Reunido em São Paulo, o Partido dos Trabalhadores anunciou formalmente que Luiz Inácio Lula da Silva é o seu candidato à Presidência da República do Brasil.
O anúncio foi feito logo no início da reunião pela presidente do PT, Gleisi Hoffman. "Depois, essa será uma reunião política, porque estamos lançando a pré-candidatura de Lula à presidência da República", afirmou.
Gleisi disse que não falaria sobre a condenação, mas ressaltou que a reunião era importante em virtude "do momento que estamos vivendo".
A presidente petista agradeceu o apoio recebido de vários quadrantes da esquerda brasileira.
"Desde 2014, não via mobilização tão grande da militância. É possível consolidação da centro-esquerda para enfrentar retrocesso", afirmou.
Lula foi condenado na quarta-feira, em segunda instância, de forma unânime pelo coletivo de desembargadores do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) a 12 anos e um mês de prisão.
O ex-Presidente é acusado de corrupção passiva e de lavagem de dinheiro, no caso do apartamento triplex do Guarujá no processo Lava Jato.
Na primeira instância, pelos mesmos crimes, Lula da Silva havia sido condenado pelo juiz Sérgio Moro a nove anos e meio de prisão. O ex-Presidente tem ainda contra si seis outros processos a correr na Justiça, a maioria por corrupção.
"Ditadura de toga"
O senador Lindbergh Farias do PT do Rio de Janeiro apelou esta quinta-feira à "desobediência civil", incluindo com ocupação das ruas, contra a decisão do TRF-4.
"Não nos peçam passividade nesse momento. Há uma ditadura de toga nesse país. Não podemos mais dizer que vivemos numa democracia e agora só temos um caminho: a rebelião cidadã e a desobediência civil", afirmou Lindbergh.
"Não vamos derrotar o golpe ganhando liminar na Justiça. Os advogados que façam o trabalho deles", acrescentou Lindbergh. "Mas tem que ter mobilização popular para Lula ser candidato. Temos de fazer enfrentamento social e uma rebelião cidadã", apelou.
"Vão fazer o quê? Prender o Lula? Vão ter de prender milhões de brasileiros antes", lançou.
Apelo à revolta
O apelo à revolta e à desobediência civil foi seguido por vários outros intervenientes na reunião do Diretório.
O governado do Piauí, Wellington Dias, afirmou por seu lado que a democracia está em perigo.
"É isso que está em jogo nesse momento no Brasil. Defender alguém inocente como Lula, que não pode ser condenado, é defender a democracia", disse. "O manual é a Constituição de 1988, ou se respeita a Constituição de 1988 ou vemos isso como uma ruptura, e numa ruptura o que existe é uma guerra de classes", acrescentou.
O governador do Acre, Tião Viana do PT, afirmou por seu lado que os juízes desembargadores que condenaram em segunda instância o ex-presidente Lula negam a autoridade do "maior magistrado do Brasil, que é o eleitor brasileiro".
"O eleitor vai decidir por Lula nas urnas", disse durante a reunião do Diretório Nacional.
Viana sustentou também que a condenação de Lula já aconteceu outras vezes na história do Brasil. "Fizeram assim com o Getulio Vargas e com o Juscelino Kubitscheck", lembrou o governador. "O que foi feito com Lula foi um atentado", disse. "A Constituição foi rasgada e violentada".
Lei da Ficha Limpa
Na reunião da cúpula do PT estão presentes dois advogados, que irão falar sobre o julgamento de Porto Alegre e sobre os próximos passos no processo jurídico de Lula. O líder da esquerda brasileira pode interpor ainda vários recursos até chegar ao Supremo Tribunal.
O ex-presidente e os demais políticos entraram no auditório para a reunião sem fazer declarações à imprensa.
A Lei da Ficha Limpa prevê que políticos condenados no Brasil em segunda instância não possam candidatar-se a cargos públicos. Contudo, a decisão do TRF-4 não afasta automaticamente Lula da eleição.
Uma possível impugnação da candidatura do petista só pode ser decidida pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que deverá levar em conta o que prevê a Ficha Limpa quando analisar o caso do ex-presidente.