O primeiro-ministro são-tomense, Jorge Bom Jesus, desvalorizou hoje críticas do Presidente àquilo que classificou como "corrupção desenfreada" no Estado, considerando que faltam dados concretos sobre o fenómeno, que deve ser avaliado "num fórum próprio".
Na opinião do chefe de Estado, que falava no ato central da comemoração do 46.º aniversário da independência nacional, "a onda de roubos e assaltos, a corrupção desenfreada nas instituições do Estado, a tendência para se trabalhar pouco e querer ter muito, os esquemas, as burlas, tudo isso tem levado a que se trabalhe pouco e com muito baixa produtividade".
Questionado pelos jornalistas no final da cerimónia, Bom Jesus disse que a questão da corrupção é "temática muito controversa e muito relativa".
Afirmando falar "enquanto Jorge Bom Jesus" e não como chefe do Governo, disse que há que ver "a pequena corrupção até à alta corrupção", vulgarmente conhecida como os crimes de `colarinho branco`.
"Não nos esqueçamos que estamos numa sociedade em que a pobreza grassa, e falamos também mais do que da pobreza física, a pobreza moral, a pobreza intelectual", comentou.
Para o primeiro-ministro, é necessário "encontrar um fórum próprio para escalpelizarmos essa questão e desmistificarmos essa questão da corrupção, tanto aquilo que alguns entendem institucionalizada como a outros níveis".
"Mas eu tenho muitas reservas em relação a essa questão da corrupção, porque eu preciso de dados", disse.
"Nós não podemos continuar a conviver com afirmações. Nós precisamos de factos, de indicadores, e há instituições internacionais que nos avaliam e poderei confrontar depois uns e outros com esses documentos num fórum próprio", acrescentou.
Por outro lado, o primeiro-ministro também desvalorizou o alerta que Evaristo Carvalho deixou hoje, quando lamentou a perda dos "valores morais fundamentais" do respeito, disciplina e trabalho, que considerou comprometerem "o desenvolvimento socioeconómico e sociocultural" de São Tomé e Príncipe.
"Naturalmente que nós registamos algumas perdas, e é notório que de facto neste momento há algumas inversões de valores, mas é bom também que desmistificar essa questão porque a sociedade é uma dinâmica e os tempos mudam", assinalou Jorge Bom Jesus.
"Todos nós temos responsabilidades em relação ao estado em que o país se encontra, e desenganem-se aqueles que pensam que um partido só ou o governo sozinho vai resolver todos os problemas de São Tomé e Príncipe", afirmou.
Para o chefe do Governo, "o importante é arregaçar as mangas e aquelas três palavrinhas de ouro da divisa [são-tomense]: unidade, disciplina e trabalho".