Primeira mulher presidente do México. Uma "dama de gelo" especializada em alterações climáticas

por Cristina Santos - RTP
Alexandre Meneghini - Reuters

Claudia Sheinbaum obteve uma vitória esmagadora para se tornar a primeira mulher presidente do México. Vai dirigir a segunda maior economia da América Latina. De acordo com os primeiros resultados, terá ganho com cerca de 60 por cento dos votos (as projeções indicam entre 58,3 e 60,7 por cento) sobre a adversária.

O impacto da eleição da primeira mulher para a Presidência do México é resumido pelas palavras de Edelmira Montiel, de 87 anos, que vive no mais pequeno Estado mexicano, localizado no centro do país.  “Nunca imaginei que um dia votaria numa mulher (…), antes não podíamos nem votar, quando pudemos era para votar em quem o seu marido lhe dizia para votar. Graças a Deus que isso mudou e que eu posso assistir e viver esta mudança”, acrescentou Montiel. 

Nas primeiras declarações que fez, após a adversária reconhecer a derrota, Claudia Sheinbaum escreveu no perfil de Instagram que esta vitória “é o triunfo do povo mexicano, da revolução pacífica das consciências” e também “é o reconhecimento do povo de que temos que continuar” o trabalho que tem sido feito. Palavras que apontam para o presidente cessante López Obrador, o mentor.

Quase 99 milhões de mexicanos foram chamados a votar e a escolha de uma mulher é vista como um passo importante para o México, conhecido pela cultura machista e por ter a segunda maior percentagem de católicos no mundo, o que fortaleceu, durante décadas, valores e os papéis mais tradicionais para as mulheres.
A vencedora das presidenciais, apoiada pelo atual presidente, herda o projeto de Andrés Manuel Lopez Obrador, cuja popularidade entre os mais desfavorecidos ajudou a impulsionar a vitória de Sheinbaum.“Comprometo-me a dar a minha alma, a minha vida e o melhor de mim para o bem-estar do povo mexicano. Este é o momento das mulheres transformadoras. Garanto a todas as mulheres, companheiras, amigas, irmãs, filhas e mães: Não estão sós”.

Claudia Sheinbaum tem um caminho complicado pela frente porque prometeu investir nas condições de vida e de bem-estar dos mexicanos, mas herda um défice orçamental elevado e um baixo crescimento económico. Após a divulgação dos primeiros resultados, a presidente eleita garantiu que vai ser fiscalmente responsável e respeitar a autonomia do banco central do México.

Quanto à insegurança pouco revelou sobre a estratégia que vai seguir para combater a criminalidade. Sendo exemplo dessa insegurança o facto de estas eleições terem sido as mais violentas da história moderna do México, com 38 candidatos assassinados. Muitos analistas dizem que o crime organizado cresceu e conquistou mais influência durante o mandato do presidente cessante.
Quem é Claudia?
Cientista, investigadora nas áreas da energia, meio ambiente e desenvolvimento sustentável, Sheinbaum fez parte do Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática da ONU (IPCC) que ganhou um Prémio Nobel da Paz em 2007. Ela esteve à frente da câmara da Cidade do México, tendo sido também secretária para o Clima durante o Governo de López Obrador, na autarquia da capital do país. 

Durante a campanha eleitoral, a adversária Xochitl Galvez, de centro-direita, apelidou-a de “dama de gelo”, uma vez que durante os três debates entre ambas, Claudia Sheinbaum nunca chamou a principal adversária pelo nome. “Você não tem o carisma de López Obrador, é fria, sem coração, é uma dama de gelo”, disse Gálvez.

Numa breve pesquisa ao passado da nova presidente, descobrimos que os avós chegaram ao México vindos da Bulgária e Lituânia, em fuga da II Guerra Mundial. Com convicções de esquerda, a jovem de ascendência judia integrou o Conselho Estudantil Universitário que travou a tentativa de privatização da universidade pública. 

Quem conhece Claudia Sheinbaum diz que ela é discreta e que herdou da mãe as convicções políticas. A mãe, Annie Pardo, bióloga, foi expulsa como professora universitária por denunciar o massacre de estudantes de 1968 na praça Tlatelolco.

Como autarca da Cidade do México, passou por vários desafios, um deles o colapso de uma linha de metro, em 2021, que provocou 27 mortos e 80 feridos. Na altura, no meio de muita polémica sobre a responsabilidade da queda, ela defendeu a equipa e optou por negociar com a construtora da obra o valor das indemnizações e assim evitar julgamentos em tribunal.

"Governar é tomar decisões. Tem que se tomar a decisão e assumir as pressões que podem ocorrer", defendeu ela no documentário “Claudia”, de 2023.
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