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"Proteção reforçada". UNESCO quer defender património histórico libanês dos ataques israelitas

por Carla Quirino - RTP
Ruínas de Baalbeck, Líbano Mohamed Azakir - Reuters

Pelo menos 34 locais históricos do Líbano receberam indicação da UNESCO para terem a categoria de "proteção provisória reforçada", anunciou o ministro libanês da Cultura. Com esta classificação, o organismo de proteção do Património Mundial da ONU pretende salvaguardar os sítios arqueológicos dos ataques de Israel.

Desde 23 de setembro que Israel está a bombardear o Líbano alegando que os ataques são contra alvos do Hezbollah. 

Estas hostilidades têm atingido as cidades de Baalbeck (leste) e Tiro (sul), onde estão localizados sítios arqueológicos classificados como património mundial da UNESCO.

Perante a ofensiva em curso, três centenas de profissionais da área da cultura e investigadores libaneses, como arqueólogos e professores, decidiram apelar à UNESCO, enviando uma petição para que os bens culturais nacionais tivessem uma maior garantia de proteção.

A petição teve entretanto resposta positiva, com a UNESCO a considerar que pelo menos 34 locais históricos passam a integrar a lista de património com "proteção provisória reforçada”.

Os 34 sítios culturais afetados "agora beneficiam do mais alto nível de imunidade contra ataques e uso para fins militares", declarou a UNESCO em comunicado, acrescentando que "o não cumprimento dessas cláusulas constituirá 'violação grave' da Convenção da Haia de 1954 e será possível motivo para processo".
Petição dirigida à UNESCO
A carta enviada a Audrey Azoulay, diretora da UNESCO, foi tornada pública esta segunda-feira. O conteúdo insta a organização da ONU a “implementar todos os meios” e “reforçar medidas, e até sanções”, para “proteger estes tesouros insubstituíveis”.

Os signatários estão “unidos pela mesma preocupação, que é a de preservar a integridade do património cultural e arqueológico do Líbano, em particular de Baalbeck”.

“O património cultural do Líbano (…) está seriamente ameaçado por ataques recorrentes a cidades antigas como Baalbeck, Tiro e Anjar – todas elas classificadas como património mundial da UNESCO”, acrescenta o texto, citado pela Lusa.

Os 300 signatários apelam aos "Estados com a influência necessária sobre as partes em conflito" para utilizarem "toda a sua capacidade diplomática e militar" de forma a "parar sem demora todas as ações militares que ameaçam a destruição ou deterioração" dos locais libaneses.

Na imagem vê-se o fumo derivado a um ataque aéreo israelita, na cidade libanesa de Baalbeck, no vale de Bekaa, a 23 de setembro de 2024, não muito longe das antigas ruínas romanas e das seis colunas que permanecem de pé no Templo de Júpiter | Nidal Solh - AFP

A Organização Não Governamental Change Lebanon, que está na origem da iniciativa, diz ter mobilizado curadores de museus, académicos, arqueólogos e escritores em França, Itália, Grã-Bretanha e Estados Unidos.

O ministro libanês da Cultura, Mohammad Mortada, confirmou nesta segunda-feira que a UNESCO concedeu a proteção reforçada a 34 sítios arqueológicos no país após submissão da petição ter sido bem-sucedida.

Mortada destacou a importância do património cultural do Líbano, descrevendo-o como um "farol civilizacional para o mundo" e enfatizando o seu “valor universal”.


O ministro acrescentou que a importância do “rico legado cultural do Líbano” pesou na decisão da UNESCO de aprovar o status de proteção reforçada.

Espera-se que a medida proteja esses sítios contra ameaças e garanta a sua preservação para as gerações futuras, rematou o ministro.
Valor Universal Excepcional
Ao longo das últimas décadas a UNESCO colocou seis sítios libaneses na lista do Património Mundial.

Entre eles está Baalbek, uma cidade de origem fenícia conhecida como Heliópolis durante o período helénico. Manteve a sua função religiosa durante o domínio romano, quando o santuário do Júpiter Heliopolitano atraiu milhares de peregrinos. Baalbek, com as estruturas colossais, é um dos melhores exemplos da arquitetura imperial romana.

O complexo de templos em Baalbek está localizado no sopé da encosta sudoeste, perto da planície fértil do Bekaa. Tornou-se num dos santuários mais famosos do mundo imperial romano.

De acordo com a UNESCO, a importância desta amálgama de ruínas do período greco-romano, com vestígios ainda mais antigos da tradição fenícia, "baseia-se no seu valor artístico e arquitectónico excepcional". A acrópole de Baalbek compreende vários templos onde eram venerados Júpiter, Venús e Mercúrio. O Templo de Júpiter, templo principal da tríade Baalbek, destaca-se com as colunas de 20 metros de altura que cercavam a cela e as pedras gigantescas do terraço.

Dois outros sítios classificados como Património Mundial é Ouadi Qadisha - o Vale Sagrado e a Floresta dos Cedros de Deus (Horsh Arz el-Rab). Atribuído o Valor Universal Excecional, o Vale de Qadisha é um dos mais importantes assentamentos monásticos cristãos do mundo. O Vale compreende o maior número de mosteiros e ermitas que remontam à primeira propagação do cristianismo.

Perto deste sítio estão os restos da grande floresta de cedros do Líbano, símbolo que permanece da bandeira nacional. Esta árvore foi “altamente valorizada na antiguidade para a construção de grandes edifícios religiosos” e forneceu a madeira para a frota marítima que levou muitos fenícios a instalarem-se nas costas mediterrâneas fundando grandes cidades como Cartago.

Byblos é outro dos sítios arqueológicos da lista da UNESCO. As ruínas de muitas civilizações que sucessivamente ocuparam o território são encontradas em Byblos, uma das mais antigas cidades fenícias. Habitada desde os tempos neolíticos, há milhares de anos, Byblos também está diretamente associada com a história e difusão do alfabeto fenício. Localiza-se 40 quilómetros a norte de Beirute.
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