”.

Quanto mais cedo se aperceberem da futilidade de tal abordagem nas relações com a Rússia, melhor será para todos, e talvez, acima de tudo, para eles próprios”, acrescentou Putin.

O presidente russo e o líder norte-coreano Kim Jong Un assinaram um acordo de parceria estratégica abrangente durante a visita de Putin a Pyongyang em junho.

Segundo Putin, “o artigo 4.º do acordo diz que se uma das partes for objeto de um ataque armado por parte de um Estado ou de vários Estados e se encontrar em estado de guerra, a outra parte fornecerá imediatamente assistência militar e outra com todos os meios à sua disposição”.
Kiev investiga apoio de Pyongyang como crime de agressão
Os procuradores ucranianos revelaram esta sexta-feira que lançaram uma investigação sobre o apoio da Coreia do Norte à Rússia na guerra como um possível crime de agressão.

Ao armar e fornecer forças terrestres envolvidas na luta contra a Ucrânia, os oficiais norte-coreanos podem enfrentar acusações”, afirmou o gabinete do Procurador-Geral à agência Reuters.

“Estamos a documentar e a recolher provas de todos os aspetos possíveis de tal envolvimento como parte do processo principal sobre o crime de agressão”, acrescentou o gabinete em comunicado.A agência de informação militar ucraniana, a Coreia do Sul e vários governos ocidentais afirmaram que tropas norte-coreanas treinadas na Rússia foram destacadas para a região de Kursk, uma zona fronteiriça russa onde as forças ucranianas realizaram uma grande incursão em agosto.

Para o procurador-geral ucraniano, “os aspetos do alegado crime incluem o fornecimento de armas à Federação Russa, a organização de treinos para militares russos e a participação direta das forças norte-coreanas nas hostilidades”.

O presidente ucraniano Volodymyr Zelensky avançou que a Rússia planeia enviar tropas norte-coreanas para o campo de batalha a partir de 27-28 de outubro, citando relatórios de inteligência.

“De acordo com os nossos serviços de informação, nos dias 27 e 28 de outubro, a Rússia vai utilizar os primeiros militares norte-coreanos em zonas de combate”, escreveu no Telegram após receber relatórios de seu comandante superior.A agência de inteligência ucraniana afirmou que um total de cerca de 12 mil soldados norte-coreanos, incluindo 500 oficiais e três generais, já estavam na Rússia, e que o treinamento estava a decorrer em cinco bases militares.

Zelensky apelou aos aliados para que respondam a esta “escalada” aplicando uma “pressão tangível” sobre Moscovo e Pyongyang.

O ministro da Defesa dos Países Baixos, Ruben Brekelmans, revelou esta sexta-feira que os serviços secretos confirmam que a Rússia está a enviar tropas para a Coreia do Norte para dar treino às tropas de Pyongyang.

Segundo Ruben Brekelmans, os serviços secretos neerlandeses confirmaram que pelo menos 1.500 soldados norte-coreanos deverão ser destacados a curto prazo para ajudar as operações de combate da Rússia contra a Ucrânia.

“Esperamos que as tropas sejam colocadas principalmente em Kursk e sejam constituídas principalmente por unidades especiais do exército norte-coreano”, afirmou Brekelmans, acrescentando que “o primeiro destacamento foi uma forma de a Rússia testar as tropas e avaliar a reação internacional”.
Quem são os parceiros militares de Pyongyang?
A Coreia do Norte foi acusada de enviar milhares de tropas para a Rússia, potencialmente para participarem na guerra na Ucrânia, num passo que poderá ser o primeiro destacamento militar em larga escala do país isolado desde a Guerra do Vietname.

Entre 1966 e 1972, a Coreia do Norte enviou mais de mil soldados para o Vietname do Norte, incluindo centenas de pilotos que pilotaram MiG-17s em combate, de acordo com um livro publicado em 2017 pelo Instituto de História Militar do Ministério da Defesa sul-coreano, avança a Reuters.

A Força Aérea do Norte abateu pelo menos 26 aviões norte-americanos e perdeu 14 dos seus próprios efetivos entre 1967 e 1969, disse um oficial reformado da força aérea vietnamita ao jornal People's Police Newspaper do país.

