Prisões francesas enfrentam ataques noturnos com armas automáticas

por Carla Quirino -RTP
The CommonVoice Via X

O ministro francês da Justiça confirmou esta terça-feira que foram desferidos ataques em várias prisões, durante a noite. Durante os tumultos foram disparadas armas automáticas e queimados veículos. Estes distúrbios serão uma resposta aos esforços do Governo para reprimir o tráfico de drogas, segundo as autoridades.

Gérald Darmanin, ministro francês da Justiça, escreveu na rede X a confirmação dos ataques ocorridos na madrugada de terça-feira em vários estabelecimentos prisionais do país.

"Foram feitas tentativas para intimidar os funcionários em várias prisões, desde incendiar veículos até disparar armas automáticas", reportou Darmanin.

Acrescentou que viajaria para a cidade de Toulon, no sul de França, cuja prisão estava entre as atacadas.

Darmanin também relacionou os incidentes com a campanha francesa contra o tráfico de drogas. Reforçou ainda a segurança prisional para reprimir os traficantes que comandam as redes, mesmo estando atrás das grades.

"Vou a Toulon para apoiar os agentes envolvidos. A República Francesa está a enfrentar o problema do tráfico de drogas e a tomar medidas que desmantelarão em massa as redes criminosas", sublinhou.

Ataques concertados?
Diversos "agressores desconhecidos" dispararam armas automáticas contra a prisão na cidade de Toulon. Pelo menos 15 marcas de bala foram encontradas no portão da frente, após o ataque com uma arma de assalto de "tipo Kalashnikov", descreveram os guardas prisionais.

Em simultâneo, vários veículos foram incendiados do lado de fora de outras prisões em todo o país e funcionários foram ameaçados. 

Para além de Toulon, outros estabelecimentos prisionais como Aix-En-Provence, Marselha, Valence e Nimes, no sul da França, e Villepinte e Nanterre, perto de Paris, foram alvo de ataques.Ainda não é claro se os ataques foram coordenados ou quem os executou, dizem as autoridades francesas.

Citado pela AFP, Darmanin disse que "tudo isso parece ter sido coordenado e está claramente ligado à estratégia de combate às drogas".

Segundo o sindicato dos funcionários da prisão, FO Justice, "diversos veículos foram incendiados, portões da prisão incendiados e até mesmo alvos de armas pesadas".

Três veículos, incluindo dois pertencentes a funcionários da prisão, foram incendiados no estacionamento da prisão de Villepinte, ao norte de Paris, disse uma fonte policial. Quase quatros litros de combustível foram encontrados no local, e imagens de câmaras de segurança mostraram dois indivíduos a incendiar mais carros.

Os veículos estacionados no exterior de três outras prisões, uma perto de Paris e duas no sul da França, também foram incendiados, reportou outra fonte policial.

"Esses atos criminosos são um ataque total à nossa instituição, à república e aos funcionários que servem a república todos os dias", sublinhou o FO Justice, ao mesmo tempo que pede uma "resposta forte e clara do governo".

O ministro do Interior, Bruno Retailleau, diz que deu indicações aos presidentes de câmara locais, juntamente com a polícia e a força de segurança nacional, a gendarmaria, a intensificar imediatamente a proteção dos funcionários e das prisões.

"A resposta do Estado deve ser implacável.Aqueles que atacam prisões e agentes penitenciários devem ser presos nessas prisões e vigiados por esses agentes", realçou Retailleau, citado na France24.
"Tsunami branco"
A França tem registado apreensões históricas de cocaína ao mesmo temo que grupos criminosos arrecadam altos lucros com a venda do pó branco, à medida que se expandem de bases de poder tradicionais em cidades como Marselha para cidades menores, desacostumadas da violência relacionada com as drogas.

O aumento da criminalidade entre gangues aumentou o apoio ao partido União Nacional e ajudou a arrastar a política francesa para a extrema-direita. Os ministros Darmanin e Retailleau previligiaram medidas no combate ao tráfico de drogas.

Em fevereiro – ao anunciar apreensões de cocaína de 47 toneladas nos primeiros 11 meses de 2024, contra 23 toneladas em todo o ano de 2023 – Retailleau afirmou que a França tinha sido atingida por um "tsunami branco" que reescreveu as regras do cenário criminal.

Darmanin propôs uma série de ordenações para reforçar a segurança prisional, incluindo o isolamento dos 100 principais traficantes do país.

Os legisladores também estão prestes a aprovar uma nova lei abrangente contra o tráfico de drogas, que criará um novo Ministério Público Nacional dedicado ao crime organizado, passando a dar maior poder à polícia que investiga narcotraficantes.

c/ Reuters
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