"Profundamente triste e chocado". Guterres quer investigação à morte de funcionário da ONU em Gaza

por Inês Moreira Santos - RTP
Pierre Albouy - Reuters

Depois de uma agência da ONU em Gaza ter confirmado a morte de um funcionário, durante a explosão de um artefacto "lançado ou disparado" contra uma das instalações das Nações Unidas, durante um ataque israelita à Faixa de Gaza, António Guterres admitiu estar "profundamente triste e chocado". Israel nega qualquer responsabilidade, mas o secretário-geral da ONU pediu que uma investigação completa ao caso. Também o subsecretário-geral da ONU, Jorge Moreira da Silva, já tinha condenado o bombardeamento, rejeitando que tenha sido um acidente.

“Israel sabia que esta era uma instalação da ONU, que as pessoas estavam a morar, a permanecer e a trabalhar lá, é um complexo. É um lugar muito conhecido”, afirmou Jorge Moreira da Silva, que admitiu estar chocado com os ataques israelitas contra edifícios onde estavam trabalhadores humanitários.

O subsecretário-geral das Nações Unidas confirmou, esta quarta-feira que um funcionário morreu na sequência de um ataque israelita a instalações da organização na Faixa de Gaza.

“Na minha opinião, isto não foi um acidente, não pode ser categorizado como tal”, disse ainda o diretor executivo do Escritório das Nações Unidas para Serviços de Projetos (UNOPS) em conferência de imprensa em Bruxelas, na Bélgica. “Quero deixar claro que esta localização estava numa zona isolada, não havia mais edifícios por perto, era uma estrutura bem conhecida”, comentou, assumindo-se “chocado com estas notícias”.

O diretor-executivo da UNOPS afirmou ainda que “o que está a acontecer em Gaza é inconcebível”.

Investigação completa
Pouco depois, António Guterres condenou a ofensiva e pediu uma investigação completa.

"O secretário-geral ficou profundamente triste e chocado ao saber da morte de um membro da equipa do Escritório das Nações Unidas para Serviços de Projetos (UNOPS), quando duas casas de hóspedes da ONU em Deir el-Balah foram atingidas em ataques. Cinco outros funcionários da ONU ficaram gravemente feridos", indicou o gabinete de Guterres num comunicado.

As Nações Unidas frisaram que a localização de todas as instalações da organização é conhecida pelas partes em conflito, que são obrigadas pelo direito internacional a protegê-las e a manter a sua "inviolabilidade absoluta".

Segundo a mesma nota, Guterres "condena veementemente todos os ataques ao pessoal da ONU e pede uma investigação completa". O gabinete do secretário-geral da ONU ressalvou ainda que todos os conflitos devem ser conduzidos de forma a garantir que os civis sejam respeitados e protegidos.

Uma fonte da ONU tinha confirmado, esta quarta-feira de manhã, que os edíficios da ONU tinham sido atingidos e que, ao contrário de relatos anteriores, não se tratava de "munições não detonadas" ou de uma mina, mas de um projétil "disparado ou lançado" contra os prédios.

"Não sabemos se foi disparado da terra, do mar ou do ar", observou a mesma fonte, citada pelas agências.

Os ataques israelitas contra a Faixa de Gaza causaram mais de 970 mortos em 48 horas, segundo um balanço divulgado esta quarta-feira pelo Ministério da Saúde do Hamas. Israel retomou a campanha de bombardeamento na Faixa de Gaza na segunda-feira à noite, após uma trégua de quase dois meses, iniciada em 19 de janeiro.

O secretário-geral da ONU enfatizou a necessidade de que o cessar-fogo seja respeitado "para pôr fim ao sofrimento do povo" e pediu que a ajuda humanitária chegue a todas as pessoas necessitadas.

"Os reféns devem ser libertados imediata e incondicionalmente", insistiu Guterres, lembrando que o direito internacional deve ser cumprido em todos os momentos.

Israel rompeu unilateralmente, na segunda-feira, o cessar-fogo com o movimento Hamas na Faixa de Gaza e que estava em vigor desde 19 de janeiro.
Tópicos
PUB