O presidente russo anunciou esta quarta-feira uma mobilização parcial de cidadãos na reserva para reforçar os contingentes destacados na Ucrânia. Vladimir Putin abre caminho a uma escalada no conflito em resposta ao redobrar dos esforços das forças ucranianas para reconquistar território.
A medida de mobilização parcial, que entra de imediato em vigor, visa, segundo o presidente russo, defender a soberania e a integridade territorial do país - no quadro da invasão da Ucrânia iniciada a 24 de fevereiro.
O anúncio de Vladimir Putin foi feito durante uma intervenção televisiva transmitida esta manhã a partir de Moscovo.
O anúncio de Vladimir Putin foi feito durante uma intervenção televisiva transmitida esta manhã a partir de Moscovo.
"Hoje, as nossas forças armadas estão a operar numa linha da frente que
ultrapassa os 1.000 quilómetros, opondo-se não apenas às formações
neo-nazis, mas a toda a máquina militar do Ocidente no coletivo",
afirmou o líder russo.
A Rússia, insistiu Putin, está preparada para utilizar "todos os meios" ao seu dispor para "proteger a nossa pátria, a sua soberania e a integridade territorial, e garantir a segurança do nosso povo e do povo nos territórios libertados".
O presidente russo acusou, uma vez mais, o Ocidente - nomeadamente a NATO e a União Europeia - de pretender destruir o país.
"O objetivo do Ocidente é enfraquecer, dividir e por último destruir o nosso país. Eles já dizem que em 1991 foram capazes de acabar com a União Soviética, e que agora chegou a vez de a própria Rússia se desintegrar, planeiam isso há muito tempo", afirmou.
Em que consiste esta "mobilização parcial"?
Perante a situação, Putin considerou "necessário" apoiar a proposta de "mobilização parcial dos cidadãos na reserva, aqueles que já serviram", afirmou Putin, referindo-se a uma proposta saída do Ministério russo da Defesa.
O chefe de Estado quis sublinhar as "capacidades militares" e "experiência relevante" dos reservistas em causa.Reportagem de Evgueni Mouravitch, correspondente da RTP em Moscovo
"Só estamos a falar de uma mobilização parcial", acentuou, depois de terem circulado rumores, nas últimas horas, sobre uma mobilização geral.
"Só estamos a falar de uma mobilização parcial", acentuou, depois de terem circulado rumores, nas últimas horas, sobre uma mobilização geral.
Serguei Shoigu, ministro russo da Defesa, reconheceu hoje a morte de 5.937 soldados russos desde fevereiro. Na frente oposta, Moscovo contabiliza 61.207 baixas no exército ucraniano.
Segundo a proposta do Ministério da Defesa serão mobilizados, de imediato, 300 mil reservistas. Trata-se de uma mobilização parcial, já que a Rússia conta com cerca de 25 milhões de reservistas.
O presidente russo alertou ainda contra o que designou de "chantagem nuclear" por parte do Ocidente, alertando que Moscovo poderá responder a estas ameaças com todo o poderio das suas armas.
"Se a integridade territorial do nosso país for ameaçada, vamos usar todos os meios disponíveis para proteger o nosso povo - isto não é um bluff", vincou.
Vladimir Putin criticou ainda os "políticos irresponsáveis do Ocidente" que têm admitido a possibilidade de entregar "armamento de longo alcance à Ucrânia, assim como de sistemas de mísseis". Essas armas "permitiram que Kiev atacasse a Crimeia e outras regiões da Rússia".
A mobilização parcial de cidadãos na reserva, com efeitos imediatos,
surge após os recentes avanços ucranianos no terreno.
Nas últimas
semanas, a contraofensiva de Kiev tem obrigado as tropas russas a recuar em
várias regiões, um desígnio para o qual muito tem contribuído a ajuda militar e financeira do Ocidente, em particular dos Estados Unidos e União Europeia.
"A Ucrânia reforçou o seu regime opressivo contra os seus próprios cidadãos. (...) A política de intimidação, terror e violência está a assumir formas cada vez mais enormes, horríveis e bárbaras", acrescentou.
Sobre os referendos em várias regiões ucranianas anunciados na terça-feira, Vladimir Putin deixou a garantia de que a Rússia "fará tudo para garantir as condições de segurança" dessas consultas populares, de forma a que as populações "possam expressar a sua vontade".
"Vamos apoiar a decisão sobre o seu futuro, uma decisão que será tomada por parte da maioria dos residentes nas repúblicas populares de Donetsk e Lugansk, em Zaporizhia e Kherson", assinalou.
A concretizar-se, a anexação destes territórios por parte da Rússia - como aconteceu com a Crimeia em 2014 - abre caminho à integração de 15 por cento do território ucraniano na Federação Russa.