Uma outra equipa de especialistas norte-coreanos em guerra psicológica foi também destacada para apoiar as operações de propaganda e rapto do Vietname do Norte que visavam as tropas sul-coreanas no Vietname do Sul, enquanto dezenas de guerrilheiros vietnamitas foram treinados na Coreia do Norte.

Mas as relações arrefeceram desde que o Vietname começou a abraçar o Ocidente, lançando reformas políticas e económicas no final dos anos 80 e estabelecendo relações diplomáticas com a Coreia do Sul em 1992.

Durante a Guerra do Yom Kippur, em 1973, a Coreia do Norte enviou ao Egito um grupo de cerca de 1.500 conselheiros militares e cerca de 40 efetivos da força aérea, na sequência de um pacto de assistência militar entre o seu falecido líder Kim Il Sung e o egípcio Hosni Mubarak, revelou Niu Song, professor da Universidade de Estudos Internacionais de Xangai.

A Coreia do Norte promoveu intercâmbios militares com a Líbia durante o regime de Muammar Kadhafi, tendo celebrado um tratado de aliança de 10 anos em 1982, que previa a prestação de ajuda militar por um dos dois países se o outro fosse atacado e ameaçado por um terceiro país.

Um telegrama desclassificado da CIA, de 1982, dizia que Pyongyang poderia estar a tentar transformar a Líbia num “armazém fora do país” para as suas forças armadas, citando relatórios anteriores sobre pilotos norte-coreanos e treino de MiG-23 no país, enquanto preparava o terreno para adquirir armas nucleares.

A Síria é um amigo de longa data da Coreia do Norte, trabalhando em conjunto em mísseis e armas químicas. Pyongyang também construiu no país um reator de plutónio, destruído por um ataque israelita em 2007.

Em 2013, os meios de comunicação israelitas afirmaram que vários pilotos de helicópteros e oficiais de artilharia norte-coreanos estavam a operar na Síria, embora a agência noticiosa estatal de Pyongyang tenha negado o fornecimento de ajuda militar.

Em 2016, a agência noticiosa estatal russa TASS afirmou que duas unidades militares norte-coreanas estavam a combater na guerra civil da Síria a favor do Presidente Bashar al-Assad.

Ambos sujeitos a sanções da ONU, a Coreia do Norte e o Irão também são suspeitos de cooperar em programas nucleares e de mísseis balísticos, trocando conhecimentos técnicos e componentes.

Em 2015, um grupo dissidente iraniano exilado que expôs a instalação nuclear de Natanz do país em 2002, disse que uma delegação de sete especialistas norte-coreanos em energia nuclear e mísseis visitou um local militar perto de Teerão, o terceiro intercâmbio desse tipo nesse ano.

Em 2021, monitores da ONU revelaram que os países haviam retomado a cooperação para desenvolver mísseis de longo alcance, transferindo peças críticas.

A Coreia do Norte também foi acusada de fornecer armas a representantes do Irão, incluindo o Hamas, cujos combatentes foram vistos a usar os seus lançadores de granadas no seu ataque em outubro de 2023 a Israel, que foi negado por Pyongyang.
Países africanos
A Coreia do Norte mantém laços de longa data com regimes autoritários do Zimbabué, do Uganda e de outros países africanos desde a era da Guerra Fria, envolvendo-se na venda de armas e no treino militar.

Em 2011, um legislador sul-coreano afirmou que a Coreia do Norte manteve mais de 100 rondas de conversações sobre a venda de armas entre 1999 e 2008 com países como Angola, Congo, Líbia, Tanzânia e Uganda, citando dados governamentais confidenciais.

As transações visavam angariar dólares para comprar armas e peças mais recentes à Rússia através da venda de armas convencionais antigas e baratas em África, segundo o Instituto de Estratégia de Segurança Nacional da agência nacional de informações da Coreia do Sul.

Mas as relações da Coreia do Norte com muitos parceiros africanos diminuíram na última década desde que enfrentou sanções mais rigorosas da ONU, com o Botswana a cortar os laços diplomáticos em 2015 e o Uganda e a Etiópia a suspenderem as trocas de segurança em 2016.

c/ agências
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