Rio de Janeiro, Brasil, 12 Mar (Lusa) - Em viagem oficial ao Brasil, o Príncipe Carlos vai incluir no seu roteiro uma visita à favela Nova Holanda, uma das 16 comunidades que compõem o Complexo da Maré, no Rio de Janeiro, região marcada por baixos indicadores sociais.
O Príncipe de Gales e a Duquesa de Cornualha, Camilla Parker-Bowles, vão conhecer o trabalho de cidadania desenvolvido pela organização não-governamental Luta Pela Paz, coordenada pelo antigo pugilista britânico Luke Dowdney.
Para o director e fundador da entidade, a visita do Príncipe britânico pode representar um "ponto de partida" para novos diálogos e parcerias a fim de dar visibilidade ao projecto social que atende mais de 800 jovens em situação de risco ou em conflito com a lei.
"O projecto está a ser reconhecido" referiu Dowdney, ao citar visitas anteriores de dois ministros dos desportos do Reino Unido e também representantes das Olimpíadas que estão a ser organizadas em Londres, em 2012.
Além da nacionalidade, o que os aproxima, segundo o lutador inglês, é o trabalho social que o Príncipe está a desenvolver com jovens há cerca de 20 anos na Inglaterra.
A ONG Luta Pela Paz foi criada em 2000 e tem como fundamento as áreas do desporto e do desenvolvimento pessoal.
"O foco é caçar jovens envolvidos com o crime para que comecem uma vida melhor, aproveitar a energia e canalizar a agressividade", disse à Lusa.
Segundo dados do censo de 2000, 113 mil pessoas vivem na Maré, dos quais quase um terço são crianças e adolescentes.
A luta, para ele, "é algo importante na vida do jovem", afirma ao destacar que transmite noção de disciplina, educação, persistência, além de fazer com que o atleta "use a cabeça com estratégias para superar".
Segundo Dowdney, são muitas as lições que podemos transferir da luta para vida: "O que acontece no ringue, acontece na vida, o ringue é um pequeno teatro da vida."
Ele defende a necessidade de ser pró-activo e passar a mentalidade de "ser campeão na vida".
São estes os ensinamentos que a equipa de profissionais está a transmitir aos jovens que participam do projecto, pois além de treinos, eles também têm a possibilidade de ter uma formação educacional e profissional para ingressar no mercado de trabalho.
Muitos jovens aprendem a lutar boxe, mas nem todos perseguem este rumo. Segundo Dowdney, há sempre alguns que se destacam no ringue, é o caso de Roberto Custódio que ingressou na selecção brasileira de boxe e ganhou medalha de prata no sábado passado, em luta oficial na Itália.
A ONG vive actualmente de doações e todos os apoios são temporários. Dowdney se diz em busca de parcerias e convénios e realça que o projecto "tem muito a oferecer", principalmente na época de crise, pois será o período em que ele acredita que a oferta de emprego poderá diminuir e muitos jovens se estarão em situação vulnerável.
Durante a visita à sede da ONG, o Príncipe e a Duquesa vão se encontrar com lideranças jovens do projecto, como Ana Caroline Belo da Silva, de 23 anos, que começou há sete como aluna de boxe e hoje actua como educadora social.
Ela diz que apesar de não falar inglês, está ansiosa por conhecer o Príncipe Carlos. "A expectativa de todos é de muita ansiedade. A responsabilidade é muito grande mostrar que a Maré pode receber pessoas sim", referindo-se ao visitante.
A tecnologia social criada na favela do Rio de Janeiro pela ONG Luta Pela Paz já está a ser exportada. O projecto sob o mesmo nome em inglês, "Fight For Peace", que está a funcionar na Inglaterra utiliza o mesmo modelo do que é empregado na Maré.
Na quarta-feira, o Príncipe de Gales foi recebido, em Brasília, pelo Presidente Lula da Silva e teve encontros com o ministro Celso Amorim e os presidentes do Senado Federal e da Câmara dos Deputados.
Durante sua viagem ao Brasil, o casal real também conhecerá iniciativas brasileiras em favor da protecção do meio ambiente, como a criação de reservas ambientais e acções de combate à mudança do clima.
No Rio de Janeiro, o Príncipe Carlos ainda se encontrará com empresários e especialistas em questões ambientais.
Em Manaus, no dia 13, reunir-se-á com os governadores dos Estados amazónicos, e, no dia seguinte, em Santarém, no Pará, o casal visitará o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazónia (INPA) e projectos de preservação de água com reflorestação.
FO.