Primeiro-ministro de Israel admite vir a equipar Ucrânia com sistema Iron Dome
Tem sido uma das críticas feitas a Jerusalém, a falta de envolvimento oficial no apoio a Kiev e os ouvidos surdos aos apelos por ajuda militar feitos pelo Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, ele próprio de ascendência judia. Agora, tal política pode ter os dias contados.
À televisão norte-americana CNN, o primeiro-ministro Benjamim Netanyahu revelou que está a "estudar" a inversão dessa política, sem contudo se comprometer demasiado.
Questionado sobre se pensa fornecer o sistema de defesa antimíssil Iron Dome a Kiev, Netanyahu admitiu "estou certamente a encarar essa possibilidade". Desenvolvido pela israelita Rafael Advanced Defence Systems com apoio norte-americano, o Iron Dome foi projetado para intercetar e destruir mísseis de curto alcance e bombas de artilharia. Tem-se revelado crucial na proteção das cidades israelitas contra ataques oriundos da Faixa de Gaza.
Israel tem tentado preservar as suas relações com a Rússia, que tem tropas na vizinha Síria, de quem controla os céus, e que tem ignorado as incursões israelitas naquele espaço aéreo para atingir alvos iranianos. O estado hebreu conta igualmente com mais de um milhão de cidadãos oriundos da ex-União Soviética.
À CNN, Netanyahu confirmou ainda que os norte-americanos transferiram recentemente para a Ucrânia um conjunto de munições de artilharia "pouco conhecido" que estava em território israelita, implicando que essa foi uma ajuda subreptícia israelita a Kiev.
Frisou igualmente que ao atacar alvos iranianos, Israel tem estado a ajudar indiretamente a Ucrânia.
"Os Estados Unidos retiraram recentemente uma grande parte das munições de Israel e transferiram-nas para a Ucrânia. Israel também, com franqueza, age de formas que não vou listar aqui contra a produção de armamento iraniano que é usado contra a Ucrânia", referiu.
Papel mediador
Netanyahu ofereceu-se ainda para mediar o fim do conflito entre
Moscovo e Kiev, se solicitado e com acordo dos EUA, lembrando que só não
acedeu ao convite nesse sentido que lhe foi feito logo após o início da
guerra porque estava então na oposição.
"Já
estou aqui há tempo suficiente para saber que tem de haver um momento
certo e as circunstâncias certas. Se as duas surgirem, certamente vou
ter isso em consideração", afirmou, citado pela agência noticiosa
italiana ANSA.
Uma entrevista concedida pouco
depois da visita a Israel do secretário de Estado norte-americano,
Antony Blinken, na esteira de um novo agudizar de tensões entre
israelitas e palestinianos.
Na altura, Blinken
garantiu que os Estados Unidos sempre darão prioridade à segurança de
Israel, ao mesmo tempo que apelava à calma. A visita serviu ainda de
empurrão para Israel se envolver mais no apoio militar a Kiev.
Netanyahu
reconheceu aos microfones da CNN que considera a guerra na Ucrânia como "de importância monumental", mas acrescentou "temos de lidar com as
nossas próprias traseiras", referindo-se às ameaças do Irão, um aliado
da Rússia.
Kremlin ameaça
Moscovo não gostou do que ouviu esta quarta-feira e deixou avisos.
"Quanto ao envio de armas [para a Ucrânia], não classificamos os países de acordo com a geografia. Afirmamos que todos os países que entreguem armas devem compreender que as consideramos como alvos legítimos para as forças armadas russas", afirmou Maria Zakharova, porta-voz do Ministério russo dos Negócios Estrangeiros, quando questionada por jornalistas.
"Toda a tentativa – concretizada ou mesmo não realizada mas anunciada – de fornecer armamentos suplementares, novos ou outros, termina e vai terminar numa escalada desta crise. O mundo inteiro deve percebe-lo", referiu ainda Zakharova.
Nos últimos dias, vários países ocidentais expressaram a sua intenção de enviar para a Ucrânia remessas de tanques e blindados ligeiros e pesados, nomeadamente o Reino Unido com os seus Challenger, e a Alemanha, com os Leopard 2, que se espera venham a fazer pender a balança do conflito a favor da Ucrânia.