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Prisioneiros de guerra ucranianos afirmam ter sido torturados em prisão russa

por Cristina Sambado - RTP
Prisioneiros ucranianos libertados no passado dia 7 de agosto. Imagem ilustrativa Gabinete Presidencial da Ucrânia, Andriy Yermak, via Telegram/ Handout via Reuters

Antigos prisoneiros de guerra ucranianos revelaram ter sido sujeitos a tortura, incluindo agressões constantes e choques elétricos, enquanto estiveram detidos num centro de detenção no sudoeste da Rússia, no que seriam graves violações dos direitos humanos.

Em declarações à BBC, cerca de uma dúzia de ex-detidos, que foram libertados numa troca de prisioneiros entre Kiev e Moscovo, alegaram abusos físicos e psicológicos por parte de oficiais e guardas russos num centro de detenção na cidade de Taganrog. Os testemunhos recolhidos, a maioria de ex-combatentes do Regimento Azov, descrevem um padrão consistente com extrema violência e maus-tratos nas instalações, um dos locais onde os prisioneiros de guerra ucranianos têm estado detidos na Rússia.

Segundo os ex-prisioneiros, “homens e mulheres nas instalações de Taganrog são repetidamente espancados, incluindo nos rins e no peito, e recebem choques elétricos durante as inspeções e interrogatórios diários”.

Os testemunhos alegam ainda que “os guardas russos ameaçam e intimidam constantemente os detidos, alguns dos quais fizeram falsas confissões que foram alegadamente usadas como prova contra eles em julgamentos”.

A BBC revela ainda que, “os detidos são constantemente deixados subnutridos e os que são feridos não recebem assistência médica adequada, havendo relatos de detidos que morreram nas instalações”.

Factos que não foram verificados de forma independente. No entanto, os pormenores dos relatos foram partilhados com grupos de defesa dos direitos humanos e, sempre que possível, corroborados por outros ex-prisioneiros.
O governo de Vladimir Putin não autorizou nenhum organismo externo, incluindo as Nações Unidas e o Comité Internacional da Cruz Vermelha, a visitar as instalações que, antes da guerra, eram utilizadas exclusivamente para deter prisioneiros russos.


O Ministério russo da Defesa não respondeu a vários pedidos de comentários feitos pelo jornalista Hugo Bachega, da BBC. Moscovo negou anteriormente ter torturado e maltratado os prisioneiros.

As trocas de prisioneiros entre a Ucrânia e a Rússia são um feito diplomático raro na guerra e mais de 2.500 ucranianos foram libertados desde o início do conflito. Segundo grupos de defesa dos direitos humanos, acredita-se que cerca de 10 mil prisioneiros permanecem sob custódia russa.
Nove em cada dez foram torturados Dmytro Lubinets, o provedor dos Direitos Humanos da Ucrânia e um dos responsáveis pelas negociações de troca com Moscovo, afirmou que nove em cada 10 antigos detidos afirmaram ter sido torturados enquanto estiveram sob custódia russa.

"Este é o maior desafio para mim agora: como proteger o nosso povo do lado russo", frisou Lubinets. "Ninguém sabe como o podemos fazer".

Segundo Lubinets, “as autoridades russas criaram um sistema de tortura para os prisioneiros ucranianos, normalmente em centros de detenção na Rússia e nas zonas ocupadas pelas tropas de Moscovo na Ucrânia”.

“Os soldados russos podem fazer tudo que querem com os ucranianos”, rematou Lubinets à BBC.
“Fortes padrões de violações”Em março, um relatório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH) sublinhou que a Rússia "não conseguiu garantir o tratamento humano" dos prisioneiros, com "fortes padrões de violações".

Kris Janowski, porta-voz do gabinete, afirmou que existe uma "longa lista de atos negativos" cometidos contra os detidos nas instalações de Taganrog.

O facto de uma prisão estar a ser utilizada para manter prisioneiros constitui, por si só, uma violação dos direitos humanos a nível internacional, uma vez que estes deveriam ser mantidos em locais especialmente designados para o efeito. De acordo com o relatório de março, a Ucrânia também foi acusada de maus-tratos aos detidos, mas, de um modo geral, estes foram "tratados de uma forma melhor".

Segundo Janowski, “Moscovo rejeitou repetidamente os pedidos da ONU para visitar os centros de detenção sem apresentar quaisquer razões legítimas. Já a Ucrânia “abriu as suas instalações a peritos”. Três mortos em TaganrogA Media Initiative for Human Rights , uma organização ucraniana, registou alegações de pelo menos três mortes na prisão de Taganrog, aparentemente devido a tortura e falta de comida e cuidados de saúde.

Mariia Klymyk, uma das investigadoras do grupo, afirmou à BBC que este era "um dos piores locais para os detidos ucranianos na Rússia".

Mariia Klymyk ouviu relatos de homens que foram levados para interrogatório e lhes foi perguntado se tinham filhos. "Se alguém disser que não tem filhos, é espancado nos órgãos genitais", descreveu Klymyk, "enquanto o guarda diz: 'Para evitar a procriação'".
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