Protestos contra Hamas prosseguem enquanto Netanyahu ameaça alargar ofensiva

por Cristina Sambado - RTP
Mohammed Saber - EPA

Benjamin Netanyahu repetiu as ameaças israelitas de confiscar território em Gaza se o Hamas se recusar a libertar os restantes reféns israelitas. Pelo segundo dia consecutivo, centenas de palestinianos juntaram-se aos protestos contra o movimento radical e exigiram o fim da guerra.

O aviso do primeiro-ministro israelita surge uma semana depois de Israel ter retomado a sua operação militar no território, a 18 de março, pondo em causa a relativa tranquilidade do cessar-fogo de janeiro com o Hamas.

Quanto mais o Hamas continuar a recusar a libertação dos nossos reféns, mais poderosa será a repressão que exerceremos”, afirmou Netanyahu numa audiência no Parlamento, que foi ocasionalmente interrompida por gritos de membros da oposição.

“Digo-o aos meus colegas no Knesset e digo-o também ao Hamas: isto inclui a tomada de territórios, juntamente com outras medidas que não vou elaborar aqui”, acrescentou o primeiro-ministro israelita.Numa referência aos protestos em Gaza contra o movimento islamita, Netanyahu frisou que “cada vez mais habitantes de Gaza compreendem que o Hamas lhes traz a destruição e a ruína e isso é essencial. Tudo isto prova que a nossa política está a funcionar”.


Na quarta-feira, o Hamas avisou que os reféns por libertar podem ser mortos se Israel tentar usar as suas Forças Armadas para os recuperar.
“Sempre que a ocupação tenta recuperar os seus prisioneiros pela força, acaba por os trazer de volta em caixões”, afirmou o grupo num comunicado.

Dos 251 reféns capturados durante o ataque do Hamas em 7 de outubro de 2023, que desencadeou a guerra, 58 ainda estão detidos em Gaza, incluindo 34 que os militares israelitas dizem estar mortos. O movimento já acusou Israel de colocar em risco os esforços dos mediadores para negociar um cessar-fogo permanente.
Israel e o Hamas acusam-se mutuamente de terem violado a trégua, que se estendia desde janeiro e que oferecia uma pausa na guerra aos 2,3 milhões de habitantes de Gaza, reduzida a escombros.
Na semana passada, Israel pôs fim a um cessar-fogo de dois meses, retomando os bombardeamentos e as operações terrestres, aumentando a pressão sobre o Hamas para libertar os restantes reféns em cativeiro.

Pelo menos 830 pessoas, mais de metade das quais crianças e mulheres, foram mortas desde que Israel retomou os grandes ataques militares em Gaza, a 18 de março, segundo o Ministério da Saúde de Gaza.

A ONU revelou que, em apenas sete dias, 142 mil pessoas foram deslocadas devido ao regresso do conflito e alertou para a diminuição das reservas de ajuda humanitária.

O porta-voz do secretário-geral da ONU, António Guterres, acrescentou que cerca de 90 por cento da população de Gaza foi deslocada pelo menos uma vez entre o início da guerra, a 7 de outubro de 2023, e janeiro deste ano.

Não há sinais de que Israel vá abrir os pontos de entrada para permitir o fluxo de ajuda essencial ou abrandar a sua nova ofensiva.
Manifestação contra Hamas junta centenas no norte de Gaza
Na quarta-feira, realizaram-se na Faixa de Gaza novas manifestações contra o Hamas, que governa o território desde 2007. Centenas de pessoas marcharam na cidade de Gaza e em Beit Lahia, no norte do país, gritando “Hamas fora” e carregando cartazes onde se lia “Hamas não nos representa”.

“Não queremos o Hamas! Estamos cansados”, disse à agência France Presse Muayed Zahir, um dos manifestantes na cidade de Gaza.

No dia anterior, Beit Lahia tinha sido palco da maior manifestação contra o Hamas desde o início da guerra. Os convites para manifestações, de origem desconhecida, em nove locais do território, circularam posteriormente na rede social Telegram.

“As nossas crianças foram mortas. As nossas casas foram destruídas”, afirmou Abed Radwan habitante de Beit Lahia, manifestando-se “contra a guerra, contra o Hamas e as fações (políticas palestinianas), contra Israel e contra o silêncio do mundo”.

No bairro de Shijaiyah, na cidade de Gaza, duramente atingido pelos combates e ataques israelitas, dezenas de homens gritaram “Fora, fora, fora! Hamas, fora!”.

O grupo militante reprimiu violentamente protestos anteriores, mas desta vez, não houve qualquer intervenção direta.
Porta-voz do Hamas morreu em ataque israelita
O porta-voz do Hamas, Abdel-Latif Al-Qanoua, foi abatido num ataque aéreo israelita no norte de Gaza, revelaram os meios de comunicação social afiliados ao Hamas na madrugada desta quinta-feira, a última figura de topo do grupo a ser morta desde que Israel retomou as suas operações no enclave.

Al-Qanoua foi morto quando a sua tenda foi atingida em Jabalia, avançou a televisão Al-Aqsa, dirigida pelo Hamas. O mesmo ataque feriu várias pessoas, enquanto ataques separados mataram pelo menos seis na cidade de Gaza e um em Khan Younis, no sul de Gaza, disseram à AFP fontes médicas.

No início desta semana, Israel matou Ismail Barhoum, um membro do gabinete político do Hamas, e Salah al-Bardaweel, outro líder sénior.

Tanto Bardaweel como Barhoum eram membros do órgão de decisão do Hamas, o denominado gabinete político, 11 dos quais foram mortos desde o início da guerra, de acordo com fontes do Hamas.

c/ agências
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