Procurador especial diz que Trump seria condenado se não tivesse sido eleito
Donald Trump teria sido condenado pela sua alegada tentativa de anular o resultado das eleições de 2020 se não tivesse vencido as presidenciais o ano passado, conclui um relatório do procurador especial Jack Smith, publicado esta terça-feira nos media norte-americanos. O presidente eleito já reagiu, apelidando Jack Smith de "perturbado".
No relatório de 137 páginas, Jack Smith afirma que ele e os colaboradores atuaram sempre segundo a lei e concluíram que Trump, presidente dos EUA entre 2016 a 2021, levou a cabo “uma série de esforços criminosos para manter o poder” depois de ter sido derrotado pelo atual presidente, Joe Biden, nas eleições de novembro de 2020.
Donald Trump reagiu pouco depois de o relatório ter sido divulgado, apelidando Jack Smith de “perturbado”.
“O perturbado Jack Smith não conseguiu processar com sucesso o adversário político do seu 'chefe', o corrupto Joe Biden", começou por escrever Donald Trump numa mensagem publicada na plataforma Truth Social, da qual é proprietário.
Por essa razão, continuou Trump, o procurador especial publicou "mais um 'relatório' baseado em informações" que um grupo de "políticos corruptos e bandidos destruíram e apagaram ilegalmente, porque mostrava que eu era totalmente inocente”.
"Para mostrar o quão desesperado Jack Smith está, ele publicou as suas conclusões falsas à 1h da manhã", acrescentou o presidente eleito numa outra mensagem.
"A alegação do senhor Trump de que as minhas decisões como procurador foram influenciadas ou direcionadas pelo governo Biden ou outros atores políticos é, numa palavra, risível", escreveu Smith numa carta a detalhar o seu relatório.
Trump planeava emitir “certificados fraudulentos”
O relatório do procurador especial detalha os alegados esforços de Trump para persuadir autoridades eleitas e líderes republicanos estaduais a "alterar os resultados" das eleições de 2020.
"O Sr. Trump contactou autoridades eleitas e autoridades estaduais, pressionou-os com falsas alegações de fraude eleitoral nos seus Estados e instou-os a tomar medidas para ignorar a contagem de votos e alterar os resultados", lê-se no relatório, que foi publicado online pelo New York Times e pelo Washington Post.
O documento também comprova que Trump e os seus cúmplices planeavam emitir "certificados fraudulentos" de eleitores em sete Estados onde ele tinha perdido (Arizona, Geórgia, Michigan, Nevada, Novo México, Pensilvânia e Wisconsin).
Smith foi nomeado em 2022 para supervisionar as investigações do governo dos EUA sobre Trump. Conselheiros especiais são escolhidos pelo Departamento de Justiça (DoJ) em casos em que há um potencial conflito de interesses.
No caso da interferência eleitoral, Trump é acusado de conspirar para anular o resultado das eleições presidenciais de 2020, que deram a vitória ao seu rival democrata Joe Biden. O esforço de Trump culminou no ataque de 6 de janeiro de 2021 ao Capitólio dos EUA, quando uma multidão de seus apoiantes invadiu o Congresso numa tentativa de impedir os deputados de certificarem o resultado das eleições.
Tanto este caso como o caso separado dos documentos confidenciais que Trump terá retido após abandonar a Casa Branca resultaram em acusações criminais contra Trump, que se declarou inocente e tentou classificar os processos como politicamente motivados.
No entanto, Smith foi obrigado a retirar ambos os casos contra Trump depois de o republicano ter vencido as eleições em novembro passado, cumprindo os regulamentos do Departamento de Justiça que proíbem o processo contra um presidente em exercício. O procurador especial Jack Smith demitiu-se do Departamento de Justiça na sexta-feira, três dias depois de entregar o relatório ao procurador-geral dos EUA, Merrick Garland.
A demissão de Jack Smith não é surpreendente, uma vez que Trump tinha dito que uma das primeiras coisas que faria quando regressasse à Casa Branca seria afastar o procurador especial.
Apesar da sua demissão, o relatório acabou por ser enviado na madrugada desta terça-feira para o Congresso, depois de a juíza Aileen Cannon ter dado luz verde à divulgação do documento.
Uma segunda parte do relatório detalha o caso de Smith que acusa Trump de reter ilegalmente documentos confidenciais de segurança nacional após deixar a Casa Branca em 2021. O Departamento de Justiça comprometeu-se, no entanto, a não tornar essa parte pública enquanto prosseguem os procedimentos legais contra dois associados de Trump acusados no caso.
A juíza Aileen Cannon convocou uma audiência no próximo fim de semana para decidir se deve ou não divulgar esta segunda parte do relatório.
Trump regressa à Casa Branca a 20 de janeiro como o primeiro presidente norte-americano a ser condenado num processo criminal, após ter sido condenado, sem punições, por pagamentos ilegais para comprar o silêncio da atriz pornográfica Stormy Daniels, com quem terá mantido uma relação extraconjugal.
c/agências