Está oficializada a primeira baixa política na sequência do escândalo Panama Papers. O primeiro-ministro da Islândia, Sigmundur Davíd Gunnlaugsson, demitiu-se depois de já ter pedido a dissolução do Parlamento ao Presidente islandês. Os documentos da Mossack Fonseca revelaram que a mulher do primeiro-ministro é dona de uma empresa offshore, que é credora de bancos que foram nacionalizados na sequência da crise de 2008.
A saída de Gunnlaugsson concretiza-se depois de milhares de pessoas terem exigido a demissão do governante. Os protestos começaram horas depois de o público ter tido conhecimento da investigação Panama Papers.
Reportagem de Ana Cardoso Fonseca e Rui Magalhães - RTP
Os documentos revelam que o primeiro-ministro e a sua esposa foram proprietários de uma empresa offshore que terá sido utilizada para esconder milhões de dólares. Os documentos revelam ainda um potencial conflito de interesses: a empresa em causa era credora de alguns dos bancos nacionalizados em 2013
A empresa, denominada Wintris, era propriedade de Gunnlaugsson e da esposa até ao dia 31 de dezembro de 2009. Na altura, Gunnlaugsson cedeu a sua parte à esposa pelo preço simbólico de um euro. O atual chefe de Governo não tornou pública a existência desta empresa nas suas declarações de património entregues quando foi eleito deputado (2009) e primeiro-ministro (2013).
A existência da Wintris foi apenas divulgada a 15 de março pela esposa do primeiro-ministro - uma revelação feita no Facebook, poucos dias depois de o primeiro-ministro ter sido questionado pelo consórcio responsável pela investigação.
Demite-se após pedir dissolução
Antes de ser anunciada a demissão do chefe do Governo islandês, o próprio primeiro-ministro tinha já pedido ao Presidente da República a dissolução do Parlamento. No entanto, o chefe de Estado, Ólafur Ragnar Grímsson, referiu que pretendia ouvir os partidos antes de tomar qualquer decisão.
No regresso apressado de uma visita de caráter privado aos Estados Unidos, Ólafur Ragnar Grímsson tinha explicado que pretendia consultar, desde logo, o Partido da Independência, aliado do atual chefe do Governo e do seu Partido do Progresso.
“Recusei-me a assinar uma declaração tendo em vista dissolver o Parlamento e fiz saber ao primeiro-ministro que não poderia consentir antes de me reunir com os responsáveis de outros partidos para conhecer as suas posições”, declarou o Presidente numa intervenção televisiva.