É chinesa e vai a caminho da Lua, mais propriamente a face que o satélite natural terrestre nunca mostra à Terra. O lado “negro” da Lua. De nome Chang'e 4, a sonda chinesa que transporta um pequeno rover robótico saiu este sábado do centro chinês de lançamento de satélites, Xichang, eram 2h23 da hora chinesa (18h23 de sexta-feira em Lisboa).
De acordo com a Administração Espacial Nacional da China (CSNA), o Chang'e 4 realizará no início de janeiro a primeira alunagem da história no outro lado da Lua. A missão passa pela alunagem do transportador - que, logo após, libertará o rover -, plataforma que será o elo de comunicação entre o rover e um satélite já em órbita lunar.
Esquema da viagem da sonda Chang'e 4 que partiu da Terra a 8 de dezembro de 2018. Créditos: CSNA/DR
O lado "negro" da Lua também recebe luz solar
Existe a ideia generalizada que a Lua, estando sempre com a mesma face virada para a Terra, teria uma metade que não recebe a luz solar. Mas não é bem assim.
A Lua, muito embora tenha a sua rotação mais lenta e “invisível” aos olhos humanos, também a realiza, à semelhança de qualquer corpo espacial planetoide. Sempre que a a Lua se encontra em fase de Lua Nova isso significa que a luz solar está a iluminar a sua face escondida. Prova inequívoca deste facto são os eclipses solares em que a Lua se coloca entre o Sol e a Terra, cortando a luz proveniente daquela estrela.
Fases de um eclipse solar em que a Lua tapa a luz solar à Terra. Reuters/DR
O outro lado inexplorado da Lua
É do conhecimento geral que a Lua mostra sempre a mesma face ao nosso planeta. Um fenómeno astronómico que resulta do facto de o nosso satélite natural demorar o mesmo tempo de rotação face ao movimento de translação que realiza em volta da Terra.
Mas porque é que durante anos as agências espaciais não enviaram missões para a face negra da Lua? A resposta está na impossibilidade de comunicar com o nosso planeta devido à barreira natural que corta qualquer linha de vista entre emissor e recetor. Ora, esse problema foi resolvido pelos chineses enviando no passado mês de maio o satélite geoestacionário Queqiao, que servirá de “relay” entre sonda e rover e o controlo da missão na China.
Segundo a CSNA, a sonda vai alunar no início de janeiro na Cratera Von Kármán, um buraco com 186 quilómetros de extensão, localizado numa zona considerada como uma das maiores marcas físicas de impacto do sistema solar. Este local faz parte da bacia do Polo Sul - Aitken e abrange uma orla de borda a borda de 2.500 qulómetros.
Mas o que esperam os chineses encontrar no outro lado da Lua? A princípio, nada de especial, a não ser realizar um feito histórico e analisar se os compósitos e relogitos lunares são diferentes em comparação com a face exposta à Terra.
Região de alunagem da sonda Chang'e-4 na cratera Antoniadi. As setas brancas marcam as zonas secundárias de alunagem, a linha amarela a trajetória. A localização dessa área é indicada com a caixa branca . A imagem de base foi obtida pelo satélite lunar japonês Kaguya. Crédito: Jun Huang, e outros/DR
O Chang'e 4 leva a bordo oito instrumentos científicos: câmara de aterragem (LCAM), câmara de observação de solo (TCAM), espectrómetro de baixa frequência (LFS), bem como um medidor de neutrões (LND), fornecidos pela Alemanha.
Já o pequeno veículo robótico (rover) leva uma câmara panorâmica (PCAM), um radar lunar de alto ganho (LPR), um espectrómetro de imagens na banda visível e de infravermelho próximo (VNIS), mas também um pequeno analisador avançado para Neutrals (ASAN), uma contribuição da Suécia.
Este equipamento vai permitir que o Chang'e 4 caracterize o seu entorno com grande detalhe. Por exemplo, o LFS tomará dados sobre a composição da superfície, enquanto o LPR mostrará a estrutura em camadas do subsolo da lua.
Tal informação poderá ajudar os cientistas a melhor entender as diferenças entre os dois lados lunares. Por exemplo, grandes e escuras planícies basálticas cobrem muito do lado mais iluminado, mas são quase inexistentes no lado oposto.
Lua recebe sementes de tomates, couve e ovos de bicho-da-seda
Ainda não há vida humana permanente na Lua, mas esta vai pela primeira vez receber organismos biológicos vegetais e animais através da Chang’e 4.
Para além dos vários instrumentos científicos, a sonda leva a bordo um pequeno contentor com ovos de bicho-da-seda e sementes de tomate e plantas de Arabidopsis (família das couves e da mostarda). Elementos orgânicos que os pesquisadores vão manter debaixo de olho, já que a experiência permitirá saber como é que estes organismos vão comportar-se na superfície lunar.
Imagem de alta resolução da superfície lunar captada pelo rover Yutu, onde se pode ver o transportador e sonda de exploração lunar chinesa Chang'e 3. Créditos: CSNA/Xinhua/DR
Para já este é o mais recente passo na exploração espacial chinesa, mas Pequim quer ir mais longe e colocar pessoas na Lua, muito embora ainda não exista uma data definida para esse projeto.
Depois do envio das primeiras missões não tripuladas à Lua (Chang'e 3 e Chang'e 5), está já em fase de construção uma nova estação espacial tripulada em órbita da Terra por volta de 2020.