Princesa saudita libertada da cadeia ao fim de três anos sem explicações

por RTP
Foto de arquivo da princesa Basmah bint Saud em 2017 DR

As autoridades sauditas libertaram a princesa Basmah bint Saud bin Abdulaziz al-Saud, detida em março de 2019 em circunstâncias misteriosas. A notícia foi comunicada pelos seus advogados, que estavam a pressionar as Nações Unidas a exigir a sua libertação.

Filha de segundo monarca saudita, a princesa foi detida com a filha. Souhoud al-Sharif, por elementos das forças de segurança quando se preparavam para viajar para a Suíça, para tratamentos médicos de rotina. Basmah sofre de problemas de saúde, incluindo osteoporose. Oficialmente, a princesa e a filha desapareceram e foi a própria Basmah a comunicar nas redes sociais em 2020 que estava detida sem acusação formal numa das mais conhecidas prisões sauditas, a de al-Hair, nos arredores de Riade, a capital do reino saudita. 

O governo, então dominado pelo príncipe herdeiro Mohammed bin Salman, não comentou publicamente a detenção.

Em 2020, a missão saudita junto da ONU em Genebra afirmou perante o grupo que questiona detenções arbitrárias a nível mundial que a princesa Basmah era «acusada de crimes relacionados com tentativa de se ausentar do Reino ilegalmente» que não tinha sido submetida a jugamento.

A princesa, de 58 anos, foi libertada juntamente com a filha, de 30, na semana passada e regressou a casa na cidade portuária de Jeddah, confirmou o seu advogado Henri Estramant. O seu foco é recuperar a saúde e passar tempo com a família, acrescentou.

"As duas senhoras estão livres da sua detenção arbitrária e estão em casa em Jeddah desde quinta-feira, 6 de janeiro de 2022. A princesa está bem mas irá consultar especialistas médicos. Parece esgotada mas está animada e grata de se reunir presencialmente com os dois filhos", referiu Estramant este sábado.

A embaixada saudita em Washington não comentou a libertação, tal como não comentara a detenção. Esta surpreendeu muitos analistas pois Basmah nunca foi considerada especialmente influente nos assuntos internos do reino apesar de ser conhecida por falar publicamente em defesa dos direitos das mulheres.

A sua foi a derradeira numa série de detenções de membros da família real ordenadas pelo príncipe herdeiro como forma de consolidar o seu poder com líder de facto. Muitos destes foram aprisionados na mesma cadeia, al-Hair.

Após a ascensão ao trono do Pai, o Rei Salman, em 2015, Mohammed bin Salman perseguiu críticos, ativistas e rivais no seio da família real, ordenando a prisão de vários príncipes numa purga alegadamente anti-corrupção.

Durante a detenção a saúde da princesa Basmah piorou de forma significativa, acusam os seus advogados londrinos, que apelaram meses consecutivos pela sua libertação junto das Nações Unidas.

"Durante meses nem sabíamos se ela estava ou não viva", explicou Rhianna Dorrian, da firma Grant Liberty, exemplificando a impossibilidade da princesa se comunicar diretamente com a família e apoiantes desde o passado mês de maio. "Sabemos também que lhe foi negada medicação básica".

Ao publicar a sua localização em 2020, através das redes sociais, a princesa afirmou estar detida há mais de um ano e muito doente. Deixou um apelo ao príncipe herdeiro e seu primo para a libertar e providenciar cuidados médicos. A princesa, a filha mais nova do falecido Rei Saud, queixava-se ainda ao tio, o Rei Salman, de continuar a desconhecer as razões da detenção.

A libertação de Basmah é tida como uma vitória pelos seus advogados, apesar de ela estar ainda a ser vigiada e de diversos detalhes da sua situação serem ainda turvos. "É um bom sinal de um tribunal real de que estão a tentar melhorar o sistema legal", afirmou Estramant. "Se a Arábia Saudita está a tentar desenvolver-se e modernizar-se é bom não ter pessoas detidas de forma arbitrária".
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