Rainier III do Mónaco, conhecido como "príncipe edificador" por ter modernizado um principado "adormecido", morreu hoje após 55 anos de reinado, marcado pela felicidade ao estilo "conto de fadas" mas também por dramas que encheram páginas de jornais.
A morte do príncipe Rainier III do Mónaco, hoje às 06:35 locais (05:35 de Lisboa), aos 81 anos, na sequência de uma crise bronco- pulmonar e de problemas cardíacos e renais, põe fim a um dos mais longos reinados da história do Mónaco e integrado na dinastia mais antiga da Europa.
O estado de saúde do príncipe, internado desde o passado dia 07 de Março no Centro cardio-torácico devido a uma "infecção bronco- pulmonar", agravou-se nos últimos dias, e o monarca estava ligado a uma máquina de respiração artificial desde 22 de Março.
O monarca teve uma série de problemas de saúde depois de uma operação à aorta em Dezembro de 1999 e da ablação parcial de um pulmão em Fevereiro de 2000 e era frequentemente internado devido a bronquites.
Rainier Louis Henri Maxence Bertrand Grimaldi nasceu a 31 de Maio de 1923 no pequeno mas rico principado do Mónaco, situado na costa sul de França, e tornou-se príncipe a 09 de Maio de 1949 depois da morte do seu avô, Luís II, e porque a sua mãe, a princesa Charlotte, renunciou ao seu direito ao trono.
O príncipe ficou mais conhecido pelo casamento com a actriz de Hollywood Grace Kelly, a 18 de Abril de 1956, visto pelos monegascos como "um conto de fadas".
Desta união, nasceram três filhos: o príncipe Alberto e as princesas Carolina e Stephanie.
Rainier teve uma vida marcada pela felicidade e pelo drama que enchia as páginas da imprensa cor-de-rosa com as histórias da morte da sua mulher em 1982 num acidente de viação em que a sua filha Stephanie ficou ferida e da morte, em 1990, do marido da sua filha Carolina, Stefano Casiraghi.
A imprensa foi ainda alimentada pelos romances e casamentos de Stephanie e os casos amorosos do herdeiro do trono, Alberto, ainda solteiro.
O monarca remodelou completamente o principado, que passou de estância "adormecida" a centro financeiro e turístico, o que lhe valeu a reputação de príncipe "edificador".
Durante o seu reinado, Rainier reforçou, expandiu e diversificou as empresas já existentes no principado, criou outras empresas ligadas à indústria, e, através de um ousado empreendimento, "retirou" terra ao mar, aumentando o território em 20 por cento.
Mesmo assim, o principado tem uma extensão de apenas 2,6 quilómetros quadrados, uma área mais pequena que a ocupada pelo Central Park de Nova Iorque, onde vivem 32.000 pessoas.
Rainier, que se manteve discreto desde a morte da princesa Grace do Mónaco, empreendeu uma importante reforma política quando promulgou uma nova constituição, que estabelece o princípio de governo pela monarquia constitucional e que consagra a separação das funções administrativas, legislativas e judiciais.
Desde então, o poder legislativo é partilhado pelo príncipe e pelo conselho nacional, assembleia de 24 membros eleitos por sufrágio universal directo.
A 5 de Outubro de 2004, realiza um sonho antigo, com a adesão do Mónaco, sempre na categoria da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico) dos "paraísos fiscais não-cooperativos", ao Conselho da Europa.
No plano cultural, o monarca criou em 1966 a fundação Príncipe Pierre do Mónaco que promove um prémio literário e um prémio de composição musical e fundou, em 1974, o festival internacional do circo, um dos mais famosos e reputados do mundo.
Filho da princesa Charlotte do Mónaco e de Pierre de Polignac, Rainier estudou no Reino Unido e na Suíça antes de ir para a universidade em Paris, França, onde seguiu o curso da escola de ciências políticas.
O príncipe adquiriu o grau de Cavaleiro da Legião de Honra e ganhou a Cruz de Guerra e a Estrela de Bronze por ter servido no exército francês como oficial de artilharia na ofensiva alemã na Alsácia, durante a Segunda Guerra Mundial.
O príncipe herdeiro é Alberto, de 47 anos. Contudo, de acordo com a lei monegasca, se não tiver descendência, ascenderá ao trono a sua irmã mais velha, Carolina.
A dúvida dos monegascos é se Alberto conseguirá proteger a herança e continuar o trabalho de Reinier, cuja personalidade se confunde com a História recente do Mónaco.